Frio
Senti frio ontem.
Ontem, enquanto levava minha ultima companhia para sua casa senti frio. Na verdade não foi ontem de noite, foi hoje de manha, lá pelas cinco, mas ainda considerava como ontem, pois a bebida que tinha passado a noite toda consumindo ainda se fazia ativa.
Senti frio e nem me protegi, fazia tanto tempo que não o sentia, e logo eu que gosto tanto do frio. Podia ter deixado-o bater apenas na janela, pois são tantas as coisas que eu gosto que ultimamente eu tenho-as deixado bater na janela de modo que chegue tão perto de mim que eu possa vê-las perfeitamente, mas que voltem para trás, para que eu não caia na tentação de tocá-las. São tantas essas coisas que eu gosto que tenho evitado, tantas.
Deixei aquele vento frio da madrugada, que leva uns para cama e faz levantar outros, baterem em meu rosto a ponto de me congelar. Congelei e poderia ter ficado ali por horas, só sentindo o frio bater em mim e mais nada, como uma surra que gostara de levar. Congelei e eu era toda fria: meus pensamentos, minhas mãos, meus lábios, frios por falta de proteção. Meu corpo era como uma gangorra de emoções. Lá estava eu, sentada na gangorra, sozinha, dando impulso com o pé para que eu pudesse ir para o alto e para baixo. Auto suficiência. Não que eu não gostasse de estar sozinha, mas é que eu sentia falta de mim mesma. não que eu estivesse sozinha, estava eu e o frio, e eu o amara loucamente, mas sabia que se o amor transpassasse qualquer barreira a ponto de fazer meu coração ficar quente, eu o espantaria.
Quanto ao calor humano, tenho fugido.