UMA SERPENTE E UMA ONÇA NO MEU CAMINHO

Já passei por vários maus momentos na minha vida. E após sair ileso de todos eles só tenho mesmo que agradecer a Deus por isso.Vários foram os casos de perigo, como por exemplo este que aconteceu comigo quando tinha apenas dez anos.

Quando nasci, meus pais e parentes acharam que eu não conseguiria sobreviver devido o meu peso ser muito aquém do normal. Por este motivo pediram até ao vigário da minha cidade para que me batizasse com receio de morrer pagão. Bem, mas esta é outra história. O certo foi que Deus não me levou e deixou que eu vivesse mesmo portando um corpo sempre raquítico, franzino, o que muitas vezes foi motivo de chacota no meu mundo infantil e adolescente.

Então, no afã de encontrar um meio para que eu engordasse, a minha mãe sempre muito preocupada com a minha magreza, amiúde, quando encontrava uma oportunidade, sempre me mandava passar alguns dias ou semanas em alguma fazenda de alguém conhecido para que adquirir peso e tudo o mais.Coitada, estava sempre equivocada quanto este objetivo. Mesmo sem condições psicológicas para desobedecê-la, eu sempre atendia as suas orientações e passava sim um determinado tempo em algum lugar com muita fartura, como por exemplo, leite, coalhada, requeijão, frutas e comida á vontade. Mas como o meu apetite sempre foi inferior ao normal, obviamente, sempre regressava destes lugares tão franzino quanto fui. Ou seja, não engordava um grama. Se duvidar, voltava até mais magrinho, pois também eu sempre fui cerimonioso e tímido nas horas das refeições, principalmente na casa dos outros.

Certa ocasião, numa destas tentativas inúteis, após combinar tudo com a pessoa que iria me hospedar, após encontrar uma oportunidade, pediu uma carona para mim ao motorista de uma caminhonete, que lhe garantiu que passaria por aquela fazenda. Tudo certo e combinado e logo deu a partida. Só que na metade do percurso, após um homem de posses entrar na caminhonete e falou qual seria o seu destino, aquele motorista que tinha dado a palavra à minha mãe, por causa do dinheiro, da ganância, simplesmente achou mais fácil pedir para eu descer e continuar o restante da minha viagem a pé, pois iria mudar o itinerário. Neste momento, apesar da minha pouca idade, já comecei a não confiar muito nas pessoas, principalmente as desconhecidas.

Do lugar de onde me deixou ao meu destino, segundo o dito cujo, eu levaria algumas horas e falou isto em tom de galhofa:

-"Olha garotinho, segue firme esta estrada aqui e vai sempre em frente. E cuidado com as cobras e bichos do mato!"

Dito e feito. Ele realmente conhecia os perigos daquelas matas, daquele caminho inóspito. Sem comentar nada, pus a minha sacolinha nos meus ombros raquítico e segui a estrada sem olhar para trás. Não demorou muito, logo me deparei com uma enorme cobra atravessando lentamente a estrada. O meu susto foi grande e parei, incontinenti. Esperei um pouco para que aquela serpente se embrenhasse na mata contígua. Continuei o caminho com o meu coração descompassado de medo. Mas o pior estava por vir.

Quando o sol já declinava no horizonte e eu ainda palmilhando por aquela estrada deserta e silenciosa, eis que ouço um barulho proveniente da mata e não demorou muito surgiu bem à minha frente uma enorme onça, arreganhando aquelas enormes e perigosas presas. Só não me estatelei no chão porque acho que o meu anjo da guarda me fez de estátua. Prendi a respiração e só pensei na minha família que ficaria sem mim assim de maneira tão trágica. Não deu tempo nem de rezar. Da mesma maneira que aquele animal feroz surgiu naquela estrada, após dá uma olhada para mim, e graças a Deus, achando que o meu corpo raquítico não seria suficiente para alimentar a sua fome, ignorou-me e agiu igual à serpente, embrenhou-se na mata ao lado e foi talvez atrás de alguma presa mais apetitosa.

Depois deste segundo susto, não demorou muito, logo avistei um casebre humilde ao lado da estrada e não titubeei e tentei me aproximar para pedir um pouco de água. Só que um cachorro veio me receber com latidos ameaçadores que só não corri porque não tinha mais forças para isto. Eis que uma pessoa bem idosa apareceu na janela e chamou o cachorro para dentro de casa e pediu que me aproximasse. Imediatamente, após lhe contar os dois sustos que passei naquela estrada ela simplesmente admirou muito e após me saciar a minha sede, assim falou:

-"Meu filho, você é um predestinado. Deus está com você. Pois teve muita sorte de não lhe acontecer nada. E o que este motorista fez foi uma grande covardia e desumanidade. E olhe, para o lugar que você vai, ainda bem que está perto. Fica ali depois daquela curva. Dá até pra ver um pouco da cumieira da casa. Que Deus continue lhe protegendo, meu filho!"

-Amém, senhora. E muito obrigado.

Logo que cheguei ao meu destino, todos ali ficaram também muito impressionados com a minha sorte e a intercessão Divina que ocorreu comigo. E após um banho e um bom prato de comida, logo chegou a hora de rezar o terço. O relógio marcava 6 horas da tarde. Ave Maria. Era a hora do Ângelus. E neste momento, agradeci fervorosamente o meu ANJO DA GUARDA por continuar vivo.

JOBOSCAN
Enviado por JOBOSCAN em 19/05/2013
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