A perna, o cliente, o mágico e a droga
MICROCONTOS
A PERNA
Nos seus piores instantes, perdeu a perna. O hospital fez implante de prótese. A família não conseguiu pagas as prestações. Retiraram a prótese. Saiu cambaleando, procurando seu lugar na vida. Tudo isso mediante módicos pagamentos de valores e ideais.
O CLIENTE
Foi ao banco tratar de abrir uma conta. Depois de quatro visitas para tentar ser atendido, depois de ter dores de cabeça, enxaquecas, convulsões, ataques epilépticos, dores na cervical e na lombar por causa da massada, o cliente foi recebido. Para agradecer a visita, o banco empurrou duas poupanças e um seguro de vida no cara com cara de paralisia cerebral. Passou na porta giratória meio sonâmbulo, depois de ter entrado, três horas antes, anestesiado.
O MÁGICO
Sonsinho resolveu ser mágico. O coelho que morava na sua cartola reclamou na Justiça por viver num espaço exíguo e fedorento com dois pombos, uma dúzia de lenços coloridos e cinco cigarros acesos, além de um vibrador. Quando Sonsinho descobriu que Madame Preciosa tinha um vibrador, ficou indignado, sentindo-se um corno eletrônico. Mas isso é outra história.
DROGA
A moça se drogou e quis se matar. Subiu na torre do celular e tentou queimar a vagina no fio da eletricidade. Os bombeiros interromperam sua caminhada pelo fio da navalha, mas não a protegeram dos urubus. O que restou do seu amor-próprio foi dilacerado pelo locutor de porta de cadeia, zumbi imundo do mundo cão. Ao longe, muito longe, se ouvia o eco de Humberto Eco: “De que riem as hienas?”