A Criatura

Em uma manhã chuvosa ouviam-se novamente os seus gritos. Laura estava tendo outro ataque de fúria, mas sua tia Maria já tinha perdido todas as estribeiras e mesmo com os olhos cheios de lágrimas foi obrigada a chamar uma ambulância. Os trabalhadores fardados de branco logo chegaram e viram que aquele casarão era luxuoso.

-Onde está a jovem? -perguntou um deles

-Está no quarto. –disse Maria

Eles entraram no quarto. Ouviam-se mais gritos de uma voz solta, uma voz rouca, uma voz louca.

Voltaram do quarto com Laura trajada em uma camisa de força, os rapazes tinham pequenos cortes nos braços, mas com olhares impiedosos levaram a jovem. A tia, nostálgica, informou que a jovem era órfã e então disse um até logo.

O hospital era antigo e esfarrapado. Laura exclamava a palavra fome, mesmo assim foi logo mandada para o Dr.Parvel, ele examinou Laura e a mandou para o refeitório. Uma enfermeira alimentou a moça, mas depois, a frágil moça continuou a gritar sua fome.

A instituição recebeu novos enfermeiros, inclusive a Suzana, que se apiedava dos internos e não era indiferente com ninguém.

Passaram-se os dias, Laura era sempre alimentada, mas declamava fome, seu corpo, já estava definhando, continuava a quebrar coisas, machucar outros internos e até a si própria. Pelos corredores ouvia-se uma voz solta, uma voz rouca, uma voz louca. Chamava seu psiquiatra de diabo branco, enfermeiros de mensageiros do diabo e seu dormitório de porta dos infernos, por isso foi diversas vezes para o eletrochoque e para duchas gélidas.

Em um dia de sol Laura foi novamente mandada para a ducha. Subnutrida, cansada e com tuberculose ela urrava de dor. Depois do procedimento foi levada para fora. Pela primeira vez encontrou-se com Suzana, assim seu corpo facilmente despencou nos braços da enfermeira. Suzana a abraçou fraternalmente ela e a paciente deixaram as lágrimas saírem como últimos suspiros de uma alma sem salvação.

-Eu te entendo, minha querida, eu te entendo... –disse Suzana

Então, naquele corredor aquela fome foi saciada, a voz solta, rouca, louca calou-se e seu corpo simplesmente faleceu.

Matheus Andrade de Moraes
Enviado por Matheus Andrade de Moraes em 14/02/2014
Reeditado em 29/09/2015
Código do texto: T4691558
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