MISTÉRIO PARA GALINHAS

Tem coisa que eu conto e ninguém acredita.

Quando eu era garoto, pelo menos uma vez por semana, corria uma frase na boca da molecada do bairro:

_____ "Seu" Moriz... " vai matar uma galinha.

Era um deleite.

Corríamos todos em bando para a casa do bondoso e engraçado japonês "Moriz...".

Hoje acho que ele próprio mandava anunciar que mataria uma galinha.

Queria platéia.

Chegávamos à sua casa e lá estava ele, de máscara no rosto e um revólver na mão.

Tal qual o "Zorro".

Apenas com a diferença que era uma arma pequena, uma mauser de bolso.

Ele se colocava ereto com a criançada aglomerada atrás, e saia a caça de uma boa galinha no quintal.

De preferência aquela que não botava um ovo há dias.

Quando escolhia a vitima, digo, a caça, andava bem devagar, gurizada atrás dele. Estancava e dizia baixinho: "Codemô! Abunai! Perigoso! Fiquem atrás de mim".

Então colocava a língua pra fora da boca, fechava um olho e fazia mira.

E quando a língua começava a recurvar-se no lábio ao lado da face, todos sabiam que era o momento em que iria atirar.

"Bang".

Voavam algumas penas, a galinha tinha uns estremeliques e tombava morta.

Triunfante, ele entregava à sua esposa, todo orgulhoso, o produto da caça.

Eu só não entendia a razão da máscara.

Quando perguntei o motivo, pareceu espantado com aquilo que para ele, criador de galinhas no quintal, (portanto, suas amigas no dia-a-dia), parecia o óbvio:

______ Eu não quero que elas saibam quem é o assassino...

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Obrigado pela leitura.

Sajob, maio / 2014