Um pesadelo bem real
 
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Para alguém que passou a vida ouvindo a avó, as tias e a mãe comentarem os sonhos uma das outras e afirmarem sempre que eles têm significados diversos, que muitos são desejos e outros são premonições, era natural o hábito de contar também seus sonhos para as filhas, o marido, as colegas de trabalho e tentar interpretar o que diziam.
Serafina sempre tinha um sonho para contar, mas, naquela noite o sonho teve “cara” de pesadelo. Se via chegando em casa depois de mais um dia de trabalho exaustivo gerenciando um ateliê de costura e, mal abria a porta, um casal de porcos saia em disparada de sua bela sala de estar!
No sonho (pesadelo, no caso) ficava desesperada, perguntando a todos quem poderia ter deixado àqueles bichos nojentos emporcalharem seu piso branco e bem cuidado, derrubar sua delicada coleção de bichinhos de porcelana espalhada nos vários móveis, esbarrar e sujar vários objetos da sala, estragar sua casa.
Acordou assustada e inquieta. O que significava aquilo? Lembrou-se de sua avó ensinando as netas e netos: “- Agradeçam sempre e peçam proteção a seu Anjo da Guarda. Se algo de ruim for acontecer é certo que ele avisa.”
Sua avó fora uma sábia mulher e não havia razões para duvidar de sua crença. Rezou para o anjo e também para se acalmar. No café da manhã contou o pesadelo a Orlando “seu velho”, que apenas ouviu, não comentando com pilhérias, como era de costume quando lhe contava seus sonhos bons ou pesadelos.
Nos dias que se seguiram, contou para as colegas de trabalho, que riram dos detalhes e mais ainda quando falou do mau cheiro de lama que parecia ter ficado em seu nariz, após o sonho. Ligou para a filha mais velha, uma ajuizada advogada, e ouviu um “Ora Mãe, deixa de besteira” e da mais nova, uma séria jornalista, ouviu um “Mãe, trata de sonhar com os nºs da Mega Sena ou então para de acreditar que sonho tem alguma importância!”
Não tocou mais no assunto mas não conseguiu se livrar da sensação ruim cada vez que lembrava o pesadelo.Sentia na pele que algo estava para acontecer... Dias depois chegou em casa e descobriu que seu marido sempre ditando regras de moral, o “seu velho”,  chafurdava na lama da pouca vergonha com uma ex-namorada, uma "zinha" que  posava de amiga e aparentava uma seriedade que estava longe de ter.