A velha mangueira e o jovem pardal
Numa fazenda, havia uma velha e majestosa mangueira, que se dizia que era muito sábia e a quem muitos pássaros que pousavam nos seus galhos costumavam pedir conselhos. Sabendo disso, um jovem pardal que pretendia viajar para longe resolveu pedir conselhos à grande árvore, porque era muito inexperiente e achava que seria bom ter alguma orientação antes de se aventurar no mundo.
Ao pousar num dos galhos, o passarinho começou, timidamente:
-Bom dia, senhora mangueira. Poderia me ajudar?
-Bom dia, meu filho. Terei o maior prazer em lhe ser útil.
-Eu quero viajar e conhecer um pouco do mundo, mas tenho medo de fazê-lo.
-E por que, meu filho?
-Porque sou muito ignorante.
-Ora, por que ter medo de usar as asas e o dom de voar? Não tenha medo de se aventurar. Viajando, você aprenderá muito.
-Mas será que não vou fazer besteira?
-Acredito que a maior besteira que você pode fazer é deixar de fazer o que quer, porque, no futuro, você pensará no que não teve coragem de fazer e se arrependerá.
-Senhora mangueira, eu queria me aconselhar um pouco com a senhora para ser um pouco menos ignorante antes de viajar.
-Entendo e terei o maior prazer em lhe aconselhar mas, antes, digo-lhe uma coisa: também sou muito ignorante. Há muitas coisas que eu não sei. Ninguém sabe tudo.
-Mas dizem que a senhora sabe muito.
-Meu filho, estou neste mundo há um bom tempo e tenho visto muito, mas ainda verei muita coisa. Nós estamos sempre vendo e aprendendo. O que eu não sei hoje, poderei saber amanhã, se eu o vir.
-É verdade que a idade nos torna sábios, senhora mangueira?
-Na verdade, nem sempre. Está certo que quem viveu mais viu mais, mas é preciso mais do que envelhecer para ser sábio. Deve-se ver e ouvir. Se eu não prestar atenção nem ver ou ouvir os outros, como aprenderei alguma coisa? Veja estas pedras: elas são mais velhas do que eu e, no entanto, não são sábias, porque são duras e frias. Não ouvem nem veem o que se passa ao seu redor.
-Muito interessante, senhora mangueira. Que mais a senhora pode me ensinar?
-Digo-lhe, meu filho, que faça sempre o bem a todo mundo. Não escolha a quem ajudar. Ajude quem estiver precisando.
-Sempre?
-Sempre. Todos devem fazer o bem e se ajudar. Veja aquelas formigas. No formigueiro, todos trabalham. Por isso a sociedade das formigas é tão organizada.
-Que mais pode me dizer, senhora mangueira?
-Digo-lhe que você nunca deve se achar tolo ou insignificante. Está vendo as plantas desta fazenda? Há lugar para todas, desde a menor ervinha até para uma árvore velha e grande como eu. E nenhum ser é inútil. Todo ser exerce sua função neste mundo.
-Que interessante, senhora mangueira. Agora, sinto vontade de voar e ver o mundo, mas dizem que há muitos perigos.
-Meu filho, há perigo em todos os lugares. Eu, aqui, posso ser atingida por um raio, morrendo de repente. E você é um pardal esperto e inteligente. Não tenha medo. Confie na sua capacidade de reconhecer o perigo e na sua coragem para enfrentá-lo.
-Muito obrigado, senhora mangueira. Vou agora mesmo começar minha jornada.
-Eu que agradeço por me ter dado a chance de ensinar o que sei. O que sabemos só tem valor quando é transmitido. Portanto, sempre ensine o que você sabe.
-Sim, senhora mangueira. Adeus.
-Adeus, meu filho.
Confiante, o jovem pardal abriu suas asas, jogando-se no ar para dar início a sua longa viagem.