A MOÇA QUE VIROU UMA CACHORRA
A menina era linda, bem-educada, filha única de coronel, por isso, muito mimada. Criava desde novinha, com todo o carinho do mundo, uma cachorrinha de estimação, que cuidava como se fosse uma filha.
Aconteceu que no mesmo dia em que o padre Cícero Romão morreu, a cachorra também adoeceu, assim duma hora pra outra, e também morreu, a bichinha. A menina, muito mimada, ficou muito triste, acabrunhada e chorosa. Inconsolável, preparou para a cachorrinha um velório com vela, sentinela e tudo o mais.
Alguns dias depois, vestida de luto por causa da cachorrinha, viu uma mulherzinha pobre comprando um tecido preto, para mandar fazer um vestido de luto pela morte do padre Cícero Romão. Ao ver que aquela mulher era devota do padre Cícero, a menina mimada riu e gargalhou na frente de todos. Altiva, disse para a pobre mulher que era melhor que ela pusesse luto para a sua cachorrinha.
Dizem que naquele momento o vento parou de soprar e um silêncio perturbador se abateu sobre o lugar. O sino da igreja chorou sete vezes, um dobrado triste. No mesmo instante, a menina mimada começou a se transformar em uma cachorra preta, latindo, rosnando e uivando e saiu correndo em disparada. O pobre do pai dela morreu de desgosto. Uma mulher caridosa conseguiu pegar a cadela, trancando-a numa jaula, onde a miserável menina viveu sua maldição.
Lá em Juazeiro do Norte, quando é dia do aniversário de morte do padre Cícero Romão, os cachorros ficam uivando a noite inteira uma cantilena triste e assustadora. O povo fecha as portas e pinta uma cruz na entrada. Nas estradas, o viajante incauto, pode dar de cara com uma cachorra preta, rosnando e correndo em disparada.