ATÉ LÁ!

Eram quase três horas da tarde e, na obscura ilhota, quase tudo estava preparado aguardando a chegada dos participantes de importante encontro.

Era uma propriedade particular situada ao Sul do Pacífico que, de tão pequena, sequer constava nos mapas de navegação marítima. De tão distante da costa, não despertava interesse em ninguém e, mesmo que isso acontecesse, um fortíssimo esquema de segurança estava montado para dissuadir os mais afoitos...

Nos livros cartoriais havia uma anotação antiga registrando a propriedade, em nome de uma empresa de pouca monta, dedicada à fabricação de óleo de gergelim, com sede na capital da Botswana, na África. Segundo constava, nos assentamentos, era destinada ao lazer de executivos do escritório novaiorquino.

Ali, dificilmente era constatado qualquer movimento além do normal balançar das palmas, ao vento morno do mar. Assim, não se atribuía qualquer serventia, a não ser como refúgio fortuito de algum dirigente ou pessoa achegada aos empresários da produtora de óleo comestível.

Aparentemente, se tratava de uma ilha semi-selvagem, cujo litoral era totalmente protegido por densa plantação de coqueiros. Ao redor, podiam ser vistas, apenas, uma pequena enseada e duas praias; uma delas com um pequeno e incipiente cais e, o restante, costa íngreme de rochedos ígneos, cinzentos e escarpados.

A aparência inóspita fora propositalmente estruturada para afastar curiosos e, principalmente, abrigar reuniões de pessoas que necessitavam ser protegidas pela incolumidade e mantidas, a todo custo, longe das câmeras e dos jornalistas indiscretos...

Havia, no interior da ilha, uma construção que, de tão oclusa, jamais despertaria qualquer desconfiança. Era um casarão que poderia ser comparado a um palacete, com todos os recursos de uma casa de milionários situada em bairro nobre de uma cidade como Nova York.

Há uns cinco quilômetros da residência, uma pista de pouso que comportava aviões de pequeno porte. As instalações eram dotadas de equipamento moderno possibilitando, até mesmo, operação por instrumentos, nos dias em que as condições meteorológicas não fossem favoráveis ao vôo visual.

Como estava localizada a considerável distância do continente, ninguém se apercebia do movimento desusado de um avião, em repetidos vôos, carregado de suprimentos para um evento não muito comum.

O intrigante é que esse avião nunca decolava do mesmo aeroporto, na cidade de registro, mais de uma vez, no mesmo dia. Independentemente do custo operacional, essa era a rotina adotada para as conexões com a ilha.

As comunicações eram feitas exclusivamente via rádio, em frequências conhecidas apenas por algumas pessoas, em situações ocasionais, mesmo assim, variando a cada encontro. Não havia, portanto, conexões telefônicas, reduzindo, assim, a possibilidade de “escutas” ou “grampos”. Era um sofisticado sistema de sigilo protegendo o que se passaria por ali. O trafego de mensagens era em USB e codificado.

Vsevolod Koslovnovich era um russo, natural de Irkustk, com dupla cidadania, tendo passaporte suíço. Residia em Nova York, há quinze anos, após alguns contratempos com a inteligência da antiga União Soviética. A acusação se dera em razão de negócios escusos com um banco, em Dubai, em que possuía algumas contas à revelia do governo russo.

De absoluta confiança da “Cúpula”, Vsevolod era membro graduado da “Organização”, considerado pessoa de absoluta confiança, embora não estivesse inteirado dos planos e objetivos dos que encimavam o pico da pirâmide.

Fora instalado no escritório como Diretor-Geral. Sob sua responsabilidade ficavam as operações comerciais, financeiras e de gerência de todo o pessoal do escritório, em torno de vinte e quatro funcionários, os quais também se revezavam na administração da ilha.

Vsevolod cuidava para que tudo estivesse em perfeita coordenação e os membros da “Organização” tivessem à mão e à ordem, tudo o de que precisassem para se sentirem seguros e confortáveis no trabalho que iriam realizar.

As instalações internas e externas já haviam sido inspecionadas por várias vezes, a despensa estava organizada com os itens da preferência dos visitantes, o equipamento eletrônico de segurança em funcionamento perfeito e tudo o mais, de conformidade com as “instruções” recebidas da Central, em Botswana.

Os alimentos e bebidas, em quantidade suficiente para uma semana de lautas refeições eram pré-preparados ou congelados, eliminando a necessidade de funcionários tanto para a confecção quanto para os demais serviços de copa e cozinha.

