A HISTÓRIA DA MULHER QUE DEVOROU O MARIDO

Morava uma humilde mulher numa casinha no meio do mato, abandonada pelo marido, que era como assim dizer, caixeiro viajante e por sinal, muito perdulário. Ganhava tudo o quanto podia e gastava tudo o que não tinha nos jogos de cartas, deixando de lado a obrigação de encher a despensa da casa. Passavam meses e anos inteiros sem que ele voltasse, deixando a miserável esposa passando as mais cruéis adversidades. A pobre mulher andava em trajes de pedinte, numa pobreza nunca vista, seca e esfaimada, só peles e ossos.

Ao redor da casinha as árvores eram ressequidas e sem folhas, não por conta da seca, mas porque a famélica mulher, atormentada pela fome insaciável, devorava tudo o que via e o que lhe servisse de alimento. Comia galhos, folhas, cipós, passarinhos, cobras e o que porventura andasse por lá. Mesmo assim, a fome da mulher não acabava nunca.

Os moradores sabendo disso, passaram a levar restos de comida e por puro medo de também serem devorados, jogavam ali mesmo no terreiro em frente a casa. A mulher não se fazia de rogada e comia tudo o que lhe botavam, estragado ou não, feita um bicho. E era assim dia após dia.

O marido soube da situação deplorável da esposa e então comovido e envergonhado com tamanha crueldade, voltou para casa disposto a dar-lhe uma vida decente. O retorno para casa, porém, não foi dos mais agradáveis. O marido precisou dominar o asco para entrar na casa devido à tamanha desordem e sujeiras acumuladas. A mulher muito surpresa o recebeu com grande alegria e satisfação. Fê-lo sentar-se a mesa e foi para o fogão para preparar-lhe alguma coisa para comer. O marido só percebeu tarde demais que era ele o prato principal.

Conta-se que a mulher o devorou ali mesmo, saboreando a vingança, a cada osso chupado lentamente.