Numa das viagens que faço por este Brasil passei por uma experiência que até hoje não consigo explicar, se não entrar no místico e misterioso universo transcendental.
Era início de noite, meio da semana, caminhão carregado, muitas horas de estrada me deixaram extenuado.
Pensei: Vou parar no primeiro posto à beira da estrada e tomar um bom banho, jantar e dormir decidi. A viagem seria longa ainda a até chegar ao porto para descarregar, além de ter que enfrentar uma longa fila de espera.
Placas sinalizavam que havia um posto a poucos quilômetros a frente. Havia passado por esta estrada a poucos meses atrás e não conhecia bem as paradas neste percurso, pelo que achei normal haver um lugar naquela região onde os caminhoneiros pudessem parar e pernoitar, para continuar a viagem ao raiar do dia.
Entrei pelo acesso e logo em frente estavam as bombas de combustível, parei e abasteci, enchi os tanques de óleo diesel, pois pretendia sair bem cedinho na manhã seguinte. Conduzi minha carreta até o pátio de estacionamento fechei e tranquei a cabine, bati os pneus e peguei meus acessórios e fui para os banheiros. Enquanto me banhava ouvia as vozes de outros homens conversando no recinto dos banheiros, conversas de caminhoneiros falando do preço das cargas, a dificuldade na compra de pneus, a alta dos combustíveis, tudo normal.
Terminei meu banho, saí. Não vi quem estava conversando, deviam estar do outro lado da parede, as vozes vinham pela abertura do lado esquerdo. Saí, fui até o caminhão guardei os apetrechos do banho, tornei a trancar o caminhão que deixara estacionado sob uma imensa figueira que estendia seus galhos numa grande circunferência em torno de seu tronco, e fui em direção ao restaurante.
Ambiente acolhedor. Como estávamos na época do inverno, ficar ao relento era um tanto desconfortável, e o salão estava aquecido e com boa iluminação. Havia música sendo tocada em algum lugar por ali, uma melodia estilo sertanejo romântico, não identifiquei o cantor.
Fui em direção ao self-service, peguei a comida pesei na balança do balcão e fui até a mesa onde jantei tranquilamente.
Já refeito com a comida, que era muito boa, comecei a olhar ao redor. O salão não estava cheio, havia algumas mesas desocupadas, os garçons, solícitos iam de mesa em mesa oferecendo as carnes assadas, presas em espetos que manuseavam com muita habilidade. No balcão atendentes prestativos atendiam os fregueses que chegavam. No caixa a moça atendia e distribuía sorrisos aos que faziam comentários sobre o que estavam comprando.
Tudo era normal, como todos os restaurantes a beira das estradas por este Brasil a fora.
Tudo normal menos uma coisa que não vi em muitos lugares por onde já andei. Havia uma pista de dança mais ao fundo. Estava na penumbra, e entendi que a música que ouvi quando entrei vinha de lá. Havia alguns casais que dançavam, abraçados ao som da música romântica e lenta. Rostos colados, se moviam ao compasso da melodia.
Como eu estava só, me aproximei um pouco somente para observar e ouvir melhor as músicas que eram tocadas. Havia mesas ocupadas por mais de uma pessoa, poucas com apenas uma pessoa. E mais ao fundo observei que havia uma mulher sozinha. Não dava para notar seus traços, pois estava um pouco escuro onde ela se encontrava. Bebia algo, não era cerveja segundo notei. Era uma taça, talvez um vinho ou champanhe. Procurei uma mesa mais próxima à mesa dela e me assentei. Ela não notou minha presença como percebi.
Seu perfil embora na meia luz era bonito, teria mais ou menos 32 anos. Jovem ainda. Dei sinal ao garçom para que me trouxesse um refrigerante, aproveitei e indaguei sobre a mulher, ao que me respondeu: -- Vem sempre aqui se assenta nesta mesma mesa, bebe algumas taças de vinho branco e pelas dez e meia se levanta e vai embora, não fala com ninguém. Não sei onde mora e creio que ninguém aqui saiba também. Ele se foi e trouxe-me o refrigerante que lhe pedira e não me disse mais nada.
Deu-me vontade de puxar conversa com a moça. Aproximei e sentei-me do outro lado de sua mesa e a cumprimentei.
Boa noite – lhe disse. Ela apenas me olhou e esboçou um leve sorriso, sem dizer nada. Notei seu rosto. Era bonito e suave. Era de semblante altivo, cabelos castanhos e longos que caiam como cascata sobre seus ombros. Olhos claros e amendoados. Era muito bonita, pude observar. Retribui-lhe o sorriso, dizendo:
‑‑- Desculpe-me pela ousadia em me aproximar e tomar assento na sua mesa.
Não respondeu, mas me olhou de maneira curiosa.
Ao iniciar nova música, a convidei para dançar.
