Outono Folk - Parte 1

Folhas secas e pálidas começavam a cair. O vento gélido havia dado as caras depois de vários meses de primavera e verão. A estação cinzenta do outono chegou trazendo consigo uma porção de dias nublados que haveriam de passar como acontecia em todos os anos.

As pessoas não mais saíam tanto de suas casas quando não fosse necessário. Grande parte das ruas de Rouver ficava mais vazia com o passar dos dias. Os bairros se tornavam mais silenciosos. Parecia que o outono era uma época de melancolia e inércia.

Não para Lary.

Para o jovem, a melhor e mais bela estação do ano havia chegado para lhe trazer a inspiração e o poder criativo acumulado durante tantos dias. Quando Lary acordou em certa manhã e olhou para as janelas vendo assim as folhas secas descansarem tranquilamente na calçada, escutou a própria voz lhe dizendo: “Aproveite jovem. O mundo é seu”. Lary não chegou ao menos cogitar em descer as escadas e tomar o café da manhã, ele pegou seu vilão castanho fosco e começou a tocar uma canção de um artista novo na época chamado Bob Dylan.

Dois agradáveis dias se passaram desde aquela manhã e Lary havia composto três músicas. Ele já sabia o que fazer depois que chegasse da faculdade. Enquanto caminhava tentando absorver o ar solene que o envolvia, percebeu que o outono daquele ano não estava sendo como os outros. Havia algo de diferente nele. Algo mais forte, suave e bonito. Tudo ao mesmo tempo. Os jovens pareciam estar em sintonia. As roupas eram semelhantes. Os garotos com seus cabelos volumosos usavam jaquetas escuras sobre camisetas em sua maioria nas cores branca ou cinza. As calças neles estavam consideravelmente mais justas em suas pernas. As garotas dentro de seus vestidos compridos exibiam sua beleza notável e singular.

Durante o intervalo da aula, Lary fumava um cigarro. Ele estava encostado em um pilar observando as pessoas no pátio da universidade, esperando um de seus amigos chegarem.

- Lary! - Joseph usava um cachecol cinza escuro. – O que temos para hoje?

- Boa pergunta – pareceu que Joseph leu a sua mente. – Depois da aula vamos à Praça dos Bosques. Chame quantas pessoas você quiser.

- O que vai ter por lá?

- Irei tocar umas músicas. Se você quiser fazer o mesmo, melhor ainda.

- Legal cara! Pode deixar, estarei lá. Vou chamar alguns amigos meus. – Disse Joseph enquanto uma garota acenava para ele. – Nos vemos mais tarde. Ideia boa, Lary. – E então se virou.

Naquele fim de tarde, a Praça dos Bosques era um lugar perfeito para Lary. Na última vez em que ele havia ido ao local ainda era verão. As flores refletiam a luz do sol, fazendo o lugar se tornar um pouco desagradável. Aquele cenário colorido, nos pensamento de Lary, atraía algumas pessoas nas quais ele julgava serem incultas. Agora a Praça dos Bosques era um lugar totalmente diferente – ela havia se rendido ao espírito do outono; os bancos estavam úmidos por causa da fina e quase imperceptível chuva que caia. As árvores peneiravam o chão com folhas mortas e os arbustos contemplavam o lugar com seu verde cinzento.

Antes de Lary chegar à praça, ele havia parado em sua casa para deixar seus cadernos e livros e pegar o violão. Como a Praça dos Bosques fica a dois quarteirões de onde ele estava, não demorou muito para o garoto chegar ao lugar e ver que Joseph e seus amigos já estavam lá. Havia aproximadamente quinze pessoas. Garotos e garotas sorriam, bebiam vinho e fumavam cigarros.

- O nosso artista acabou de chegar – disse Joseph. – Para os que não o conhecem, este é Lary Davis.

Os jovens o saudaram com sorrisos.

- Você tem muitos amigos, Joseph.

- Alguns aqui estou conhecendo agora. São amigos de amigos meus. Bem, queremos ouvir sua música, amigo.

- Está bem – disse Lary, sorrindo.

Ele sentou-se em um dos bancos enquanto os outros se sentaram no chão.

- Esta música é de minha autoria. Chama-se “Em Seu Olhar”. Espero que gostem.