As “instruções” determinavam que, não obstante o status dos participantes, cada qual trataria de servir-se do que lhe aprouvesse, todavia, sem o concurso de serviçais. Havia à disposição, todo o tipo de utensílios e talheres necessários em uma situação como aquela, que iria acontecer dentro de dois dias.

Nenhum segurança ou serviçal tinha permissão para ultrapassar os portões da mansão a partir do instante em que o primeiro convidado fosse introduzido ao recinto

No interior da Sala de Conferências, uma grande mesa, imitando a Tavola Redonda, era circundada por vinte e quatro cadeiras almofadadas, cobertas de veludo vermelho. Ao centro, um menorá ostentando sete velas de cera de abelha.

Incrustado na madeira, construída em lâminas de marfim, uma gigantesca Estrela de Salomão ornava a maior parte do tampo daquela mesa de tamanho e peso considerável.

Na cadeira de número um, no cimo do espaldar, duas efígies egípcias, ambas douradas. Uma cabeça de serpente e outra de falcão pareciam observar ou presidir os eventos que ali iriam ocorrer. Nunca aquela sala houvera reunido pessoas para tal fim. Aquela seria a primeira e última.

Nas paredes de um prateado pigmentado de azul, quadros com molduras imponentes, todas iguais, contendo retratos de figuras enigmáticas do passado. Eram, também, vinte e quatro. Estavam postadas de modo a coincidir com as posições das cadeiras em que iriam tomar assento, os circunstantes.

Dentre elas, podia-se perceber alguns. Outros eram totalmente desconhecidos. O primeiro deles, o que parecia ser de maior importância, pelas dimensões ou pela posição que ocupava encimava uma inscrição em letras douradas: “O Grande Dragão”.

Ladeando essa principal, as imagens de Aleister Crowley e Adam Weishaupt. As demais pareciam de importância similar, porém, nem tão conhecidas da maioria das pessoas comuns. Os que ali estavam presentes eram representantes da mais alta estirpe do poder, acima dos presidentes e dos políticos dos países mais poderosos.

Alguns outros eram personagens conhecidas da História Contemporânea, quase todas envolvidas nas cúpulas do mundo financeiro do planeta, figuras detentoras de extraordinário poder. Eram, assim, controladores não só do dinheiro do planeta como, também, de grandes complexos industriais e militares.

Sob o tampo de vidro que protegia toda a superfície da mesa, diante do lugar ocupado pelo “número um”, pontificava uma lâmina de papiro com uma figura simbólica, mesclando os símbolos de Asclépio e Hermes.

Era um bastão, apontando para cima, com um par de asas ladeando o punho. Estava envolvido por duas serpentes simulando movimento ascendente. Predominavam as cores dourada, prateada, azul e vermelha.

O ícone sugeria alguma coisa relacionada com as origens da raça, pois o bastão apontando para cima poderia estar aludindo a um falo alado envolto pela sabedoria serpentina, dominadora do mais alto grau de complexidade genética e da fisiologia humana.

Poderia estar sugerindo a interferência alienígena através da ciência, para o desenvolvimento, na Terra, de seres desenvolvidos a partir do seu próprio DNA.

O que se tinha como certo é que todos, sem distinção, faziam parte de uma sociedade ultra-secreta que estava por trás das bonanças e das tempestades da economia mundial.

Atento para que nenhum detalhe ficasse sem cobertura, Vsevolod dava-se por satisfeito pelo trabalho realizado e esperava que todos os conferencistas, assim como “O Barão” estivessem confortáveis e seguros naquele lugar tão coberto por sigilo.

Lá fora, na praia que circundava a ilha, nenhum píer ou arremedo de cais que pudesse dar ideia de como se adentraria àquele local. Entre a praia e o casarão, uma robusta grade de ferro, entelada com fios eletrificados, cuidava da segurança e prevenia para que nenhum afoito ou menos avisado tentasse bisbilhotar o que houvesse por lá.

Para assegurar a incolumidade das instalações e dos seus ocupantes, uma família de “dragões de Komodo” substituía quaisquer matilhas de cães, por mais ferozes que fossem. Esses répteis, importados da ilha que lhes cedeu o nome, na Indonésia, além de gigantescos, eram carnívoros e vorazes.

Complementando o esquema de segurança, um sistema de radares e de transmissores de altíssima freqüência cuidaria de impedir captação dos sinais das comunicações da ilha, mesmo que algum satélite espião pudesse tentar captá-los.

