O submundo natural do qualquer que seja você
Havia alguém na plataforma
Aquele personagem que sempre necessitava estar na estória
Como um manequim despercebido
No caminho de qualquer calçada infinita
Em rumo da morte diária - o suicídio dos ideais
E cada vez que volto pra esse lugar me sinto inútil mais uma vez
Com essas pessoas lamentáveis, com suas vidas falsas e pobres pretensões
Eu era um deles e não deveria ser
Eles me tratavam igual a todos
Eu era especial
Não era como esses corações nojentos
Estou me acostumando com essa vida odiosa
As vezes caio nessa ilusão
Mas não falho na minha verdade
Não recuo com os ataques das pessoas desgostosas
Mandei uma carta ao presidente
Me queixando dessa vida hostil e desaborosa
Todo esse circo era só uma abstenção da realidade
A realidade doía, não tinha nada a ver com esses sorrisos de gesso
Estava começando a me convencer de que eu era falho
Estava me corrompendo a essa festa de bobos da corte
Estava transformando tudo em drama
Estava a ponto de me tornar um escritor
- Minha nossa! - exclamei.
Esses escrotos não sabem o mal que fazem ao mundo
Aceitando essas migalhas entregues como troféus
Dos quais você DEVE se orgulhar, inclusive!
Todo esse proclamar de justiça
Deve-se à minha exímia habilidade de perceber o lixo
Uma nostálgica sensação
Saudosa e bem polida, para caber bem entre linhas que serão apreciadas pelos límpidos de alma e coração
Que em momentos aleatórios se encontram tomados por essa ânsia de amargura
Pra que possam se sentir humanos - meu deus, por uma vez! - e então tratarem a este autor especial, como se deve ser, a bem da verdade,
Como ousou ser
E receber os aplausos da platéia forjada de mentiras honestas
E recebê-los com essa cara apática,
Incurável, refletida da imensurável solidão de sentir
Com o adeus das sombras inventadas
Retorna ao momento em que se sentia inútil
Pois não era infeliz
Apenas mal usado, colocado na penumbra
Jogado às moscas da normalidade
Um invisível, recolhido em seus cadernos (de arte)
Como aquele manequim despercebido
Pertencendo a cena
Vendendo-a
Acreditando não a possuir
Se suicidando diariamente
Negando a morte pretendida