A sete palmos de terra (editado)
Muito prazer! Meu nome é Enrico Fernandes dos Santos e já faz alguns dias que deixei este mundo. Meu corpo está inchado e não demorará para que sirva de banquete..
É. Estou morto mas não consigo deixar de me velar. Faço isso mais por medo que por amor.
Acredito que morri no lugar de outra pessoa.
Que revolta!
Se não tivesse passado por aquela rua naquela hora, ainda estaria curtindo. Bebendo com os amigos, assim como estava fazendo naquela sexta-feira onde fui pego-acredito- por engano.
Era três da madrugada e passava por um trecho escuro da rua da Conceição. Três indivíduos anunciaram o assalto.
_Entregue o celular!
Pude sentir que além daqueles caras, ao longe era vigiado ou como se alguém não queria aparecer.
Eles pareciam armados, pois debaixo de suas camisas havia volumes que me pareceram revolveres.
Não ia reagir.
Estava para entregar o celular quando um deles levantou acidentalmente a camisa e notei que não era uma arma que estava escondida.
Não pensei duas vezes e pus a correr. Estava certo de que não seria seguido.
Me enganei.
Estava prestes a atingir uma curva quando ouvi um estampido.
Senti que as forças foram aos poucos me abandonando.
Cai.
Enquanto o ar me abandonava, um líquido começou a umedecer meus lábios.
Com certo esforço consegui identificar do que se tratava: era sangue. Foi a última coisa que vi.
Meus olhos foram, aos poucos, entrando numa escuridão completa.
Mas pude ouvir antes de ....
_Fudeu, galera!
Não me lembro de mais nada.
Quando os torrões de terra bateram sobre meu caixão, já não sentia o cheiro das flores.
É desesperador.
Queria chorar mas meu corpo não podia mais.
Sentia que algo bloqueava minha garganta.
E mesmo que tentasse respirar, meus pulmões não mais tinham forças.
Era revoltante morrer no lugar de outro mas não havia mais o que fazer.