Ela aceitou mansamente. A tomei em meus braços e deslizamos pela pista, como era boa a sensação de sentir o corpo daquela estranha colado ao meu enquanto dançávamos. Senti o desejo aumentar mais e mais e com isto a apertava mais de encontro a mim. Ela parecia gostar, mas não dizia nada.
Enquanto dançávamos íamos conversamos sobre vários assuntos. Era agradável estar ali com ela.
As horas passaram rapidamente e chegou o momento de nos despedirmos. Ela foi para o estacionamento dos carros e eu fui para meu caminhão.
Deitei-me e dormi algumas horas, e bem cedinho reiniciei a viajem. Tomei a estrada em direção ao meu destino e a medida que avançava, ia lembrando como fora bom o encontro de ontem a noite. Vou parar sempre neste posto, pensei. Quem sabe não a encontre novamente?
Cheguei ao meu destino e em dois dias estava livre para voltar.
Resolvi passar e parar no mesmo posto que tivera esta experiência na outra noite.
Enquanto me aproximava do local, ia imaginando o que poderia acontecer, quem sabe eu a veja novamente. Eufórico, imaginava o reencontro.
É ali no km 200, mais alguns quilômetros e chego ao meu destino. Contornei o trevo de acesso do local, quando me vi de frente ao posto, não acreditei no que vi.
O local estava abandonado. Eram somente ruinas. A árvore sob a qual estacionara o caminhão era só um tronco apodrecido no pátio. O prédio onde funcionava o restaurante, estava com as paredes rachadas, as janelas caídas e em alguns lugares nem existiam mais.
O abrigo das bombas de combustível não existia mais, somente um ou dois pilares de sustentação do telhado ainda estavam pela metade, como marcando o local onde antes havia um intenso fluxo de veículos abastecendo. As bombas nem sinal delas.
Fiquei ali parado, estarrecido! O que acontecera afinal? Não foi sonho, e para provar para mim mesmo ainda estava na cabine do meu veículo o panfleto com endereço e ofertas do estabelecimento onde passara uma noite muito agradável.
Não vi ninguém ali. Não havia sinais de que alguém estivesse por ali. Somente alguns pássaros cantavam nos arbustos que nasceram onde antes era um local movimentado.
Mais a frente parei num posto de guarda rodoviário e perguntei ao policial que estava a beira da estrada fiscalizando os veículos parados.
... Poderia me dizer a quanto tempo aquele posto de gasolina lá atrás está desativado?
Respondeu:
... Faz alguns bons anos! Por quê?
... Por nada. Respondi. E continuei minha viagem de regresso à minha cidade.
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IMAGEM DO GOOGLE
Era início de noite, meio da semana, caminhão carregado, muitas horas de estrada me deixaram extenuado.
Pensei: Vou parar no primeiro posto à beira da estrada e tomar um bom banho, jantar e dormir decidi. A viagem seria longa ainda a até chegar ao porto para descarregar, além de ter que enfrentar uma longa fila de espera.
Placas sinalizavam que havia um posto a poucos quilômetros a frente. Havia passado por esta estrada a poucos meses atrás e não conhecia bem as paradas neste percurso, pelo que achei normal haver um lugar naquela região onde os caminhoneiros pudessem parar e pernoitar, para continuar a viagem ao raiar do dia.
Entrei pelo acesso e logo em frente estavam as bombas de combustível, parei e abasteci, enchi os tanques de óleo diesel, pois pretendia sair bem cedinho na manhã seguinte. Conduzi minha carreta até o pátio de estacionamento fechei e tranquei a cabine, bati os pneus e peguei meus acessórios e fui para os banheiros. Enquanto me banhava ouvia as vozes de outros homens conversando no recinto dos banheiros, conversas de caminhoneiros falando do preço das cargas, a dificuldade na compra de pneus, a alta dos combustíveis, tudo normal.
Terminei meu banho, saí. Não vi quem estava conversando, deviam estar do outro lado da parede, as vozes vinham pela abertura do lado esquerdo. Saí, fui até o caminhão guardei os apetrechos do banho, tornei a trancar o caminhão que deixara estacionado sob uma imensa figueira que estendia seus galhos numa grande circunferência em torno de seu tronco, e fui em direção ao restaurante.
Ambiente acolhedor. Como estávamos na época do inverno, ficar ao relento era um tanto desconfortável, e o salão estava aquecido e com boa iluminação. Havia música sendo tocada em algum lugar por ali, uma melodia estilo sertanejo romântico, não identifiquei o cantor.
Fui em direção ao self-service, peguei a comida pesei na balança do balcão e fui até a mesa onde jantei tranquilamente.
Já refeito com a comida, que era muito boa, comecei a olhar ao redor. O salão não estava cheio, havia algumas mesas desocupadas, os garçons, solícitos iam de mesa em mesa oferecendo as carnes assadas, presas em espetos que manuseavam com muita habilidade. No balcão atendentes prestativos atendiam os fregueses que chegavam. No caixa a moça atendia e distribuía sorrisos aos que faziam comentários sobre o que estavam comprando.
