Os Errantes
Abri os olhos e me vi na escuridão...
Aos poucos pude enxergar o lugar onde eu estava. Era vago e silencioso, não haviam gramas nem árvores, não haviam aves nem céu. A sombriedade era permanente, um cheiro forte de enxofre assolava todo o ambiente, mal se podia respirar. Uma fina neblina pairava sobre o ar e consigo trazia o frio, porém o chão parecia estar quente.
Não havia nada ali além de mim, nada que se movesse. Me senti perdido e angustiado, mas caminhava em uma direção como se soubesse para onde estava indo e conforme eu andava, mais pessoas eu via chegando através do horizonte avermelhado, que assim como eu, pareciam desoladas e comovidas.
Percebi que ninguém se comunicava, inclusive eu. Parecíamos não ter nada à dizer, apesar de toda essa duvida em relação de onde estávamos. Logo, vi algumas pessoas se afundando em areias movediças e outras com seus corpos ressecando até virar pó. As demais caminhavam sossegadamente ao seu destino, até que algumas foram parando e permaneceram imóveis como estátuas, um pequeno grupo onde a maioria eram mulheres, se fixaram no chão como se enraizassem, porém para aqueles que nada acontecia tudo parecia normal. Haviam aqueles que cansados, se deitavam e dormiam, outros andavam ao inverso e poucos se contorciam à ponto de não poderem sair do lugar.
Seguimos nós, os que nada sofremos, em sentido a um jazigo onde nele havia escrito “Purgatório” e em seu epitáfio estavam coincidentemente os nomes de todos nós que ali havíamos chegado. Foi então que me dei conta de que havia me extraviado da vida carnal.
Sobre o jazigo havia uma loba cujo seus olhos haviam sido arrancados, sua pele com pouco pelo e magra, parecia estar queimada. Enraivecida pela fome ela rosnava ameaçadoramente arreganhando seus dentes envolvidos por uma baba sangrenta, como se há muito tempo estivesse esperando por nós.
Foi a partir daí que eu conheci “Azrael” o meu guia. Ele me contou que a loba sentia uma fome compulsiva, que quanto mais comia, mais sentia fome e que para o meu próprio bem, eu deveria segui-lo ou se preferisse, eu ficasse e esperasse que a solitária loba me mostrasse seus dotes naturais.
Então notei que cada uma daquelas pessoas também tinha um guia em sua companhia e separadamente seguimos cada qual em uma direção. Azrael me falou que para sairmos deste lugar deveríamos atravessar sete pontes cujo à cada travessia nos defrontaríamos com aqueles que por toda a eternidade ficarão em seus devidos lugares.
São essas as almas condenadas a viver no inferno separadamente em sete escalões, castigadas conforme seus atos em vida. Por não está entre elas, eu talvez tenha a chance de superar os devidos sacrifícios e sair ileso deste lugar de tormentos e desolação, porém a minha jornada convém de ser lenta afim de que meus sentidos se habituem à fétida exalação do pecado, para que não me preocupe depois, caso eu não encontre a saída deste lugar.
No entanto terei de atravessar toda esta via em busca das respostas certas que justifiquem a minha estadia aqui, ou seja, terei simplesmente que me lembrar quem sou e porque vim parar aqui. Além do mais, corro o risco de me perder no caminho, possivelmente ao cruzar uma das pontes posso nela encontrar um pecado sentencioso cujo em vida eu tenha praticado demasiadamente e nele vigorar a minha condenação, porque aqui, cada pecado se vira contra o pecador.
...Continua em: Os Errantes - 1ª Ponte