Viagens Insólitas
Papai, nunca foi um homem rico, porém trabalhador. Mamãe, sempre foi inesperada, mulher brejeira, de poucos recursos escolares. Mas, eles tiveram algo incomum. A dedicação. Um retrato de pais amorosos. Tudo que desejei, eles tentaram proporcionar ao máximo.
No mundo a lugares lindos! Ambientes invejáveis de se conhecerem. Quando completei quinze anos, falei: “– quero conhecer o mundo.” Eles disseram: “– claro.” Então começou minha odisséia pelo planeta. As janelas das oportunidades se abrem conforme as estações do ano. É como flores que perfumam a primavera. Misturando aroma com sentimentos. É abrasador, feito o sol de verão aquecendo vontades, dissolvendo os icebergs do coração. É doce tal qual o inverno, trazendo o frio convidativo para o aconchego entre animais. Tão fugaz, abençoando frutos dos desejos de outono. Minha vida foi assim, uma grande viagem. Sem saber a direção tomar, poucas necessidades na mala. Viajei pelo mundo em busca de respostas.
A princípio viajava tão somente em meu estado de Goiás. Alguns lugares belos, outros maltratados pela ação do homem e do tempo. A cidade de Goiás Velho, berço de Cora Coralina, com seus versos simples e encantadores. Antiga Vila Boa, que fascina pelas formas arquitetônicas. Paraúna a cidades das pedras, igualmente o Rio de Janeiro, tem seu Cristo redentor de braços abertos, esperando todos para um forte abraço. Riquezas verdejantes como a Chapada dos Veadeiros, as cachoeiras do Salto de Corumbá, entre outras cidades inolvidáveis. Os anos foram passando, fui envelhecendo, as viagens foram ficando cada vez mais escassas, devido ao trabalho de meus pais, havia se passado quase cinco anos desde que comecei a viajar pelo meu estado, contudo eu queria mais, muito mais, queria ganhar o mundo!
O resultado dos desdobramentos feito por meus pais veio com as férias de Julho, mês que iniciei uma trajetória única de países e mistérios. Os museus históricos e clássicos da humanidade. As dunas dos desertos, as pirâmides do Egito, as urnas milenárias dos faraós, com seus deuses e suas mitologias: Cleópatra, Julio Cesar, Zeus, Afrodite Eros e Baco. Deuses, reis e lendas vivas! Uma saga as maravilhas de instantes mágicos. Inesquecíveis como: as noites Madrilenhas, o lago de Veneza, as luzes de Paris, as Pontes de Madison e o Coliseu.
Lembro das viagens. Os vôos marcantes, dos cruzeiros marítimos. A primeira viagem fora do Brasil foi algo inusitado, instigante, definido como impar! O frio na barriga, a emoção do avião subindo, subindo, ganhando as alturas! As nuvens do céu iguais bolas de algodão. Ali, tão perto de pegá-las e apenas uma questão de vidro a nos separar. Foi espetacular conhecer Roma, e tudo que a cerca, o Vaticano, e os ensinamentos do clero em papiros tão antigos quanto à existência do universo. Relatos divinos sobre a criação do mundo e do homem. Não sou uma pessoa religiosa, tenho minha fé e convicções. Mas, a estrutura do lugar de origens católicas. É tudo de bom! As ruas e os esconderijos. As cavernas que levam as grutas santificadas pelos pontífices. O mesmo sentimento foi passear por Jerusalém, terra natal do filho do Criador, a via sacra, foi como sentir o calvário do redentor, acentuado feito os caminhos de Santiago de Compostella. Passado essa euforia. O regresso a realidade da vida rotineira veio, após dois meses de turnê. As lembranças sempre martelavam na cabeça. Parecia ainda respirar aquele ar, cheio de fé, de prosperidade e amor.
Em se tratando de amor, tudo começou numa noite de total quietude. Aguardava, embora no escuro a presença de Morféu, deus do sono e dos sonhos, no entanto como se ouvisse a lua chegando com o vento quebrantando as folhas dos arvoredos percebe-se que era ele: “– o amor” que aproximou feito musica bonita, doce de se ouvir. Com palavras gostosas, era como que se aproximasse pertinho da orelha com bafo quente que te diz coisas inebriantes.
