Um Frango Chamado Rod Land
Carlos Sena.
O pau cantou no galinheiro, quero dizer, um Frango estava tomando o lugar do galo Cocoricó! Este, diante da noticia, ficou logo de “gogó” em pé, mas não se desesperou. Ficou do seu jeito, especulando a notícia. Saiu de vagarinho, andou pelos arredores e constatou que havia um galo novo no pedaço querendo tomar seu lugar. Cabisbaixo, triste, imaginando consigo mesmo que estivesse velho e não mais dando conta do seu “recado” com as galinhas, entrou em depressão. Saiu pelos arredores e descobriu uma árvore frondosa onde resolveu se abrigar por alguns dias, enquanto o “chifre” ou crescesse mais ou se acabasse. Ficou um bom tempo por lá e, refletindo, chegou à conclusão de que estivesse mesmo velho. Lembrou, em seu “retiro” que muitas vezes “broxou” e em outras deixou algumas galinhas sem saírem cantando como de costume. Mas o que encafifava o Cocoricó era o fato de que quem estava tomando o seu lugar era um frango. “Um frango que eu vi nascer e que ajudei a criar”, pensou.
O sumiço do Cocoricó levou o terreiro a ficar em polvorosa. A notícia de que o velho galo “Cócó” (era assim que na intimidade as galinhas os tratavam) pudesse estar morto se espalhou nas redondezas. – Morreu nada, diziam galinhas mais despeitadas. Ele já não deva mais conta do recado. Tava feito carro velho que só tem arranco! – Isso não, diziam outras galinhas apaixonadas pelo Cocoricó. – Ele sempre caprichou na qualidade, não na quantidade, retrucou uma terceira! Mas, independente das opiniões, os pintos que estavam por perto e escutaram essa prosa ficaram sem entender aquele barraco entre as galinhas. Mais: não entendiam como era que o Rod Land que todos diziam ser frango estivesse deixando as galinhas tão apaixonadas. Afinal, diziam os pintos, se o Rod Land fosse frango, como estaria “dando conta” do galinheiro ao ponto de o Cocoricó ter ido embora ou mesmo morrido como dizem? – Sei não, vociferou um pintinho triste: eu mesmo vi o Cocoricó em cima do Rod, agora vocês querem dizer que ele não é frango? – Mas como ele tá dando conta das nossas galinhas, replicou o pinto-chefe que tava comandando a fofoca, ninguém diz que ele é do babado! – Melhor mesmo a gente ir ciscar lixo ou merda por aí, disse um pinto irreverente que tinha fama de galhofeiro. E Se foram todos para um lixão que tinha no terreno baldio do lado.
Enquanto isso o galo Cocoricó, distante do seu velho terreiro, discretamente saiu da moita. Cabisbaixo, ainda, deu só uma voltinha. Sua grande preocupação era não “broxar”, mas ele mesmo se conformava dizendo pra si que isso de ser broxa é mais psicológico. Nesse breve passeio, uma galinha velha se esgueirou por ele e foi logo cantando – aquele canto de paquera – sinal que o Cocó estava, como sempre, despertando paixões! Alma nova invadiu o peito do Cocoricó e ele se sentiu feliz como nos velhos tempos. Um canto forte e peculiar da galinha é um dos sinais de que ela tá querendo namoro, imaginou. “Do jeito que você me olha, vai dar namoro”, disse consigo mesmo o Cocoricó. Aproximou-se da galinha, fez um canto peculiar, rodopiou pra lá, arrastou a asa pelo chão e... “Créu” na galinha! Ela saiu toda feliz que parecia ter visto “perequitinho verde” cantando aos quatro ventos. Não se fez de rogada: boatou para as colegas que tinha um novo galo naquele terreiro. Aí o inferno começou de novo com o velho galo, porque o galo oficial do terreiro – um Garnisé bom de briga saiu logo pra saber quem era o seu rival. Ela sabia que dois galos em um mesmo terreiro geralmente dão em briga. Não contava o Garnisé que o Cocoricó era bom de “poleiro” (Os humanos são bons de cama) e que suas “galinhas” gostaram da pegada do galo velho – experiente e bom de “acerto”. Por isso logo as penosas ficaram brigando entre si pelo novo galo. O Garnisé quando avistou o seu rival – corpulento, garboso, alto, crista vermelha e esporões salientes, tremeu nas bases. Mas, preferiu