O maníaco do celular
A tarde estava ensolarada e as ruas do centro histórico da cidade Alegre repletas de pessoas, num vai e vem estonteante. Ele caminhava dobrando cada esquina, atento, observando os transeuntes nos diversos locais. Uns caminhavam apressados, outros de vagar olhando para o chão, muitos conversavam com seu par, em voz alta. Havia fila para o cinema, para os bancos e para os restaurantes, ele resolveu desistir de tudo. Entrou em uma livraria, observou muita gente falando ao celular, parecia falarem sozinhos, aquele zumzum o incomodava, para análise das obras expostas. Depois de algum tempo, comprou o livro escolhido. Com o pacote na mão, caminhou de vagar, passeando e observando a rua. Avistou uma elegante cafeteria. Entrou. Solicitou uma taça de café e abriu o pacote, pensando fazer uma primeira leitura – dinâmica. Naquele momento, chegou um amigo de longa data que lhe fez companhia. Comentou sobre seu passeio e a compra do livro raro. Começou o bate papo com novidades de ambos os lados. Assunto havia de sobra. Os amigos conversavam saboreando o excelente café. O telefone interrompeu a prosa, mas o apreciador de livros transferiu a comunicação para mais tarde e desligou seu telefone. O centro da prosa passou a ser as operadoras da telefonia celular, incluindo a precariedade das antenas, danos à saúde e as conhecidas reclamações dos usuários. A conversa durou uns trinta minutos e o telefone do antigo amigo não deu trégua. Era uma chamada sem intervalo da outra e o amigo atendia a todas. O leitor começou a olhar seu livro, perdeu o encantamento do encontro e, sem demora, despediu-se. Saiu pensado ‘ parece a lei da atração, falamos tanto na telefonia que o celular passou a perturbar-nos.’ Resolveu retornar à casa sozinho, caminhando fora do movimento, por onde transitavam poucas pessoas. Porém continuou ouvindo conversa de homens e mulheres falando sozinhas. Que loucura! Vou me escapar dessa gente. Trocou de itinerário. O susto foi traumatizante, percebeu que um homem ainda jovem seguia seus passos, falando muito alto e gesticulando. Olhou, o moço alto de terno preto, não tinha nada nas mãos e ninguém por perto. Pensou: será alguma alma do outro mundo? Será um assalto? Trêmulo, com medo, atravessou a rua. O jovem o seguiu depressa e emparelhou com ele, que o encarou.
— Qual é o problema moço, o que o incomoda?— Nada seu bobo. É o celular.
— Como celular?
— Estou conversando com a minha namorada.
— Onde está o celular?
— Ficou na casa dela. Entendeu? ? ?
Sufocado, com o coração apertado, entrou na primeira porta aberta. Respirou fundo e falou:
— Livrei-me do maníaco!