Celi e o castelo de Adolfo.
Por Carlos Sena


 
Celi bateu a porta.
Por que Celi, você bateu? ...
E continuo batendo, disse.
Pois é: Celi bateu e eu tenho que me curvar: “celi bato”...

Dito isso, Celi foi morar no Castelo de Adolfo que fica na Serra de Santa Terezinha, na cidade pernambucana de Bom Conselho. Lá Celi vai viver de contemplação. Vai orar de manhã, meio dia e de noite vai encangar grilo para no dia seguinte azeitar o eixo do sol... Celi não é confrade, nem é comadre, tampouco confreira. Celi é clave. De dó, mas clave. Poderia ser de sol, mas nem tanto assim é. Com Clave ela se casa e pretende viver até o fim. No castelo de Adolfo a vida se esconde em si para se diluir em prece apressada em torno da fumaça branca. No castelo de Adolfo não haverá fumaça, exceto a da chaminé de lenha que queima avisando aos céus que dentro dele há réus. Lá fora há relva, selva que se perde no verde da colina. Algumas vezes Celi chega ao Castelo e Adolfo não está. Bato, diz ela. Mas ele não me escuta. Reza, reza e reza em busca de um pecado que não seja original. Lá no castelo de Adolfo, nem mesmo a reza precisa ser legítima, tem que ser do Paraguai senão não vai valer para subir ao céu, mesmo que seja da boca... No castelo tudo fica encastelado, inclusive o pelado prelado que prometeu não se casar, mas casou. Celi estranhou, mas ele disse que se casou... Ela ficou por ali pensativa na sala principal... Veio um criado mudo querendo lhe oferecer papa de maisena. Ela ficou sem entender, pois como entender um criado mudo? Pegou um cano e ameaçou meter no criado. Uma voz lá de dentro ecoou: “vai pro cano”, te esconde criado! O coitado em vez de ir ficou e se lascou dentro de um cálice bento. Oh Deus salve o cálice bento! Com isso a rotina do castelo ficou alterada. Pra piorar, o sino não batia, matraca não havia, a cobra não se escondia e a veia dizia: “ai meu deus se acaba tudo, tanto bem que eu queria. A véia debaixo da cama, a véia criava uma cobra. Na noite que se danava a cobra picava e a Celi dizia”... Mas não dizia. Preferia rezar um terço pra ver se as cobras fumavam o cachimbo da paz dentro lá dentro do cano. Cobras criadas, dizia Celi. Por isso eu bato. Bato e boto lenha na fogueira pra ver se há fumaça, porque desgraça pouca e bobagem...
Da lavagem cerebral só restava a Celi o “bato”. O “bato” do amor nunca gerato, o “bato” das masturbações imensuráveis sob os cobertores úmidos de sonhos vãos. “Fazer justiça com as próprias mãos” – eis a saída de Celi para suas fantasias noturnas e matinais. Mas, eis que uma fumaça branca se insurge no castelo de Adolfo. Fumaça de incenso, qual aquelas dissipadas pelo turibulo nos altares de todos os sacrifícios. Adolfo irrompe a sala. Celi se cala. Não bata, Celi. Disse Adolfo. Bato sim, disse Celi... E assim o celibato se esconde no castelo de Adolfo cercado de erês por todos os lados, de castos castiçais a clarear as sombras que os grunhidos das crianças em vão ecoavam... De repente o sol raiou e as fumaça branca se perdeu na copa das árvores que o castelo acasalam...