Os Errantes (3ª Ponte)
Esta nos conduziu ao império da ira, onde estavam aqueles que agiam com impulso violento sobre quem os ofendiam, feriam e os indignavam. Aqui a maioria são psicopatas, ditadores, lideres religiosos, nacionalistas, mercenários e até mesmo hereges.
Estes foram aqueles que no inicio os vi andando ao inverso. Aqui o sofrimento é duplicado, ao longe eu pude ver em várias partes deste lugar que mais parecia um deserto, largas escalas de chuvas formadas por chamas que caiam lentamente sem parar.
E ali estávamos nós, caminhando como eremitas naquele fogo escaldante, seguindo as pegadas daqueles que por ali passaram antes de nós, até chegar-mos à margem de um rio de cor sangüínea cujo haviam ossos humanos flutuando em seu leito.
Uma barca nos esperava, esta era conduzida por um minotáuro que nada falou durante a travessia. Havíamos então chegado a um vale com árvores de folha púrpuras, havia lá, uma multidão de almas e várias batiam constantemente suas cabeças nas árvores, se lamentando, outras possuíam pequenos objetos pontiagudos que com eles se auto-fragelavam superficialmente deixando cicatrizes por todo o corpo, o qual nunca sangrava, nem permitia profundas perfurações.
Também tinham aqueles que estavam sentados em atitude penosa, destes pude reconhecer alguns como: Basílio 2º, Calígula, Adolf Hitler e até mesmo Pilatos, que nem pareciam ser os que eram em vida de tão lastimável situação.
Hefesto, o deus do fogo estava lá, Observando atentamente aqueles condenados, chicoteando os que paravam de se maltratar. Quando notou nossa presença, se aproximou e olhando firme em meus olhos, disse: Noto bondade em tua face, por isso deixo-te passar pelo meu reino sem que sofras qualquer desafeição, siga por este labirinto de árvores até encontrar uma de cor diferente, então encontrarás a saída.
Agradeci ao Deus vulcano e partimos. Logo a diante vimos se aproximar outra multidão de condenados e por um deles fui reconhecido e agarrado. E como se me falhasse a memória, não o reconheci.
Este se dizia ser Alexandro, meu primo e companheiro de infância, mas como poderia lembrá-lo se ao menos lembro quem sou? E antes que eu tivesse a chance de descobrir algo, Azrael o afastou de mim e pediu que seguíssemos rapidamente, pois aquela alma era enganosa e traiçoeira.
Depois de alguns passos, presenciamos algo terrivelmente desumano e indescritível, algo arcano que eu nunca tinha visto antes, nem imaginava ver, tão comparável à tenebrosidade que mesmo Azrael tampou seus olhos e desviou-se do caminho.
Sem duvida, aquilo foi a pior coisa que vimos ou veremos em nossas vidas, tão repugnante e incompreensível que prefiro não relatar detalhes. Não tão longe dali, chamei a atenção do meu guia para o que eu havia visto em meio aquele labirinto arborizado.
Dois anjos conversavam com um condenado quando um deles o puxou pelo cabelo e saiu voando. Fiquei impressionado com tal atitude, mas Azrael me falou que mesmo no inferno, os anjos costumam fazer aparições, porém o que saiu voando não era um anjo e sim um demônio.
“Não se deixe enganar... Apenas os que se vestem de branco com asas de pégasos são anjos. Como aquele que ali ficou. O outro que saiu voando com asas de morcego e calda pontiaguda, era um demônio que provavelmente confiscou aquela pobre alma, para servir de alimento ao seu superior.” Disse Azrael.
No entanto, tanto eu quanto o meu guia estávamos curiosos para saber que fim levaria aquela estranha abdução, então desviamos de nossa via e seguimos aquele ser que levava consigo uma alma desesperada e aflita pelo o que poderia lhe acontecer.
Já nos encontrávamos afastados da floresta, quando chegamos ao território dos demônios alados, tão afastados que já não podíamos ver onde ela estava. Este que aqui chegamos, é um lugar inóspito e obscuro, onde há um lago borbulhante e gosmento de cor encarnada, onde habitava em sua margem, uma besta de quatro chifres e enormes garras.
Uma fera ruminante que mastigava novamente os alimentos já ingeridos que voltavam do estomago a boca. Estes eram as almas dos condenados que seus demônios voadores traziam para saciar sua inacabável fome.
A besta tinha uma aparência espantosa até mesmo para aqueles com o coração destemido. Observamos a carnificina quietamente para não ser-mos surpreendidos e depois de algum tempo voltamos ao labirinto arborizado.
No caminho perguntei ao meu guia: “Porque aquele anjo não impediu que aquela alma fosse levada por aquele demônio?” E ele me respondeu: “aqui, os demônios são mais poderosos, porém este não foi o motivo pelo qual aquele errante foi levado...
Os anjos vêm aqui para tentar livrar as almas de seus pecados e para isto terá que encontrar naqueles que ostentam, o sincero arrependimento, o que é muito raro por aqui, pois a grande maioria quase que unânime, de certa forma voltariam a praticar o que fizeram se tivessem outra oportunidade numa mesma situação, mesmo que agora neguem!”
De onde estávamos podíamos ver não muito distante, árvores de folhas amarelas. Ali, estaria à quarta ponte e eu mais do que nunca, ansiava cruzá-la. Segundo Aszrael, aquelas almas que pela enorme fera eram mastigadas, engolidas, expelidas e remastigadas. Jamais sofreriam uma segunda morte, aquilo era apenas mais um estágio do sofrimento.
Então perguntei: “Se elas foram tão cruéis ao ponto de merecerem tais punições, porque já não estão no inferno?” E ele respondeu-me: “O caminho até lá é limitado, para um individuo ter acesso direto ao inferno terá que cometer o suicídio ou fazer um pacto com o anjo Lúcifer.”
...Continua em: Os Errantes - 4ª Ponte.