Caneta preta
luizcarloslemefranco
Minha caneta dias atrás, pregou-me uma peça.
Estava eu a escrever em preto quando ab-ruptamente as letras ficaram vermelhas assim que saiam dela.
As letras anteriores e a tinta na caneta continuava preta, mas escrevia em vermelho, sem nada ter acontecido para tal mudança.
Insisti e sempre as letras vinham em vermelho.
- Mariaboa, perguntei à bazarzeira que sempre me vendia canetas – por que isto acontece, sabe/
Ela não soube responder-me e surpreendeu-se como eu.
_ Alguém já lhe mostrou isto ? Eu escrevia ao lado em vermelho, com a caneta preta.
- Não, estranhou a balconista. Nunca vira coisa igual e nem pensei ser possível.
Desisti daquele objeto escrevente, pois precisava escrever em preto ou azul
Comprei outra, mas não desprezei a anterior. Guardei-a para possível escrevimento posterior.
_ Mariaboa, deixemos este incidente ( Maria ficou estupefata), disse eu testando ali o novo instrumento, agora azul . Todos os garranjos ficavam bem azuis.
Escrevi muitas boas linhas em azul escuro. Maravilha de texto.
De repente, outro episódio insólito: a caneta começou a tracejar em verde. Novamente, não havia motivo algum para este fenômeno. Não consegui mudar a cor do escrito.
Querendo saber até onde iriam, e porque aconteciam, tais assombros deixei mais uma caneta em quarentena e comprei outra, agora não mais da dona Mariaboa, mas sim numa venda um pouco longe de casa, pensando estar sendo alvo de uma brincadeira da antiga vendedora.
A história ( com letra minúscula) continuava, com as cores do escrevedor mudando, para sempre durante o meu trabalho. Digo para sempre porque as alterações não se desfaziam mais.
Escrevi com caneta vermelho para ver se a cor mudaria para preto, mas não, mudou para azulóio , sem retorno á cor original, sempre.
Usei canetas de outras pessoas, escrevi em outro material - plástico, lata, papelão – e a surpresa sempre vinha após algumas minutos de normalidade.
Por estranho, até no computador que passei a usar, embora não goste, para tentar conseguir meus escritos na cor que preciso, o absurdo acontecia.
Voltei ás canetas, usei lapiseira, lápis e tudo igual.
Após alguns dias de pausa para espairecer-me as todas as canetas tornaram-se em preta ou azuis, mas foi só eu retomá-las para meu trabalho, as acontecências voltavam a me irritar.
Tentei fazer o inverso, usar outras cores para ver se viraram azul ou preta, mas tal estratégia resultou infrutífera.
Falei do acontecido com especialistas em canetas, cores, pintores, que testaram as canetas por horas e conseguiram escrever nas cores originais delas sem problemas. Quando eu as apanhava- as mesmas – o distúrbio ocorria.
As canetas, de modo inexplicável sabiam quem as usavam. Parece que estavam vivas , Queriam é criar problemas só para mim. O por quê eu não sabia e nem como era possível isto. Estaria eu num sonho louco?
- Não tinha eu pensado nisso, respondi ,quando a senhor Pêncio, especialista em canetas importadas de Kutub perguntou-me se eu já usara alguma neste caso. Teste e tudo ocorreu do mesmo modo.
- Com lápis ocorre também? o Sr. Pluricor disse.
- Sabe, este artifício não tinha passado pela minha idéia, porque preciso escrever, á tinta, retruquei, mas vamos , por curiosidade, ver o que se sucede. A princípio, tudo bem, mas dias depois as cores do lápis (es) obedeceram, parece, as cores das caneta e tudo repetiu-se. Agora o fenômeno ficou mais curioso : as colorações variavam mais do que com as canetas. Quando eu usara uma caneta azul e ela passava a desenhar em verde, era só esta cor que ela apresentava até o fim. Agora, as cores mudavam várias vezes com o mesmo instrumento.Um lápis preto ora virava castanho, outra vez escrevia em amarelo ou alaranjado e, até incolor ficava.
A abismação era geral.
- Como? ,diziam.
Recebi vistas de médiuns, psicólogos, neurologista e psiquiatras que queriam estudar-me, por crerem que a causa dos desarranjos coloriformes estava em mim, em minha mente, em meu pensamento.Diziam que de algum modo eu poderia estar enviando recados menstais para que as canetas e lápis(es)fizessem o que faziam e eu não tivera percepção disto. Talvez recebesse alguma impção e não me dera conta.Alguma mensagem telepática poderia estar sendo gerada.
- Eu estou bem, dizia eu, mas não conseguia fugir dos assédios.
_Fiquei louco ? Perdi minhas percepções ? Surpreendera-me eu.
Fizeram exames diversos - raios x, ultrassonografias, ressonâncias magnéticas, tomografias de meu crânio
Perguntaram-me – e eu já aceitava , até por curiosidade sobre os temas e as técnicas, esta investigação, que sabia que não iriam levar a lugar, algum – sobre psique, a respeito de contatos mentais com outros seres, em relação a outros episódios semelhantes que poderia eu ter
vivenciado no passado.
_O senhor sonha com cores? Em cores?, O senhor é desenhista? Já pintou? Eram o que eu respondia _è possível que tenha sonhado, sim com cores , mas não me recordo quando e sobre o quê.
_ O senhor pesava em cores, quando o fenômeno começou a acontecer? Eu não sabia o por quê de perguntas tão despropositadas assim, mas, como estava no jogo, fui,sinceramente respondendo a todas: não., estava concentrado no meu texto.
Depois de horas martirizado com estas questõezinhas impertinentes, viraram até os inquisitores os especialistas que realizaram os exames do crânio. Confabularam por quase hora e chegaram a conclusão que eu fora acometido do que o russo que se dizia especialista em transtornos mento - esotéricos (? ) chamou de Transtorno Mental Colorigênico Transitório: um distúrbio transitório mas poderoso que, mentalmente, sem que eu perceba ou queira, muda as cores ao meu redor desde que meu id esteja focado no local onde os fenômenos ocorrem. Fenômeno raríssimo, que ele vinha estudando a tempo e do qual eu era o primeiro hóspede.
Disse ser patologia benigna, ainda sem cura, mas que tudo voltaria ao normal, embora ele não soubesse quando
Se eu tivesse pensado em roupas ou carros, disseram, estes móveis teriam as cores alteradas. Testei e me convenci. Erra real. Só não sei como aconteceu com as canetas porque eu só pensava em preto. Inconscientemente queria outra cor, afirmaram os expertos.
Aproveitei para fazer algumas brincadeiras com o caso, alterando cores das cousas no entorno.
Pelo fato ter saído no NY Times e ido ao Guinless pela quantidade de variações que os instrumentos produziam, em dias os episódios renderam uma gama de curiosos que me buscavam, e algum dinheiro enquanto duraram.,