Não devemos nos preocupar com a chuva

Começou a chover forte no Rio de Janeiro.

A avenida Rio Branco logo tinha poças distribuídas nas suas várias irregularidades e a sujeira corria para as suas sarjetas em velocidade. Os homens e mulheres caminhavam evitando se molhar mais que o inevitável, esbarrando guarda-chuvas e sombrinhas, enquanto mantinham a esperança de atender aos horários dos seus compromissos.

A chuva não aliviava o calor, mas o potencializava com o aumento da umidade. No ônibus a parceria dos dois era ainda mais evidente. A chuva mantinha as janelas fechadas e o calor se esbaldava no seu interior entre as pessoas que se apertavam. O suor escorria por baixo das roupas que estariam elegantes se a temperatura fosse de inverno.

Os dois desceram do ônibus e o primeiro comentou:

- Droga de chuva!

- Não deveríamos nos preocupar com a chuva - respondeu o segundo.

- Por que não?

- A chuva já estava aqui muito antes do primeiro homem e ainda estará muito depois do último. Ela é natural para nós e, do ponto de vista da Terra, mais natural do que nós.

O outro exclamou uma longa lista de palavrões e maldições para a chuva, mas também por ouvir comentários como aquele. Ao que o seu companheiro continuou:

- A chuva é que deveria se preocupar conosco...

Mais uma seqüência de palavrões.

A chuva, que a tudo ouvia, refletiu sobre o diálogo que presenciara, mas não tinha certeza sobre com o que deveria se preocupar. Pensou e não conseguiu chegar a uma conclusão.

Por via das dúvidas, ela se fez particularmente forte naquele dia, só para mostrar poder, e alagou a cidade.

Edgard Martins Powell
Enviado por Edgard Martins Powell em 11/04/2013
Código do texto: T4235642
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