O Mistério da Água de Coco




Calor da gota. Até os mosquitos padecem. Os bezerros berram em sinal de protesto. Ulpiano os conduz ao estábulo coberto, que tem um sistema de ventilação, água à vontade, ração farta. Zé Américo, esticado na rede, ronca. Como consegue dormir com esse calorão da peste, sei não! Jésus, esta hora, deve de estar rolando na cama com Marinêz.     Esse cabra não sossega o facho. O abestado Severino não larga mão de caçar tatu, acompanhado de Ozama, seu cão farejador. O sertanejo é mesmo um forte. Com um “solão” desse! Ele sabe que hora boa de caçar tatu é de noite. A pequena e acolhedora escola rural encontra-se fechada, sem a zoeira das crianças. Férias escolares.
   Ulpiano, Severino, Jésus e Zé Américo são meus sócios aqui em nossa pequena e promissora criação de animais dóceis. Sócios de verdade. Contrato registrado em cartório. Cada um recebe sua cota. Participação e socialização dos lucros. Tudo bem contabilizado. Coisas que aprendi com o mestre Paulo Freire. Jussara, professora dedicada aplica o método do mestre, que Deus o tenha. Ulpiano se assanha e se arreganha por ela, que se faz de besta.
Mas esse calor da gota serena! Eu vou é tomar uma ducha fria...
Antes, porém, conto o que sucedeu com o abestado Zé Américo em dia de chuva lascada de forte: temos aqui cerca de cem pés de cocos. Neste dia hilário olhamos com olhos arregalados Zé Américo subir até a copa de um pé de coco. Vigemaria home, com esta chuva, Zé quer beber água de coco? Perguntou Ulpiano com ar de troça. Bichim malucou de vez, completou Jésus.
   Ao descer, ele nos disse com a simplicidade lá dele:
  - Queria saber como a água da chuva faz para entrar dentro do coco.
  Caímos na gargalhada.



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