Prêmio de Literatura Unifor- edição de 2013
Conto agraciado no Prêmio de Literatura Unifor- edição de 2013
OS ENCANTOS DE DONA ORLANDA
Há males que vêm para o bem. Todos nós já ouvimos essa sentença ser dita desde tempos imemoriais. E há muita verdade nisto, com toda a certeza. Que o diga dona Orlanda, cujo marido fora morto por engano numa emboscada que não era para ele. No dia de seu assassínio, estava na companhia do verdadeiro homem que deveria receber a sentença de morte.
O marido de dona Orlanda era um bom homem, de poucos cobres, ingênuo e seguia atrás de qualquer um que lhe pagasse uma bebida. E foi isso que o levou à desgraça, deixando viúva a bela e jovem esposa, à mercê de pretendentes inescrupulosos, como o coronel Affonso, que era o próprio mandante do crime, que se dizendo comovido com a viuvez de dona Orlanda e ao mesmo tempo sentindo-se também responsável pelo erro do pistoleiro, acolheu-a em sua fazenda, sob o pretexto de que era amigo do falecido e infeliz marido da bela, chorosa e desamparada viúva. O coronel atrevido, obsedado pela voluptuosa beleza de dona Orlanda, fê-la sua esposa poucos meses depois da morte do desgraçado.
Dona Orlanda, de uma vida simples, repleta de escassez e privações, tornou-se então a esposa do coronel Affonso, homem de muitas posses, latifundiário, pecuarista e dono de inúmeras propriedades. Enfim, um homem riquíssimo. O ditado acima nunca foi tão apropriado, tanto para dona Orlanda, quanto para o coronel Affonso, diga-se de passagem.
Mas não foi tão para o bem, como poderemos ver a seguir.
O coronel vendo na esposa o tino comercial, entregou-lhe a administração das fazendas e de todos os seus bens, se desvencilhando de inúmeras aporrinhações bancárias e contábeis. Dona Orlanda, superando as expectativas do coronel, saiu-se irrepreensível administradora, sanando todas as dívidas do coronel e revertendo muito lucro para os seus empreendimentos.
O coronel Affonso, porém, começou a definhar. Sua saúde não era mais como antes e em pouco tempo perdeu o movimento das pernas e prostrou-se definitivamente, enquanto dona Orlanda comandava a casa e tudo o mais. Ela o esqueceu em um quarto mal iluminado e insalubre, sem cuidados médicos. O coronel Affonso já via em seus delírios as asas do anjo da morte em seu umbral.
Um certo dia, vendo a proximidade do colapso iminente do coronel, dona Orlanda chegou bem perto do moribundo e confidenciou-lhe que sabia desde o início que tinha sido ele, o mandante do pistoleiro que tirou por engano a vida de seu amado marido. O coronel nos seus derradeiros suspiros ouviu também ela dizer que já o vinha envenenando desde o dia em que se casaram, mas o pássaro da morte já lhe enfiava as garras da fatalidade e já era tarde demais para pronunciar o que quer que fosse.