A pequena senhora ( II )
"Ele voltou".
Escutou o vilarejo todo murmurar, e sentia os olhares sobre ela. Sentiu vergonha. Sentiu saudades daquela mocidade ingênua. Ela o amara tanto.
Ele havia escolhido o mar, queria um pouco de aventura - "não quero criar raízes nesse vilarejo de fim-de-mundo" dissera antes de partir, com os olhos brilhando, mas prometera voltar, para buscá-la.
E ela esperou. Como em uma pintura barata, uma moça olhando para o mar, sua imobilidade contrastando com o movimento das marés, dos ventos. Esperou até quase perder a razão.
Ouvira histórias sobre sereias...chorou.
Encontrou conforto, e quem diria, amor. Um amor, carinhoso e compreensivo. Criou vínculos, criou família, criaram os filhos e a vida estava como deveria ser.
O encontrou parado defronte à janela do quarto, olhando para ela.
Com educação o cumprimentou, conversaram amenidades.
Ousado e sem juízo, a pediu para que ficassem juntos, pelo que restavam de vida.
O coração pulou, mas apenas deu um sorriso torto e disse "águas passadas."
O viu partir novamente, mas agora, os olhos estavam opacos, quase desesperados.
Não se sabe como, surgiu uma árvore nem muito alta nem frondosa em frente à janela do seu quarto. Ela não questionou, nem ninguém estranhou - como em um encanto. No vilarejo, à meia voz, diziam que era o marinheiro transformado por um sortilégio das sereias.
Uma árvore sem flores e sem frutos, apenas uma pequena sombra, onde a pequena senhora escrevia poesias sobre um amor perdido.
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