Vou fugir da coisa.


        - Uma hora eu escapo! Você vai ver.
        - Escapa nada, sou mais forte que você.
        - Forte? Forte... Você não é forte nada, se entrega a qualquer coisa.
        - Não me entrego a coisas, que idéia é essa? Me entrego a pessoas, ideais, sonhos, não a coisas. Você nem sabe o que são coisas.
        - Coisas é tudo aquilo que leva o nada ao lugar algum. Ou que de tão insignificante que são, não merecem nome: são coisas.
        - E por que tudo tem que ter propósito, significado, êxito, ou ser mensurável?
        - Porque se não, fica igual a cachorro correndo atrás do rabo, só levanta poeira e deixa rastro; mais nada acontece ou fica.
        - E quando você escapar, como será?
        - No começo, rápida vou andar, nem vou olhar para trás, vou fixar um ponto no horizonte e nessa direção correr sem cessar.
        - E quando lá chegar?
        - Sento, descanso e tomo um gole de vida.
        - E o que terá nesse gole?
        - Não sei ao certo...
        - Qualquer coisa, talvez?
        - Não me venha com essa, você está me manipulando.
        - Estou não, você ainda não sabe o que quer. Não sou eu que sou forte, é sua vontade que ainda está fraca. Pare de tentar fugir, eu nem tenho tentado segurá-la, você é que não sabe para onde ir.
        - Você é uma coisa!
        - Sim; sou; sou a sua coisa, estou contigo e não abro. Eu não vou embora; mas se você um dia for, eu posso ficar, basta que você me esqueça, consegue?
        - Eu ainda vou tentar.
        - Quando?
        - Ah não sei, que coisa!

Eliana de Freitas
Enviado por Eliana de Freitas em 30/04/2007
Reeditado em 12/05/2009
Código do texto: T469806
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