A FAZENDA SANTA GENOVEVA
A FAZENDA SANTA GENOVEVA
Já faz mais de três décadas.
Era uma região do norte do Paraná, onde a terra roxa, era propícia
para o plantio e cultivo do café.
Numa fazenda de mais de 200(duzentos) alqueires, vivia o Sr.
Genaro, sua esposa Sofia, seus filhos Batistin, Ângelo, Maurício e seus
netos Genarinho e Angelina.
Era uma fazenda de dar gosto.
Não havia nenhuma nesga de terra, que não estivesse plantada..
Era um cafezal maravilhoso e produtivo. Havia a paliada com
suas plantações de arroz, milho e até uns alqueires de pasto, eram
reservados para a criação de gado, que supria de carne e leite as
necessidades alimentares da fazenda.
Podemos afirmar que era uma fazenda considerada , por todos
verdadeiramente modelo.
Sua sede era ampla e muito bem construída, rodeada por varandas
onde todas as tardes, perto do anoitecer, Seu Genaro,e sua mulher Sofia,
para descansar da labuta diária, sentados em cadeiras confortáveis,
podiam dialogar sobre o sucesso que sua fazenda vinha apresentando.
Não descuidaram de oferecer aos seus colonos, casas modestas,
mas bem construídas, e podemos dizer, dignas para abrigar todos os seus trabalhadores.
Não podemos esquecer do riacho, que serpenteava pela fazenda,
que além de fornecer a água para mitigar a sede de todo o gado e,
como era ecologicamente bem preservado, fornecia aos domingos,
horas de lazer, com a pescaria que era bastante generosa.
Uma escola foi providencialmente construída, para não deixar no
analfabetismo, as crianças que lá viviam.
Uma professora vinha todas as manhãs, de um lugarejo distante
há mais ou menos 5 quilômetros, pedalando sua bicicleta, para
lecionar às crianças sedentas pelo aprendizado, suas aulas modestas,
mas repletas de entusiasmo.
Todos da fazenda se alegravam pois enquanto seus pais, com
as mãos na enxada, carpiam e derriçavam o café, seus filhos estavam
sendo alfabetizados, para serem, quem sabe, futuramente ricos e
portentosos proprietários de outros cafezais.
Senhor Genaro, italiano, forte, robusto e valente não media
esforços e ele, juntamente com o auxílio de sua mulher Sofia,e de
seus 3 (três) filhos, lavrava a terra colhia e, com sua costumeira
energia, orientava a todos para um aproveitamento total do solo,
acompanhados sempre com o entusiasmo e braço forte de todos
os seus empregados, que como eles, muito bem orientados, na arte
de bem produzir.
Assim viviam Seu Genaro, seus descendentes e o resto da
Colônia, vivendo pacificamente e colhendo os frutos do seu
trabalho árduo, mas promissor.
Numa tarde de setembro, quando seu cafezal,
esplendorosamente cobria-se de flores, como que lençóis brancos
estendidos sobre toda as plantação, e deixava estupefatos todos
que lá ocorriam; fui visitá-lo, dado a amizade que nutríamos pois
éramos da mesma terra natal: a Itália.
Passávamos horas tranqüilas, recordando felizes nossa terra de
além mar, trocando idéias e antevendo um futuro promissor que a
eles poderia estar reservado.
Novamente, ouvíamos com toda a emoção o relato fiel e
inesquecível de seu trabalho árduo e com muita simplicidade como
o faz um verdadeiro agricultor, revelou-nos todo o seu passado,
desde os primeiros dias, até quando adquiriu a fazenda com muito
esforço e coragem férrea de vencer.
Era sempre com espanto que ouvíamos todos os seus
relatos.
Começava com o desmatamento, quando na derrubada da
mata enfrentava cobras e animais peçonhentos de toda espécie, em
seguida, o plantio de mudas de café, quando lutava, igualmente
contra intempéries que não o desanimavam, pois com suas mãos
calejadas, ainda agradecia por tudo que até então havia adquirido.
Não esquecia, entretanto, das terríveis geadas, que
durante o inverno, ameaçavam de forma calamitosa, suas
verdejantes plantações de café.
Passava noites em vigília, rezando para todos os santos, rogando que
ela não chegasse, pondo em risco todo o árduo trabalho até então
realizado.
Pouco a pouco foi investindo em sua fazenda, adquirindo pôr
financiamento, no Banco do Brasil, maquinários necessários, para
conseguir um melhor rendimento de sua próspera fazenda.