Para se ter amor, tem que se ter beleza ou tristeza? É como amar uma pessoa linda e questionar e daí? As pessoas lindas têm que se ter qualquer lance a mais além de Lindeza. Qualquer episódio de triste, qualquer fato de festa. Amor verdadeiro faz doer, faz a gente sorrir, faz agente chorar! Faz as pessoas feitas de saber como somos, apenas para amar, pelo seu amor, ou quem sabe pelo seu perdão. Foi então que conheci Paris a cidade de luz. Deslizar os olhos pela Torre Eiffel, abraçando os sonhos dos amantes. Que entre abraços e beijos ardentes juram eterna paixão. A viagem a França, durou mais que o esperado, três meses, talvez os meses mais memoráveis de uma fausta existência. O Regresso dessa excursão reforça uma teoria solidificada na alma, ninguém será de completo feliz amando uma única vez, a vida é uma, a morte é certa, para quem se vivi só uma vida é relevante dizer: “– Ame mais, por que o amor é um universo!”
Entre as estações do ano, a que atrai com maior valor é o verão. E foi num veraneio que a embarcação do cruzeiro marítimo partiu levando contentamento e deixando saudades. A viagem foi longa, cansativa, porém repleta de emoções. Cobria a água, como largo vestígio anil refletido pelo céu, ao desabrochar em longos e acesos relevinhos, parecendo o embalançar de ondas mansas, coisa verdadeiramente inexplicável. Era um enorme transatlântico com mais de dois mil passageiros. Dividido por classes sociais. Até hoje nunca entendi essas diferenças que separa os povos. Somos iguais, mas o cifrão faz um antropocentrismo em que cada um fica dentro do seu próprio centro. Contudo, a viagem em alguns momentos fora encantadora! Sentir as ondas do mar, assistir os golfinhos abrindo caminho entre as marés.
Alegria total! Todavia como nem tudo são flores, os espinhos ao mesmo tempo acompanharam. Aquele gigante colosso, como se fosse um barquinho de papel, tragado pelas águas salgadas. Entre mortos e feridos, regressei. Sem feridas no corpo, entretanto as marcas na alma ainda não cicatrizaram os fantasmas dos amores perdidos, dos filhos que sucumbiram e das mães que lamentaram suas perdas me cercam.
Por fim o trem de ferro. Apitando nas curvas, parando de estação em estação. Na ocasião tudo impressionava na Inglaterra, não deixei de investigar os pertences de Sherlock Holmes, no seu museu fictício na 221B, Baker Street. Terra também de Willian Shakespeare. É com saudades gotejantes nos olhos em lagrimas, que eu revivo cada viagem feita. Há tempos que meus pais faleceram, mas eu os admiro, por ter dado as oportunidades que tive: de voar livre pelo céu, de navegar solto, de correr os campos, de sentir o mundo, de viver emoções. De chorar, de sorrir, de ter medo, de ter coragem, de ser um viajante. Como Don Quixote, como Alice no País das Maravilhas, como Odisseu.
Hoje sentado enfrente a minha janela, olhando o sol no horizonte, respirando as rosas do meu vergel, percebo que sou do tamanho que sempre quis ser. Velejei os sete mares, subi os degraus da China, conheci lugares belos de todos os continentes. Mas nada se compara a minha terra querida, esse recanto abençoado pelo Senhor! Aqui os campos têm mais vida, as cores têm mais cor. As lagrimas derramam em bicas como as cachoeiras, quando vejo as riquezas do meu estado, às culturas de cada cidade, as vastas plantações de girassóis balançando ao vento numa dança orquestrada pelos pássaros magistrais. Inflo o peito de emoção e agradeço a Deus, as heranças que meus pais me deixaram: “– Uma pensão salarial por parte de papai.” E talvez a mais valiosa de todas: “– A arte da leitura pelo pouco conhecimento e muito sacrifício de mamãe a me ensinar a ler.” Apesar de parecer imperfeito aos olhos dos outros, para eles nunca fui. Tive sim a feliz, ou infeliz sorte de nascer com uma deficiência que me impossibilita de sair da cama, mas nem isso me fez desistir de viajar o mundo.
– Pois minha biblioteca, assim com meu estado de Goiás, está cheia de livros com lugares e culturas que ainda não conheci!