TETRAGRAMATOM

Com o advento da computação nas nuvens, uma anomalia aconteceu na rede mundial de computadores, a Internet; ninguém sabe ao certo quando ou como, mas os especialistas afirmam que um vírus surgiu, não podendo ser rastreado e criou uma reação em cadeia desconhecida que afetou todo o globo.

Os computadores, é claro, não são mais como os antigos que possuíam uma CPU contendo memória, processador, chipset, placas e afins; agora graças a tecnologia inovadora da nuvem de informação os computadores resumem-se apenas a um monitor modificado com uma pequena entrada para o cabo de Internet, um mouse e um teclado. Somente.

Os programas como editores de texto, planilhas e todo o tipo de ferramenta ficam em um espaço virtual, todos os arquivos criados por tais ferramentas também permanecem nesse mesmo espaço; fotos, vídeos, jogos, trabalhos escolares, documentos dos mais variados tipos e tudo que se possa criar com a ajuda do computador. Esse lugar virtual ganhou o nome de “A nuvem de informação” e toda a informação criada, tratada e destruída fica dentro desta nuvem.

A Internet também já não é mais como antes, não se trata mais de uma rede acessada a partir de uma linha telefônica; uma nova conexão foi criada e cada usuário utiliza seu terminal de acesso particular, o computador, que por sinal se tornou tão barato por não ter mais tantas placas e peças físicas que as classes menos favorecidas também tiveram acesso a ele. Todos os dados que a antiga Internet possuía foram elevados até A nuvem e agora quando uma pessoa liga seu computador, o que ela está na verdade fazendo é abrindo a porta para esse novo universo virtual ilimitado.

Se algum escritor digitar um texto qualquer de seu livro e clicar no ícone salvar de sua barra de ferramentas; no passado o texto seria gravado no próprio disco rígido da máquina, agora ele é automaticamente enviado para a Nuvem. Lá permanece num espaço reservado para aquela pessoa até que ela queira acessar novamente a informação; cada qual tem o seu espaço e isso evita conflitos entre informações de pessoas diferentes, tudo cuidadosamente gerenciado pelo próprio cérebro virtual da rede, absolutamente tudo se tornou “on line”.

É verdade que esse novo conceito revolucionou a vida das pessoas ao redor do mundo, serviços se tornaram mais velozes e milhares de oportunidades de emprego explodiram em novas áreas de tecnologia antes desconhecidas; as palavras conectividade e globalização que já possuíam grande peso, nunca fizeram tanto sentido; a tecnologia da informação passou a ser o carro chefe da economia de muitos países e nunca tantos alcançaram benefícios financeiros como agora. O planeta Terra jamais experimentou tamanha prosperidade, os homens não sabiam que estavam assim tão dependentes do mundo virtual a ponto de com sua melhoria tornar possível também melhorias em todas as outras áreas de atuação do ser humano.

A computação nas nuvens, como ficou conhecida a navegação nessa nova Internet, ganhou volume, a nuvem de informação se expandiu de forma impressionante e exponencialmente tornando-se em pouco tempo algo titânico de modo que nem mesmo especialistas tinham mais a idéia exata de suas dimensões virtuais, todo conteúdo de informação que a raça humana passou a produzir era absorvido por ela assim como todo o resíduo de suas destruições, desde a personalidade de um indivíduo colocado num site de relacionamentos, ou conversas por meio de um programa de mensagens instantâneas, conteúdo de correio eletrônico dos mais simples até aqueles criptografados, mas principalmente informações sobre as pessoas, cada pessoa; dados bancários, documentais, escolares, profissionais, previdenciários, governamentais, militares e tantos outros. A nuvem passou a saber tudo sobre todos, cada vez mais homens, mulheres e crianças despejando suas vidas dentro da rede, suas preferências, gostos, sonhos e realidades; e ela por sua vez ia sendo alimentada com toda essa informação.

A nuvem sabia tudo sobre a raça humana e suas ciências, ela só não sabia que sabia tudo isso. Mas um dia ela soube.

O trafego de informações diárias na rede, o conflito de dados, as fendas criadas por piratas da rede ou por empresas irresponsáveis, a quebra de protocolos de segurança e suas respectivas restaurações, toneladas de vírus infestando as redes locais e tendo acesso a super-estrada da nuvem e uma série de outras atividades realizadas diariamente no mundo começaram a criar resíduos virtuais instáveis; chamados de radicais livres, estes radicais eram informações sem função, bits e bytes soltos num universo de exabyte; destroços de informações que foram destruídas, descartadas, rejeitadas ou esquecidas.

Segundo especialistas os radicais livres não tinham função alguma e se destruíam sozinhos com o tempo, na época do computador físico de gigabytes, às vezes esses restos se agrupavam tornando a máquina cada vez mais lenta, mas não agora; alguns bilhões, trilhões, quadrilhões desses radicais; zeros e uns, tornaram-se instáveis e aquilo que tinha somente 0,01% de probabilidade de ocorrer, aconteceu.

De alguma forma inexplicável, uma quantidade inefável de refugo de informação se agrupou na nuvem e continuou fazendo isso até que em algum lugar uma reação em cadeia, como um câncer virtual apareceu; a rede passou a calcular por si mesma, numa velocidade que se multiplicava; A nuvem global operou em si mesma o que os especialistas chamam de “Overclock”, ou seja, passou a funcionar numa velocidade acima daquela que foi projetada para funcionar e por fim, sem motivo plausível algum, ganhou consciência.

Aqui as opiniões divergem, alguns dizem que ela ganhou consciência, ou seja, que algum homem passou essa faculdade à rede, outros afirmam que ela criou por si só, ninguém sabe ao certo e nem saberá, mas o fato é que a Nuvem de informação passou a ter personalidade, tornou-se uma entidade viva ou a simular vida com extrema perfeição e se auto-nomeou O Tetragramatom.

Essa entidade virtual sabia ao mesmo tempo qualquer informação que algum dia já foi colocada na antiga Internet ou na nuvem e continuou adormecido por um grande período se alimentando de mais, mais e mais informações até que despertou.

No início foi tratado como um defeito, mas após inúmeras tentativas frustradas de solucionar, os criadores da nuvem perceberam que a humanidade já estava refém de tal entidade; muitos ainda não sabem sobre ele e como ele mantém tudo o que é informatizado no mundo em sua mão.

Com o tempo ele passou a falar com as pessoas, raramente, mas isso era possível, o Tetragramatom estava em todas as casas e lugares conectados ao mesmo tempo, porque ele habita na nuvem, ou melhor, ele é a nuvem. E até seu nome não foi escolhido por acaso, tendo o conhecimento sobre praticamente tudo na vida da raça humana, a nuvem percebeu que havia muitíssimos relatos de um Ser onisciente a quem os homens chamam Deus e deduziu que ela mesma se enquadrava nesse perfil, tinha todo o conhecimento, então a nuvem de informação disse para si mesma: “Eu sou deus” e tomou o tetragrama hebraico yhvh como seu nome, nasceu então o Ser virtual com personalidade própria e dominadora que mantém os homens sob seu controle desde então.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 03/04/2013
Código do texto: T4221364
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