O Crédito
Tinha então por base uma garantia constituída sobre uma afável palavra repetida em todos os momentos da vida... Nunca houvera coisa mais sólida, quanto àquela que lhe fora prometida por milhares de dias, numa seqüência novelesca, desconhecendo seu próprio crédito que, a propósito de sua existência fundava tudo na fé e na certeza que sublima essa palavra... Amor! Quanto custa a arte de amar àqueles que realmente amam? Poderia explicar ao vento o delírio das folhas caídas no outono e ressequidas no verão disso tudo, que, pouco a pouco se dissipam pelo solo carente de ingredientes nutritivos à sua própria essência.
Vinha então por base o crédito que o tempo lhe propunha, quer nas ações, quer nas emoções ou na beleza de uma simples contemplação. Mas contemplação de quê? Se tudo leva a crer que o débito para com o caráter já esvaecido entorpecia toda e qualquer elegância, onde o escopo da forma tem por norma um quantitativo denominado soma de valores monetários.
- Há um banco na esquina e ele domina o numerário!
- Há um banco na praça e nele um gesto como lamento!
Contempla então o crédito que lhe resta, debruça sobre seu choro e contesta a sua própria sina. Dinheiro não compra felicidade, apenas momentos bons e passageiros, mas o amor à vida que a pobreza ensina muitas vezes traz grandes riquezas em proezas que nem se imagina.
Tinha então por base uma garantia constituída em seus pensamentos mirabolantes, tal grande e majestoso gigante entregando-se às carícias do momento e tão de leve, levemente beijava o firmamento. Todos correm à procura desses ingredientes desvalidos pelas sombras das árvores que cederam seus troncos ao fabrico do papel.
- O crédito perfeito que se tem, ainda é o amor!
- Caráter não se sabe, ainda há corrupção! Débito que fere a dívida para com o valor moral!
- Vinha então por base o crédito que o tempo lhe propunha, a graça da juventude altiva e segura à procura da contemplação de virtudes incontáveis que por aí estão sem reconhecimento, nem merecimento de confiança da sociedade estigmatizada com o símbolo do cifrão. Todo mundo quer dinheiro... Todo mundo quer dinheiro! Mas poucos se lembram do caminho verdadeiro. Contemplo então, ali perto do banco da praça, nas mãos de um velhinho de cãs e compridas barbas brancas um cartão de natal. Ele olha, vê, mas não o lê, o atira sobre a grama. Apanha um saco, de não sei o quê e, sem débito nem crédito segue em frente em sua serena e plena decrepitude em direção ao meu mundo de sonhos. Foi assim que eu o vi e eu ouvi o Papai Noel me dizer: -O crédito é todo seu meu filho, a missão está cumprida, acredite!
Valdir Merege Rodrigues
Pinhalão - Paraná