Pertinho do céu...
Não havia essa coisa de menino ficar beirando meninas.
Mas pros mais pequenos, fazia-se exceção. E essa atitude
não chegava a ser deferência, era no máximo tolerância.
Desde que os pimpolhos se comportassem.
E foi assim na barra das saias das manas Totóia e Bebel,
que eu pude ouvir embasbacado - e comportado - aquele
relato fabuloso das meninas novas que haviam vindo
parar na nossa rua. Nossa rua era até bem plana e, por
ser a última no topo do povoado, acabava dando numa
porteira, que era o limite de um pasto, atrás do qual
vinham várzeas e um horizonte delineado pelo costado de
uma serra.
Pois essas novas meninas vieram dizendo, cheias de
convicção, que costumavam apanhar lenha bem pra lá do
pasto, e que um dia, quando tinham mais tempo, foram
subindo aquela serra - para a qual apontavam - e que
subiram tanto que chegaram ao ponto em que a terra e o
céu quase se encontravam.
Gesticulando duas delas pelo menos, as maiorezinhas,
elevaram os braços e disseram que, na pontinha dos pés,
haviam apalpado a pontinha do céu. E que era tudo tão
macio e bonito, mas que tiveram muito cuidado para não
cair no despenhadeiro - diziam pirambeira - do outro lado
da serra.
E eu em tudo que ouvi, cri. Mas hesitei em certificar com
as manas a procedência do relato. Achei que elas podiam
estragar meus devaneios.