A LOIRA MISTERIOSA
A loira do sobrado da esquina acabara de completar trinta anos. Viúva — pela segunda vez — e sem filhos, ela chamava a atenção por sua beleza. Apesar de gentil, Margarida evitava conversar com os vizinhos, aguçando a curiosidade de todos a respeito das mortes prematuras de seus maridos.
Raramente recebia visitas. No entanto, durante a madrugada, um estranho movimento agitava sua casa. Na sala de jantar, à luz de velas, ela servia licor em três cálices. Quem se atrevesse a espiar pela janela veria Margarida entusiasmada falando sozinha. Se o observador fosse atento perceberia a bebida dos outros dois cálices desaparecer como por encanto. E a mulher, às gargalhadas, preenchia as pequenas taças com novas doses.
Naquela noite, Nestor, o vizinho da frente, decidira vigiar a casa da loira. O homem escondeu-se no jardim e procurou o melhor ângulo para acompanhar o que se passava na sala. Mais uma vez, lá estava Margarida, sentada à cabeceira da mesa, bebendo licor com os acompanhantes que só ela via.
O vizinho curioso, agachado atrás da folhagem, observou a mulher erguer um brinde:
— Tim-tim! Nem a morte pode me separar dos meus dois amores.
Nestor concluiu que a bela mulher era louca. Ao levantar-se para ir embora, um longo arrepio percorreu suas costas. Sentiu alguém tocar seu ombro. Arregalou os olhos, e virou-se lentamente: não havia ninguém atrás dele. Ainda trêmulo, deu um longo suspiro. No instante em que abria o portão, Nestor ouviu a voz de um homem:
— Entre. Margarida precisa de uma companhia em carne e osso.
Desta vez o susto fora fatal. O coração de Nestor não resistiu. Diante do corpo inerte, a segunda voz masculina disparou:
— Ih! Agora a vizinhança não vai mais parar de falar da Margarida.
(*) IMAGEM: Google / Foto Aslan Weissman
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