CORAÇÃO SOLITÁRIO
Fora avisado pela manhã, na biblioteca, quando mal havia depositado os livros sobre a mesa e se preparava para as pesquisas. Como de costume, leria um conto, depois mergulharia com fervor religioso na leitura do Tratado Prático de Genética. Somente após se encaminharia para o consultório. Mas, naquela manhã, não, pois o comunicado viera apressado, quase numa súplica “que seria hoje”. O homem avisara em tom de quem revela um segredo. “A mulher do casarão. É chegada a hora”.
Como se tratasse de alguém a quem nutria um considerável respeito, achou melhor largar tudo e atender. Mormente porque o fato era esperado com ansiedade,
Quando chegou, o Dr. Josias já o aguardava. Trocaram palavras em sussurros, olhando para os lados, embora a rua estivesse deserta. Josias mostrou as ferramentas, novas e brilhantes. Importadas, disse. Seguiram. Em frente à casa velha, somente a fraca luz de um poste. No mais, não perecia haver vida por ali.
Josias abre portão, sem ruído. Tivera o cuidado de azeitá-lo, na noite anterior. Um gato dá um pulo do telhado, faiscando os olhos. Os doutores também pulam, de susto. Aguardam. Nada mais se mexe. Sob o tapete, a chave da porta. Entram. Sabem de cor o caminho. Não precisam de luz. Os únicos ruídos são de seus corações. Logo, um terceiro, palpitante e silencioso lhes fará companhia.
Sobre a cama, onde a luz da lua ilumina, a velha senhora jaz inerte, a boca aberta, um braço pendurado. Sono profundo. Nem chega a sentir a picada da agulha. Os médicos trabalham com perícia.
O coração é colocado num recipiente.
Fora avisado pela manhã, na biblioteca, quando mal havia depositado os livros sobre a mesa e se preparava para as pesquisas. Como de costume, leria um conto, depois mergulharia com fervor religioso na leitura do Tratado Prático de Genética. Somente após se encaminharia para o consultório. Mas, naquela manhã, não, pois o comunicado viera apressado, quase numa súplica “que seria hoje”. O homem avisara em tom de quem revela um segredo. “A mulher do casarão. É chegada a hora”.
Como se tratasse de alguém a quem nutria um considerável respeito, achou melhor largar tudo e atender. Mormente porque o fato era esperado com ansiedade,
Quando chegou, o Dr. Josias já o aguardava. Trocaram palavras em sussurros, olhando para os lados, embora a rua estivesse deserta. Josias mostrou as ferramentas, novas e brilhantes. Importadas, disse. Seguiram. Em frente à casa velha, somente a fraca luz de um poste. No mais, não perecia haver vida por ali.
Josias abre portão, sem ruído. Tivera o cuidado de azeitá-lo, na noite anterior. Um gato dá um pulo do telhado, faiscando os olhos. Os doutores também pulam, de susto. Aguardam. Nada mais se mexe. Sob o tapete, a chave da porta. Entram. Sabem de cor o caminho. Não precisam de luz. Os únicos ruídos são de seus corações. Logo, um terceiro, palpitante e silencioso lhes fará companhia.
Sobre a cama, onde a luz da lua ilumina, a velha senhora jaz inerte, a boca aberta, um braço pendurado. Sono profundo. Nem chega a sentir a picada da agulha. Os médicos trabalham com perícia.
O coração é colocado num recipiente.