Primeiro Encontro
A mão de Karen era suave.
- Escolhi um lugar especial para o nosso primeiro encontro – eu disse quando fui abrir a porta do carro para ela.
Karen era linda e inteligente: perfeita para mim. Quando entramos no restaurante cheio de burgueses, olhares nos perseguiam. Eu sabia o quanto era estranho ver um rapaz franzino e pálido de mãos dadas com uma esbelta ruiva com olhos tão azuis quanto o céu de um sonho agradável.
Encontramos a mesa que reservei um dia antes e puxei a cadeira para ela. Quando me sentei ela disse:
- Os pratos daqui devem valer uma fortuna!
Eu sorri.
- Não se preocupe com isso. Apenas quero que aproveite esta noite.
Chamei o garçom.
- Boa noite – a voz do homem corpulento era grave.
Karen folheava o cardápio. Nem me preocupei em fazer o mesmo. Eu já sabia o que queria.
- Um Chow Mein – ela disse enquanto o garçom repetia suas palavras e anotava em sua agenda.
- E para você, senhor?
- Um prato com uma boa porção de alface e tomate cortado em rodelas com azeite de oliva – respondi.
Karen me olhou pensativa, quando o garçom saiu, ela me perguntou:
- Você é vegetariano?
- Não gosto de carnes. – Eu disse, sorrindo.
Na verdade, eu estava sem fome.
Meu Deus! Sempre há algum defeito.
Eu apenas beliscava minha comida, não conseguia parar de observar Karen devorar os camarões de seu Chow Mein.
- E então Jake, o que você faz naquele prédio mesmo? – Perguntou ela.
- Sou agente publicitário. Achei que você soubesse disso – respondi.
- Ah... desculpe-me. Sou um pouco esquecida.
Havia restos de camarão em sua língua. Não havia como não perceber. O cheiro da comida estava se tornando extremamente enjoativo. Apesar disso, tentei ficar um pouco mais à vontade.
- E você Karen, o que gosta de fazer nas horas vagas?
- Tantas coisas, Jake...
Ela tentou ser discreta e foi, mas não para mim: eu a vi arrotando. Senti um embrulho no estomago quando imaginei a comida sendo digerida em suas entranhas. Este devia ser o lugar mais horrível do mundo – uma flora colossal de bactérias e vermes...
- Karen, você toma banho quantas vezes por dia? – Perguntei.
- Como? - A expressão dela se tornou apática.
- Banho. Quantas vezes você toma banho por dia? – Repeti.
- Normalmente três, por quê? – Nunca a vi tão seria.
- Curiosidade.
Karen continuou a comer. Não falou mais nada.
Aquele cheiro de comida estava insuportável. Eu já estava ficando impaciente. Karen mastigava, mastigava...
- Karen, tem como você terminar de comer logo? Não que eu queira ir embora...
- Algum problema, Jake? – Seu tom de voz me mostrou o quanto ela estava desconfortável.
- Deixe-me ver suas mãos – eu disse.
- Por quê?
- Elas podem estar oleosas. Se tiverem, quero que vá ao banheiro e as lave. Não iria gostar de pegar em mãos oleosas.
- Você só pode estar brincando.
Fiquei calado.
- É melhor eu ir – Karen disse, levantando-se.
- Ainda está cedo. Nem bebemos o vinho. Essa seria a melhor parte. O álcool poderia matar algumas bactérias que ficaram em sua boca.
- Você é louco.
Karen deu as costas. Foi embora sem mesmo se despedir.
Continuei sentado. Logo iria chamar o garçom e pedir um vinho tinto, mas antes eu precisava ir ao banheiro.
Minhas mãos estavam oleosas.