Tudo era normal, como todos os restaurantes a beira das estradas por este Brasil a fora.
Tudo normal menos uma coisa que não vi em muitos lugares por onde já andei. Havia uma pista de dança mais ao fundo. Estava na penumbra, e entendi que a música que ouvi quando entrei vinha de lá. Havia alguns casais que dançavam, abraçados ao som da música romântica e lenta. Rostos colados, se moviam ao compasso da melodia.
Como eu estava só, me aproximei um pouco somente para observar e ouvir melhor as músicas que eram tocadas. Havia mesas ocupadas por mais de uma pessoa, poucas com apenas uma pessoa. E mais ao fundo observei que havia uma mulher sozinha. Não dava para notar seus traços, pois estava um pouco escuro onde ela se encontrava. Bebia algo, não era cerveja segundo notei. Era uma taça, talvez um vinho ou champanhe. Procurei uma mesa mais próxima à mesa dela e me assentei. Ela não notou minha presença como percebi.
Seu perfil embora na meia luz era bonito, teria mais ou menos 32 anos. Jovem ainda. Dei sinal ao garçom para que me trouxesse um refrigerante, aproveitei e indaguei sobre a mulher, ao que me respondeu: -- Vem sempre aqui se assenta nesta mesma mesa, bebe algumas taças de vinho branco e pelas dez e meia se levanta e vai embora, não fala com ninguém. Não sei onde mora e creio que ninguém aqui saiba também. Ele se foi e trouxe-me o refrigerante que lhe pedira e não me disse mais nada.
Deu-me vontade de puxar conversa com a moça. Aproximei e sentei-me do outro lado de sua mesa e a cumprimentei.
Boa noite – lhe disse. Ela apenas me olhou e esboçou um leve sorriso, sem dizer nada. Notei seu rosto. Era bonito e suave. Era de semblante altivo, cabelos castanhos e longos que caiam como cascata sobre seus ombros. Olhos claros e amendoados. Era muito bonita, pude observar. Retribui-lhe o sorriso, dizendo:
‑‑- Desculpe-me pela ousadia em me aproximar e tomar assento na sua mesa.
Não respondeu, mas me olhou de maneira curiosa.
Ao iniciar nova música, a convidei para dançar.
Ela aceitou mansamente. A tomei em meus braços e deslizamos pela pista, como era boa a sensação de sentir o corpo daquela estranha colado ao meu enquanto dançávamos. Senti o desejo aumentar mais e mais e com isto a apertava mais de encontro a mim. Ela parecia gostar, mas não dizia nada.
Enquanto dançávamos íamos conversamos sobre vários assuntos. Era agradável estar ali com ela.
As horas passaram rapidamente e chegou o momento de nos despedirmos. Ela foi para o estacionamento dos carros e eu fui para meu caminhão.
Deitei-me e dormi algumas horas, e bem cedinho reiniciei a viajem. Tomei a estrada em direção ao meu destino e a medida que avançava, ia lembrando como fora bom o encontro de ontem a noite. Vou parar sempre neste posto, pensei. Quem sabe não a encontre novamente?
Cheguei ao meu destino e em dois dias estava livre para voltar.
Resolvi passar e parar no mesmo posto que tivera esta experiência na outra noite.
Enquanto me aproximava do local, ia imaginando o que poderia acontecer, quem sabe eu a veja novamente. Eufórico, imaginava o reencontro.
É ali no km 200, mais alguns quilômetros e chego ao meu destino. Contornei o trevo de acesso do local, quando me vi de frente ao posto, não acreditei no que vi.
O local estava abandonado. Eram somente ruinas. A árvore sob a qual estacionara o caminhão era só um tronco apodrecido no pátio. O prédio onde funcionava o restaurante, estava com as paredes rachadas, as janelas caídas e em alguns lugares nem existiam mais.
O abrigo das bombas de combustível não existia mais, somente um ou dois pilares de sustentação do telhado ainda estavam pela metade, como marcando o local onde antes havia um intenso fluxo de veículos abastecendo. As bombas nem sinal delas.
Fiquei ali parado, estarrecido! O que acontecera afinal? Não foi sonho, e para provar para mim mesmo ainda estava na cabine do meu veículo o panfleto com endereço e ofertas do estabelecimento onde passara uma noite muito agradável.
Não vi ninguém ali. Não havia sinais de que alguém estivesse por ali. Somente alguns pássaros cantavam nos arbustos que nasceram onde antes era um local movimentado.
Mais a frente parei num posto de guarda rodoviário e perguntei ao policial que estava a beira da estrada fiscalizando os veículos parados.
... Poderia me dizer a quanto tempo aquele posto de gasolina lá atrás está desativado?
Respondeu:
... Faz alguns bons anos! Por quê?
... Por nada. Respondi. E continuei minha viagem de regresso à minha cidade.
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