A última onda

O céu estava limpo e a água pouco agitada. Esta era a primeira vez que Jorge Mateus ia até o alto mar. Estava sozinho. A quinhentos metros dali, a boa e velha lancha que o levara até onde estava. Achou prudente se afastar um pouco da embarcação, só por precaução.

O plano não lhe parecia nem um pouco estúpido, apesar de todos lhe dizerem o contrário. Seria a experiência definitiva, algo nunca experimentado por nenhuma outra pessoa no mundo... se desse certo.

Jorge olhou para o horizonte em busca de algum sinal. Um olho destreinado não sentiria diferenças nas leves ondulações da água, mas Jorge sabia muito bem o que procurar. Pelo menos era isso que pensava.

Uma brisa leve veio do Sul... ou seria do Leste? Não havia pontos de referência, apenas uma imensidão azul até aonde a vista alcançava. O mundo todo era aquele oceano.

Checando o seu relógio de pulso, Jorge calculou que não havia muito tempo. E estava certo. O rastro de fumaça estava bem evidente no céu limpo. Quando o meteoro titânico adentrou a atmosfera, começou a queimar em atrito com o ar. Não demorou muito para atingir a superfície do oceano. O barulho foi bastante audível, apesar de o impacto ter acontecido a centenas de quilômetros de distância. Só mais alguns minutos agora.

De repente, algo mudou no horizonte. Uma onda gigantesca se aproximava em grande velocidade. Jorge se preparou e esperou o momento certo. O impacto formou uma parede de água quase perpendicular ao nível do mar. O empuxo foi tremendo. Jorge montou em sua prancha mais ou menos quando se encontrou na metade da parede de água.

A descida foi surreal, como naquelas ondas gigantes do Hawaii, mas pelo menos vinte vezes mais longa. Um erro de cálculo e... Mas, Jorge não errava nenhum movimento. E ele surfou uma onda que ninguém havia surfado antes... por alguns minutos.

Muitas pessoas morreram naquele dia. Mas, Jorge Mateus foi talvez o único que aproveitou o fim do mundo.

J F Brandão
Enviado por J F Brandão em 08/04/2013
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