O SOLUÇO DO SONHO

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O SOLUÇO DO SONHO

E por um segundo os mortos pediram a vida, e da terra brotou sangue e das árvores colheram pedras, por um minuto as crianças pediram leite, mas as vacas não pariram sob os espinheiros. E de tudo isto caíram as lágrimas, e o terror dos risos e o arrepio correu no corpo putrefativo diante do soluço. Em mim chorou algo, na garganta um nó. Tudo é frio num rio sem correntes e de fartos prantos. Um corpo sem manto, um seio sem boca e um dente sem nervo. As ruas, que são as ruas com seus imóveis a venda? Na Eurásia falam mandarim e meia noite a lua volta, de cão pra trás. Chega a madrugada e no elixir dos sonhos o arsênico exala seu âmbar..Com o alforje de fantasias parti, gastei-os com pedras, serpentes e as areias do deserto. De cada grão, uma curva, de cada presa uma gota de veneno. Sugado junto ao meu verso, Voltei como saci perére branco, sem alforje, sem lagrimas e sem métrica. Quem seria eu? Se não fosse o ades. Morto e maltrapilho pelas ruas de Paris. Os dois estavam no povoado, fumaram cigarros patchouli, escandalizaram os velhinhos, partiram rumo a montanha, perderam-se, pularam cercas e algumas ate caíram, atravessaram o rio imundo, o temporal se aproximava pediram informação ao lenhador, esqueceram o patchouli num mourão da casa de uma loura. Trilhas diversas correram de um rinoceronte e de cavalos de cristas longas, perdeu a carona de um caminhoneiro chamado destino.