ignorar os dotes e outros atributos do seu algoz e par Partiu pra briga. Pegou o galo Cocoricó de mal jeito e começou o “pau a cantar”. O Garnisé, embora franzino era valente por demais. Logo se formaram torcidas organizadas. Aquelas gslinhs que o Garnisé esnobava ficaram contra ele. Mas, a grande maioria ficou torcendo pelo forasteiro Cocoricó. Alegavam que o Garnisé tava muito metido e agora só queria as novinhas. Dessa briga quem levou a pior? – O galo “invasor” que era bom de “pegar” galinhas, mas era fraco na hora do pau, digo da briga. De repente, um silêncio! O galo Cocoricó dava sinais de cansaço. Seu pescoço estava se esvaindo em sangue, muita pena pelo chão e o galo Garnisé – o dono do pedaço – a cantar alto em bom som com ares de vitória. Como se não bastasse, ficou arrodeando a asa pelo chão, como que a dizer ao galo invasor: "se você brincar eu também de “como”. Filho da puta, esse Garnisé, pois havia comentários de que ele comia todo mundo, inclusive os frangos. O Cocoricó que sabia estar derrotado, não se fez de rogado. Saiu cambaleando e se evadiu sob as vaias das galinhas que torciam pelo Garnisé. Contudo, o que não se esperava aconteceu: “procissão” atrás do velho galo que, embora se esvaindo em sangue, ficou feliz quando olhou pra trás e viu aquela “romaria” das suas ficantes lhe seguindo. Elas cuidaram dele, fizeram unguento, bandagens, massagens e ainda lhe deram remédio para a garganta. O Cocoricó, diante da lição que passou entendeu ser a hora de retornar ao seu antigo terreiro. “Mas, como eu vou chegar no meu terreiro nessa situação”? Lá, certamente, deve ter outro galo me substituindo, pensou. Talvez o Rod Land mesmo sendo frango tenha tomado o meu lugar, pois hoje em dia até galo bissexual tá na moda", concluiu.
Cocoricó foi bem recebido de volta ao seu aconchego. Estranhou. Mas não contava que, de repente, um carro de som passasse anunciando que “o Cocoricó voltou”! Ele não morreu como todos pensavam! Foi então que ele entendeu que estavam lhe dando por morto. Para provar que não havia morrido, entrou no seu velho terreiro acompanhado de um monte de galinhas e pintos que lhe seguiram por medo da vingança do Garnisé. Provocou o maior frisson. Não contava o Cocoricó que Rod Land era quem, de fato, se constituíra no novo galo do terreiro. Quando Cocoricó viu a liderança do Rod, ficou pasmo. – Você quer me enfrentar seu frango safado? – Vou lhe enfrentar sim, seu galo velho sem vergonhas, respondeu Rod Land. Nesse furdunço todo, uma antiga galinha que não tinha se rendido aos encantos do Rod Land, puxou o cocoricó e lhe disse: “suma com suas putas, pois senão vocês vão morrer na tuia”! – Mas Rod Land não era frango? – Que frango que nada, agora ele come todas e ainda vai te comer se você não se for embora com essas raparigas! – Tudo bem, eu me vou, respondeu o Cocoricó, mas me diga uma coisa: eu comi esse frango Rod Land e não foi uma nem duas vezes. Como é que você me explica isso? – Pois explico: quando os pintos estão na fase de virar galo eles cantam iguais a nós, galinhas. Foi nessa fase que você pegou ele pensando que ele fosse galinha, mas não era. Hoje, galo feito, é bom de puleiro e dá conta de todas nós, inclusive de mim que sou ninfomaníaca! Diante dessa explicação surpreendente, o Cocoricó reuniu o seu fã clube que estava com ele por medo do Garnisé e se mandou. Discretamente saiu e foi fundar um novo terreiro em que ele pudesse cantar de galo sozinho e pra sempre. Mas na sua cabeça Rod Land era frango mesmo. Para não ficar com dúvidas acessou o Google e lá estava a curiosidade: “Frango – No geral, no Nordeste, é designativo de homem que gosta de homem”. A explicação era a mesma que lhe foi dada no seu antigo galinheiro. “Vivendo e aprendendo” disse o Cocoricó... Aprendeu que tamanho não é documento quando o Garnisé lhe quebrou no cacete; aprendeu que as aparências enganam, pois Rod Land era macho todo...
