MMA da Gramática

Tem gente mais xiita que os gramáticos?

Pois é... Astrogildo e Aristarco. Caras mais que normais e, cá pra nós, com nomes desses não se espera que sejam cantores ou astro de Hollywood. Os dois trabalham numa faculdade de letras e são o centro das atenções. Não porque são bonitos ou algum superstar de lá. Não verdade vivem brigando o tempo todo e, por isso, a fama dos dois. Um não concorda em nada com outro em termos de gramática. Sequer há concesso em apenas uma vírgula. Seguem correntes diversas. A gramática é assim: eclética e democrática. Permite-se mil e uma versão, teorias e doutrinas, dá a quem sustentar uma delas, vencer, o gostinho da vitória.

Porém esses caras não deixavam o embate apenas no campo doutrinário. A coisa ia além, as discussões eram mesmo fervorosas, por muitas vezes não chegaram às vias de fato por conta da turma do deixa disso. O fato é que se odiavam e por isso trabalhavam em turnos distintos, pois se ocorresse de se encontrarem no café, na cantina, logo já se poriam em estado de guerra.

Cabe ressaltar que os tipinhos não lembram em nada os lutadores de MMA. Acho até que o mais inspirado caricaturista não teria essa criatividade de desenhar uma caricatura de lutadores com uma aparência daquelas. Enfim, ambos eram esqueléticos, cabelinho dividido pro lado, óculos fundo de garrafa. Porém, dentro de suas áreas, eram leões famintos e ferozes, pertenciam à elite de soldados dos melhores exércitos. Os caras, em matéria de gramática, eram gigantes. Não deixavam passar sequer a ausência do pingo sobre o “ i”. É... o bagulho era doido...

Bom... Como em qualquer boa feijoada não pode faltar o cominho, assim também os intrigueiros de plantões não deixavam de estar ausentes nesse pagode. As pessoas adoravam botar pilha na situação, e a pressão começava subir entre os dois em meio às intrigas. Então, se a animosidade entre os dois já era grande com o fermento o ódio espumou.

Até que um determinado momento, em dia de pagamento, os dois se encontraram na tesouraria da faculdade. Aí a coisa não prestou...

- Escuta aqui, biltre! Quer dizer que o senhor está a espalhar leviandade sobre a minha integridade moral. Disse Astrogildo, exaltadíssimo, a Aristarco.

- O senhor catapultou o pouco de sanidade que lhe restava. O Biltre, leviano, pusilânime do enredo aqui é o senhor e, além disso, um inepto, pois não tem embasamento doutrinário suficiente para me criticar. Respondeu o outro já com ódio espumando pelo canto da boca.

- O inepto é vossa progenitora cuja vida deveria ser fácil, pois bem se vê, pela sua formação, que os princípios que norteiam a boa formação moral e ética passaram ao largo de ti. Falou, Astrogildo, já se preparando para briga, que nesse momento parecia inevitável.

- Não... Agora, não... Tu tiveste a ousadia de colocar a minha imaculada matriarca nessa história vil,. Pois tu sentirás o peso do meu forte bíceps.

Aí o tumulto estava armado. A pancadaria desceu forte. Socos, pontapés, tapas, até que se esmurram-se num só tempo, caindo um sobre outro.

Nesta oportunidade, acorreram os guardas da segurança ao local e ao se depararem com a cena, os dois ali desfalecidos. Perguntaram ao “office boy”, que a princípio tinha visto tudo que ocorrera, o que havia acontecido. Disse, então o boy:

-Pra mim, esses caras aí “são panqueca” da ideia. Eles começaram a falá uma língua estrangera, um estranhô o outro, os dois foram esquentando, aí aquele ali, ó , que fala brasileiro também, pôs a santa imaculada no meio... Levô uma bofetada e ficô doido: enfiô braço nas funciolas do outro. Dai rolô pelo chão e deu nisso aí.

Para a sorte do nosso amigo boy, dois gramáticos brigões continuavam desacordados.

(Fábio Omena)