A única, porém pequena, vulnerabilidade estaria diante da possível incursão de drones. Todavia, como a distância entre o continente e a ilha era considerável, não se entendia, como viável, a operação daquele tipo de recurso. A operação teria que ser embarcada e isso seria detectado pelo sistema de radares da ilha.

Além do mais, nenhum barco ou iate seria capaz de aportar à ilha e nenhum dos partícipes tinha autorização para deslocar-se em qualquer tipo de embarcação. O único tipo de transporte possível era o aéreo, com aeronaves de pequeno porte, todas pertencentes à organização.

Eram, exatamente 12PM e todos os participantes estavam atentos, em seus lugares aguardando a abertura da reunião.

Após os cumprimentos de praxe, o “Número Um”, olhando fixamente nos olhos de cada partícipe, foi conferindo seus nomes e funções. Eram todos, presidentes ou diretores dos mais poderosos bancos do planeta, incluindo os mais significativos bancos centrais.

Ciente de que todos estavam atentos ao que iria dizer, abriu um envelope e iniciou sua fala:

Senhores! Conforme o esperado, estamos recebendo e passaremos a difundir aqui, em caráter ultra-secreto, a decisão final do “Pináculo Piramidal”:

Todos os senhores tratarão de reter todos os meios financeiros à disposição, encerrando todo e qualquer tipo de empréstimo ou suporte financeiro a qualquer economia de qualquer país.

Cessarão, definitivamente, todas as operações bancárias, ficando retidas todas as importâncias em depósito nos bancos internacionais, nacionais e particulares.

Ficarão definitivamente suspensas as operações através de cartões de crédito, de todas as bandeiras.

Todos os bancos, financeiras, agentes econômicos e similares fecharão suas portas e demitirão todos os servidores, cabendo aos senhores ordenar as medidas necessárias para impedir a manipulação eletrônica de todo e qualquer meio circulante no mundo inteiro.

Como sabem, a Ordem confia nos senhores, que são todos membros importantes, portanto, dentro em breve, receberão ordens para deslocarem-se para os setores de segurança previstos e serão conduzidos por veículos especiais, para isso disponíveis.

Não se preocupem com seus pertences. Não levem nada que considerem importante ou de valor. Para onde irão não haverá necessidade de nada do que dispõem agora, pois todos os recursos estarão disponíveis em quantidade e qualidade para todos os que foram plotados para o reinício.

Refiro-me a tudo o que diz respeito às vossas necessidades, incluindo, é claro, alimentos, medicamentos, lazer, assistência, etc... em todos os sentidos possíveis e imagináveis.

É importante que se assegurem de que não necessitarão de qualquer tipo de moeda de troca, pois nada terão que trocar. Receberão de tudo quanto necessitem no tempo e na quantidade certa.

Não se preocupem quanto à segurança própria e a de familiares, pois todos os senhores e dependentes selecionados fazem parte de um círculo de indivíduos preciosos para os objetivos da ordem por serem possuidores do que, sem saber, o vulgo chama de “sangue azul”.

Finalmente, quando receberem o sinal, deixem tudo o que estiverem fazendo e dirijam-se para os locais que lhes serão determinados. Insisto! Não se preocupem em localizar seus parentes que, por ventura não se acharem com os senhores no momento do aviso. Eles deverão fazer o mesmo e, nos locais adequados serão colocados, novamente diante, uns dos outros.

Todos já tem os seus identificadores eletrônicos inseridos subcutaneamente, de maneira que isso é o suficiente para o reagrupamento. Os técnicos cuidarão das providências e será tudo muito rápido e eficiente.

Finalmente, a Organização lhes deseja pleno êxito e os aguarda para o reencontro que será comemorado com uma grandiosa festa.

Não se importem com os soluços do mundo! A partir de zero hora do dia “D”, o sistema econômico-financeiro que a humanidade conheceu, desaparecerá! O colapso informático será definitivo e drástico! Ninguém mais terá qualquer acesso ao dinheiro! Quando a humanidade estiver mergulhada no caos nós estaremos protegidos nos preparando para um novo futuro onde as espécies inferiores não mais povoarão a crosta terrestre. O desastre será tamanho que os homens se autoeliminarão em meio à escassez, às epidemias, ao desabastecimento, aos saques e outros tantos ingrediente do caos. Então,passada a tempestade, nós reinaremos e o “sangue azul” dominará sobe o planeta...

Até lá!

Amelius - 31/10/2013 – 22:13hs

Amelius
Enviado por Amelius em 30/10/2013
Reeditado em 16/04/2021
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