Pertinho do céu...

Não havia essa coisa de menino ficar beirando meninas.

Mas pros mais pequenos, fazia-se exceção. E essa atitude

não chegava a ser deferência, era no máximo tolerância.

Desde que os pimpolhos se comportassem.

E foi assim na barra das saias das manas Totóia e Bebel,

que eu pude ouvir embasbacado - e comportado - aquele

relato fabuloso das meninas novas que haviam vindo

parar na nossa rua. Nossa rua era até bem plana e, por

ser a última no topo do povoado, acabava dando numa

porteira, que era o limite de um pasto, atrás do qual

vinham várzeas e um horizonte delineado pelo costado de

uma serra.

Pois essas novas meninas vieram dizendo, cheias de

convicção, que costumavam apanhar lenha bem pra lá do

pasto, e que um dia, quando tinham mais tempo, foram

subindo aquela serra - para a qual apontavam - e que

subiram tanto que chegaram ao ponto em que a terra e o

céu quase se encontravam.

Gesticulando duas delas pelo menos, as maiorezinhas,

elevaram os braços e disseram que, na pontinha dos pés,

haviam apalpado a pontinha do céu. E que era tudo tão

macio e bonito, mas que tiveram muito cuidado para não

cair no despenhadeiro - diziam pirambeira - do outro lado

da serra.

E eu em tudo que ouvi, cri. Mas hesitei em certificar com

as manas a procedência do relato. Achei que elas podiam

estragar meus devaneios.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/10/2013
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