A Sombra
Miguel abriu um olho verde preguiçosamente. Ouvira um barulho e queria saber se tudo andava como devia. A casa estava em silêncio, os barulhos habituais da rua se misturavam com o zunido da geladeira e o vento que entrava pela fresta das janelas, e tudo parecia normal. Ele se esticou e virou-se para continuar com seu sono, mas algo o assustou de repente. Uma sombra passou correndo ao seu lado sem fazer barulho, apesar dos ouvidos aguçados que ele tinha. Ele deu um pulo e se preparou para correr atrás da sombra, que se afastava rapidamente dele em direção a um dos quartos da casa. O chão estava frio sob seus pés ágeis, e ele pensou por um momento que tinha perdido a sombra, mas lhe achou o rastro e a seguiu, entrando devagar e prestando atenção no quarto que ficava no fundo da casa e que ninguém usava. Muitas coisas estavam empilhadas sobre os móveis, cobertas com uma fina capa de poeira, cujo cheiro ele percebeu, pois o fez espirrar. Ele olhou em cada canto do cômodo, entrou sob as cadeiras quebradas e se deslizou com cuidado entre os entulhos que a família acumulara ao longo dos anos. A sombra parecia ter sumido, mas ele lhe sentiu a presença. Prestando atenção para captar o mais mínimo barulho, ele avançou com cuidado, cada passo calculado para evitar qualquer queda, e se encontrou frente a frente com a sombra. Seus nervos estavam a flor de pele, a tensão se espalhando por cada músculo do seu corpo. A sombra se encolheu, procurando desesperadamente alguma saída, mas Miguel foi mais rápido. Com um pulo veloz, ele agarrou a sombra e lhe deu uma unhada.
Ao dia seguinte, seu dono exclamou contente: -Olha só, querida, o Miguel pegou mais um rato!