TRISTEZA!
Em meio às pessoas indo e vindo na praia, o mar banhando os que nele entravam, cabisbaixo no calçadão, havia um homem sentado quase inerte, como se estivesse a refletir, o olhar fixo nalgum ponto indeterminado. Sua aparência indicava sofrimento, angústia, amargura, ele estava ali em corpo, mas sua alma certamente fora para muito longe. Ninguém lhe prestava atenção, apenas eu, contrito ante o aspecto desiludido do homem. Depois de muito observar e perceber que ele não se movia e continuava olhando fixamente para o mesmo ponto, não resisti. Levantei-me e fui até ele, toquei-lhe levemente o ombro, sobressaltando-o de forma quase imperceptível, e eu indaguei com cuidado: "o senhor está sentindo alguma coisa?" A voz por pouco não lhe sai quando ele respondeu: "sim, tristeza!" Sem saber o que arguir ou fazer diante dessa resposta, apertei-lhe o ombro suavemente à guisa de conforto e vi, ardendo em dor, duas lágrimas descendo nas faces dele. Não me contive e também chorei, saindo de perto dele porque a tristeza que ele sentia me contagiara. Desci à praia e molhei meu rosto salgado de lágrimas com a água salgada do mar. Olhei para trás, apreensivo. O pobre homem permanecia lá, ensimesmado, entregue à força da agonia.