O caminho
Ele tentava parar. Sabia que as pessoas o julgavam e condenavam, atribuindo a ele inúmeros defeitos. Alguns, ele reconhecia, outros, "vinham de brinde", dizia. Mas, se questionava. "Será que sou assim?". A resposta, ele não sabia. Como também não sabia dizer os motivos pelos quais entrou por esse caminho. "Experimenta aí", foi o que um amigo lhe disse. E ele experimentou durante anos. E, adivinhe, acabou gostando. Achava que tinha mil motivos para isso. Era sua forma de se rebelar, de ir contra o sistema. Mas, preferia não apontar suas razões. Tinha medo de que seus argumentos fossem considerados ridículos ou mesquinhos. Mas ele tentava parar. Já tinha perdido amigos. Já tinha perdido oportunidades. E, sabia, estava perdendo a dignidade. "Você faz seu próprio inferno", ele pensava nisso. E tentava parar. Queria, sim, ser alguém na vida. Queria, sim, ter importância para alguém. Queria, sim, mostrar que também chorava. Que também sentia. Que também era humano.
A verdade é que o mal o havia alcançado e ele não sabia como fugir disso. Para dentro do poço, nenhuma mão se estendia em sua direção. Em suas remotas lembranças de infância, pensa no avô, que o tomava no colo e dizia "será um grande homem". E ele tinha vergonha de ter traído o exemplo e a memória do avô. Não era um grande homem. Era um grande viciado. Mas ele tentava parar. Apesar de viver nas trevas, ele buscava alguma luz, mas só achava apoio entre os seus iguais, entre aqueles que dividia ilusões. "Experimenta aí". E ele experimentava. Num momento de êxtase (ecstasy?), viu-se caminhando em direção a uma luz muito intensa. Emocionado, ele abriu os braços e chorou: tinha encontrado o seu caminho. De dentro do trem, o maquinista avistou aquele jovem, com os braços abertos, percorrendo os trilhos rumo a locomotiva. E ele tentava parar...