INVERSÃO
                                              
  
Podia ter sido diferente. Quero inverter a situação, registrar isto no meu consciente, como se fato real fosse. Por que medo de escândalo? Tanta gente faz fiasco e vive feliz. Posso mudar a versão. Sempre é tempo de mudar. A história pode ser contada assim:

Quando me dei conta de que queria usar meu corpo para satisfazer seus desejos, já se encontrava com o membro ereto, jogando-se sobre meu corpo. Um pânico tomou-me conta. Afinal, pouco conhecia o homem. Não sabia que instintos o dominavam. Segurei firme o falo, impedindo que seguisse o caminho almejado.

Com brutalidade, o sujeito meteu a mão entre minhas pernas e rasgou a peça íntima. Senti que a força poderia me sobrepujar. Fui tirando os sapatos, esfregando um pé no outro, com a intenção de sair do carro e correr. Mas o corpo pesado sobre o meu quase nem me deixava respirar. Abri a porta do veículo e fui me esgueirado para fora. Na grama, a situação ficou pior. O homem lutava para conseguir o que queira, e eu para me livrar dele.

No terreno baldio e escuro, senti-me perdida. Já não me desempenhava a contento; as forças esmoreciam. Então, ouvi vozes salvadoras. Jovens retornavam do colégio. Iam passar perto de mim. Reconheci uma voz. Sabia que a salvação se aproximava. Para impedir meu intento, ele tentou tampar-me a boca. Reuni as forças possíveis, utilizando a mão livre, e libertei-me. Gritos estridentes ecoaram no silêncio da noite. O agressor acovardou-se. Libertou-me e entrou no carro, saindo em velocidade.

Fiquei estendida no chão, num choro convulsivo. A vergonha e o fato de estar livre  levaram-me a isto. Gerson reconheceu-me. Perguntou se não estava machucada, ajudou-me a levantar. Os demais foram reunindo meus pertences espalhados pelo chão. Falavam ao mesmo tempo. E eu somente dizia: não conseguiu, não conseguiu. Não sei se falava para eles, como uma explicação, ou se era para mim que dizia.

Caminhei com os rapazes até minha casa, chorando e contando como as coisas aconteceram. Namorava o cara há pouco tempo. Não o conhecia. Quando saí do colégio, estava me esperando, dormindo no carro, de boca aberta. Momentos antes, conversei com o rapaz em quem estava interessada, e ele me disse que havia rompido com a namorada. Pensei que agora era eu que estava comprometida, namorando. Talvez por isto, fiquei com nojo ao ver o sujeito de boca aberta.

Enquanto nos dirigíamos para casa, fui explicando a ele que não queria mais o namoro. Perguntava por que, e eu dizia que não queria mais, só isto. Foi então que parou no carro no terreno baldio. Quando me dei conta, estava sobre mim.

Os rapazes me deixaram no portão e ficaram olhando até eu entrar. Abanei da porta, com mais um ‘obrigada’. Meus salvadores foram embora. Fui tirando as roupas pelo corredor e entrei no banheiro. Vomitei até o cansaço. Depois, meti-me embaixo chuveiro e misturei as lágrimas com a água purificadora. 




 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 12/08/2013
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