Outono Folk - Parte 3

As pessoas sorriam sinceramente quando Lary Davis passava por perto delas nos corredores da universidade. O jovem retribuía os sorrisos e às vezes parava e conversava com alguns grupos que o chamavam para lhe elogiar.

“Façam suas próprias obras. Todos aqui têm capacidade para compor belas canções”. Era o que ele sempre dizia.

Joseph e Alice estavam no pátio com outras três pessoas quando Lary parou para falar com eles.

- Quando sairmos da aula e formos à Praça dos Bosques, irei apresentar uma música minha – disse Joseph depois que os cinco saudaram Lary. – Além disso, estou te convidando para ir à minha casa durante a noite. Meus pais viajaram e vou dar uma festa.

- Bom saber, Joseph. Irei estar lá – disse Lary.

- Ouviremos uma nova canção sua? – Perguntou Alice; a face da garota abrigava um dos sorrisos mais belos que Lary já viu.

- Hoje não. Quero que os sentimentos estejam focados apenas na canção que Joseph irá cantar. Ainda temos o outono inteiro pela frente – respondeu ele.

- Verdade – concordou Alice. Desta vez, porém, Lary não conseguia ver aquela sinceridade constante que enriquecia o olhar da garota.

Quando ele despediu-se dos outros e deu as costas, ouviu alguém o chamando. Lary se virou e viu Alice caminhando a seu encontro; seus cabelos soltos e seu vestido cinzento esvoaçando ao vento daquela tarde nublada.

- Só queria te dizer, como eu já havia falado antes, - Alice parecia um pouco envergonhada. A maçã de seu rosto pálido estava levemente avermelhada. – Que tenho algumas canções e queria muito que você as escutasse.

- Hum... – Lary sorriu. – Amanhã é sábado e não teremos aula. Se você quiser ir à minha casa durante a tarde, irei ficar te esperando.

Alice sorriu e olhou para o chão.

- Está bem – disse ela.

A garota se virou e voltou para onde estavam seus amigos.

Enquanto Lary caminhava, sentia o peculiar e agradável ar de outono entrar em seus pulmões. Naquela hora o jovem conseguia apenas ter um pensamento:

Havia sido bom ter conhecido Alice.

Lary não quis cantar uma música sua naquele fim de tarde por que, em relação às músicas autorais, achava que seria o suficiente (Por enquanto) apenas uma por dia. Ele queria que fosse aos poucos a assimilação das músicas, pois acreditava que dessa forma as pessoas entrariam de forma mais pura e verdadeira na atmosfera que estava se formando. A apreciação seria mais íntegra, e quando chegasse o dia em que ocorreriam verdadeiros festivais na Praça dos Bosques, o sentimento seria único e explicitamente harmonioso.

No entanto, Lary conseguiu sentir uma prévia do que achava que iria sentir futuramente enquanto as pessoas chegavam á praça, sentavam-se no chão e observavam Joseph, sentado em um banco na frente deles, se preparando para cantar sua canção. Lary sentou-se junto com os outros e esperou.

- Esta música foi uma das primeiras que compus. Chama-se “Esperar Anoitecer”. – Disse Joseph antes de começar a cantar.

A música era composta apenas por duas notas: um Dó com nona e um Sol. Quando ele começou a cantar, Lary arrepiou-se: a voz de seu amigo variava graciosamente entre um tom grave e um agudo, além de apresentar falhas charmosas. Parecia que alguém bem mais velho estava cantando no lugar do rapaz magro sob sua jaqueta jeans escura.

“Quando chegar o fim do dia

Sentiremos que ainda há de vir

Um pouco mais de solidão

Enquanto as nuvens cobrem o céu

Amanhã a neve irá cair

Poderemos apenas imaginar

Quando estivermos perto de desistir

Esteja perto de mim

Me dê a sua mão

Vamos esperar o anoitecer

E imaginar o amanhã

Vamos esperar anoitecer”

Verdadeiramente admirado, Lary achou que a canção foi uma das mais belas que já escutou. Havia nela uma tristeza discreta e delicada, uma simplicidade agradável e uma leve angústia que a tornava mais especial ainda. Joseph ficou de olhos fechados na maior parte do tempo e quando ele os abria, podia se perceber que seu olhar estava distante – caminhando solitário nos campos desconhecidos de sua mente. Tal fato apenas servia para dar mais ênfase à essência singular da canção.

Houve uma salva de palmas quando Joseph terminou. Todos estavam satisfeitos com o que haviam escutado. Logo em seguida, mais canções foram cantadas. Pessoas que Lary nunca achou que se apresentariam, sentaram-se no banco e tocaram músicas de seus artistas preferidos. Quando anoiteceu completamente, todos que estavam na Praça dos Bosques apreciando a trilha sonora de um outono inesquecível, começaram a caminhar rumo a casade Joseph.

Lary viu Alice e sentiu-se estranhamente feliz por saber que estavam indo para o mesmo local.