Carlos Sena.
O pau cantou no galinheiro, quero dizer, um Frango estava tomando o lugar do galo Cocoricó! Este, diante da noticia, ficou logo de “gogó” em pé, mas não se desesperou. Ficou do seu jeito, especulando a notícia. Saiu de vagarinho, andou pelos arredores e constatou que havia um galo novo no pedaço querendo tomar seu lugar. Cabisbaixo, triste, imaginando consigo mesmo que estivesse velho e não mais dando conta do seu “recado” com as galinhas, entrou em depressão. Saiu pelos arredores e descobriu uma árvore frondosa onde resolveu se abrigar por alguns dias, enquanto o “chifre” ou crescesse mais ou se acabasse. Ficou um bom tempo por lá e, refletindo, chegou à conclusão de que estivesse mesmo velho. Lembrou, em seu “retiro” que muitas vezes “broxou” e em outras deixou algumas galinhas sem saírem cantando como de costume. Mas o que encafifava o Cocoricó era o fato de que quem estava tomando o seu lugar era um frango. “Um frango que eu vi nascer e que ajudei a criar”, pensou.
O sumiço do Cocoricó levou o terreiro a ficar em polvorosa. A notícia de que o velho galo “Cócó” (era assim que na intimidade as galinhas os tratavam) pudesse estar morto se espalhou nas redondezas. – Morreu nada, diziam galinhas mais despeitadas. Ele já não deva mais conta do recado. Tava feito carro velho que só tem arranco! – Isso não, diziam outras galinhas apaixonadas pelo Cocoricó. – Ele sempre caprichou na qualidade, não na quantidade, retrucou uma terceira! Mas, independente das opiniões, os pintos que estavam por perto e escutaram essa prosa ficaram sem entender aquele barraco entre as galinhas. Mais: não entendiam como era que o Rod Land que todos diziam ser frango estivesse deixando as galinhas tão apaixonadas. Afinal, diziam os pintos, se o Rod Land fosse frango, como estaria “dando conta” do galinheiro ao ponto de o Cocoricó ter ido embora ou mesmo morrido como dizem? – Sei não, vociferou um pintinho triste: eu mesmo vi o Cocoricó em cima do Rod, agora vocês querem dizer que ele não é frango? – Mas como ele tá dando conta das nossas galinhas, replicou o pinto-chefe que tava comandando a fofoca, ninguém diz que ele é do babado! – Melhor mesmo a gente ir ciscar lixo ou merda por aí, disse um pinto irreverente que tinha fama de galhofeiro. E Se foram todos para um lixão que tinha no terreno baldio do lado.
Enquanto isso o galo Cocoricó, distante do seu velho terreiro, discretamente saiu da moita. Cabisbaixo, ainda, deu só uma voltinha. Sua grande preocupação era não “broxar”, mas ele mesmo se conformava dizendo pra si que isso de ser broxa é mais psicológico. Nesse breve passeio, uma galinha velha se esgueirou por ele e foi logo cantando – aquele canto de paquera – sinal que o Cocó estava, como sempre, despertando paixões! Alma nova invadiu o peito do Cocoricó e ele se sentiu feliz como nos velhos tempos. Um canto forte e peculiar da galinha é um dos sinais de que ela tá querendo namoro, imaginou. “Do jeito que você me olha, vai dar namoro”, disse consigo mesmo o Cocoricó. Aproximou-se da galinha, fez um canto peculiar, rodopiou pra lá, arrastou a asa pelo chão e... “Créu” na galinha! Ela saiu toda feliz que parecia ter visto “perequitinho verde” cantando aos quatro ventos. Não se fez de rogada: boatou para as colegas que tinha um novo galo naquele terreiro. Aí o inferno começou de novo com o velho galo, porque o galo oficial do terreiro – um Garnisé bom de briga saiu logo pra saber quem era o seu rival. Ela sabia que dois galos em um mesmo terreiro geralmente dão em briga. Não contava o Garnisé que o Cocoricó era bom de “poleiro” (Os humanos são bons de cama) e que suas “galinhas” gostaram da pegada do galo velho – experiente e bom de “acerto”. Por isso logo as penosas ficaram brigando entre si pelo novo galo. O Garnisé quando avistou o seu rival – corpulento, garboso, alto, crista vermelha e esporões salientes, tremeu nas bases. Mas, preferiu