Tulhas para armazenamento e secagem do café em grãos foram
construídas.
Terreiros para auxiliar na secagem do café foram ampliados.
Acompanhamos uma das colheitas que eram feitas, grão a grão,
escolhendo os já amadurecidos, para ser obtida melhor qualidade da
bebida.
Toda a safra era disputada com os melhores compradores, e jamais
teve dificuldades em colocá-las no comércio cafeeiro, pois a
qualidade de seus grãos e a boa bebida que deles era extraída, era
comercialmente conhecida e preferida..
Esta era a fazenda SANTA GENOVEVA, a melhor e mais
qualificada de toda a região.O ouro verde que brotava de seus
cafezais ,aumentava dignamente a riqueza do nosso querido Paraná,
engrandecendo ainda mais nosso majestoso Brasil. Tudo era devidamente planejado e milimetricamente executado. Entretanto, nem sempre pode o agricultor confiar na bondosa natureza, que às vezes , sem que o quisesse pegando-lhes de surpresa, e em conseqüência aniquilando todos os sonhos e empreendimentos, que há anos havia sendo acalentandos. Foi no inverno de 1.975 18/7, que a geada cruel e avassaladora destruiu todos os cafezais do norte do Paraná.
Quanto infortúnio!!! Em apenas uma noite de geada negra todos os
cafezais foram duramente castigados, destruindo em horas tudo o que em décadas, haviam conseguido.
Como eu lembrei, do Cafezal do Senhor Genaro, que fazia inveja à
todos os plantadores da região.
Os pés de café plantados em curva de nível, impediam aluviões que
podiam prejudicar fortemente o plantio.
Naquele ano de 1975, o inverno chegou ameaçador. Ainda não se
podia contar com previsões meteorológicas, que hoje alertam e
contemporisam desastres ecológicos.
A geada, finalmente, chegou fria e desastrosa e impunemente,
arrasou todo o plantio do café.
Ao amanhecer o Senhor Genaro, deprimido e desconsolado
percorreu toda a sua fazenda e pode constatar como ficou a sua
cultura de café, com uma mancha escura preta, cobrindo toda a sua
extensão, com a queima total do cafezal.
O QUE FAZER?
Eram incalculáveis os seus prejuízos. Seus financiamentos bancários
não podiam de maneira alguma ser cancelados e a colheita do café
era a fonte de renda para a devida amortização da dívida.
Infelizmente, desde aquela época, o protecionismo para a agricultura
continua nulo, desencorajando de tal maneira o agricultor, levando-o
A MAIORIA DAS VEZES AO ABANDONO DO CAMPO, e ao
célebre e famigerado ÊXODO RURAL ;quando procurando melhor
qualidade de vida, apinham-se em cidades maiores, vivendo grande
parte na marginalidade, criando as tristes favelas, e sofrendo na pele
a miséria, o desalento que aos menos protegidos lhes são reservados.
Seu Genaro, ao constatar o prejuízo de que sua fazenda fora vítima,
pela queima total do cafezal, retornou à casa triste e desolado. O
mundo parecia ter desabado sobre seus pés, e infelizmente, faltou-
lhe resistência psicológica, para que pudesse suportar a ruína que lhe
havia sido imposta.
Talvez não tivesse encontrado em seus familiares o apoio necessário
para que fosse amenizado tamanho infortúnio, uma vez que em todos
encontrou o mesmo desalento, aquele temor incessante que
contamina o nosso íntimo, impedindo-nos de olhando para o
horizonte poder ser vista a luz da esperança, voltando a brilhar pouco
à pouco, diminuindo todo o mal presságio, todo o inesperado fracasso.
Faltou-lhe sim um anjo amigo, protetor, que pudesse desanuviar de
sua mente conturbada,os tristes e maus pressentimentos.
E foi com imensa tristeza, e profunda dor, que soube da tragédia de
que foi vítima o Senhor Genaro; HOMEM TRABALHADOR,
HONESTO, que durante duas décadas havia formado o CAFEZAL
mais próspero do Norte do Paraná.
E foi assim que: Vendo seu cafezal dizimado pela fatídica geada e
sabendo que não poderia contar com a COMPLACÊNCIA do
financiamento bancário, desesperado: com um tiro fulminante, pos fim a vida.
Encontraram-no estendido no cafezal, ainda com resquícios de
lágrimas cristalizadas, que haviam vertido de seus olhos, antes do ato
TRESLOUCADO E CRUEL...
Página do 1º livro da autora Quando florescem os Cafezais
Curitiba/2002