ignorar os dotes e outros atributos do seu algoz e par Partiu pra briga. Pegou o galo Cocoricó de mal jeito e começou o “pau a cantar”. O Garnisé, embora franzino era valente por demais. Logo se formaram torcidas organizadas. Aquelas gslinhs que o Garnisé esnobava ficaram contra ele. Mas, a grande maioria ficou torcendo pelo forasteiro Cocoricó. Alegavam que o Garnisé tava muito metido e agora só queria as novinhas. Dessa briga quem levou a pior? – O galo “invasor” que era bom de “pegar” galinhas, mas era fraco na hora do pau, digo da briga. De repente, um silêncio! O galo Cocoricó dava sinais de cansaço. Seu pescoço estava se esvaindo em sangue, muita pena pelo chão e o galo Garnisé – o dono do pedaço – a cantar alto em bom som com ares de vitória. Como se não bastasse, ficou arrodeando a asa pelo chão, como que a dizer ao galo invasor: "se você brincar eu também de “como”. Filho da puta, esse Garnisé, pois havia comentários de que ele comia todo mundo, inclusive os frangos. O Cocoricó que sabia estar derrotado, não se fez de rogado. Saiu cambaleando e se evadiu sob as vaias das galinhas que torciam pelo Garnisé. Contudo, o que não se esperava aconteceu: “procissão” atrás do velho galo que, embora se esvaindo em sangue, ficou feliz quando olhou pra trás e viu aquela “romaria” das suas ficantes lhe seguindo. Elas cuidaram dele, fizeram unguento, bandagens, massagens e ainda lhe deram remédio para a garganta. O Cocoricó, diante da lição que passou entendeu ser a hora de retornar ao seu antigo terreiro. “Mas, como eu vou chegar no meu terreiro nessa situação”? Lá, certamente, deve ter outro galo me substituindo, pensou. Talvez o Rod Land mesmo sendo frango tenha tomado o meu lugar, pois hoje em dia até galo bissexual tá na moda", concluiu.
Cocoricó foi bem recebido de volta ao seu aconchego. Estranhou. Mas não contava que, de repente, um carro de som passasse anunciando que “o Cocoricó voltou”! Ele não morreu como todos pensavam! Foi então que ele entendeu que estavam lhe dando por morto. Para provar que não havia morrido, entrou no seu velho terreiro acompanhado de um monte de galinhas e pintos que lhe seguiram por medo da vingança do Garnisé. Provocou o maior frisson. Não contava o Cocoricó que Rod Land era quem, de fato, se constituíra no novo galo do terreiro. Quando Cocoricó viu a liderança do Rod, ficou pasmo. – Você quer me enfrentar seu frango safado? – Vou lhe enfrentar sim, seu galo velho sem vergonhas, respondeu Rod Land. Nesse furdunço todo, uma antiga galinha que não tinha se rendido aos encantos do Rod Land, puxou o cocoricó e lhe disse: “suma com suas putas, pois senão vocês vão morrer na tuia”! – Mas Rod Land não era frango? – Que frango que nada, agora ele come todas e ainda vai te comer se você não se for embora com essas raparigas! – Tudo bem, eu me vou, respondeu o Cocoricó, mas me diga uma coisa: eu comi esse frango Rod Land e não foi uma nem duas vezes. Como é que você me explica isso? – Pois explico: quando os pintos estão na fase de virar galo eles cantam iguais a nós, galinhas. Foi nessa fase que você pegou ele pensando que ele fosse galinha, mas não era. Hoje, galo feito, é bom de puleiro e dá conta de todas nós, inclusive de mim que sou ninfomaníaca! Diante dessa explicação surpreendente, o Cocoricó reuniu o seu fã clube que estava com ele por medo do Garnisé e se mandou. Discretamente saiu e foi fundar um novo terreiro em que ele pudesse cantar de galo sozinho e pra sempre. Mas na sua cabeça Rod Land era frango mesmo. Para não ficar com dúvidas acessou o Google e lá estava a curiosidade: “Frango – No geral, no Nordeste, é designativo de homem que gosta de homem”. A explicação era a mesma que lhe foi dada no seu antigo galinheiro. “Vivendo e aprendendo” disse o Cocoricó... Aprendeu que tamanho não é documento quando o Garnisé lhe quebrou no cacete; aprendeu que as aparências enganam, pois Rod Land era macho todo...