Remédio Milagroso
Minha irmã tinha dois anos de idade, quando foi acometida por uma doença estranha que a deixara muito mal. Sem forças, olhos parados, respiração difícil, ela nem se mexia. Meu pai que era farmacêutico tentou curá-la com seus remédios, mas logo verificou a ineficácia dos medicamentos. Minha mãe ficava a beira da cama rezando baixinho.
As pessoas chegavam para visitá-la, conversavam e tentavam ajudar em alguma coisa. Outras entravam, viam a menina deitada com os olhos semiabertos, parada como se estivesse morta, e, acabavam sugerindo algum remédio. Todas sentiam muita pena da minha irmã. Minha mãe pedia a Nossa Senhora do Perpetuo Socorro que salvasse a filha, que arrumasse um milagre e a tirasse daquela situação. Mas a menina não sarava.
A notícia de que um médico chegara à cidade acendeu a esperança de um tratamento, e pensando nisso ele foi chamado para examiná-la. Mas o médico disse meus pais que não tinha mais jeito e que não existia nenhum remédio para o caso da menina. Apoiada no berço minha mãe chorou feito uma condenada, e enquanto rezava olhando aquela criaturinha suada e inerte pensava no triste destino daquela criança que no início da vida já se encontrava frente a frente com a morte. Quando o suor escorria-lhe pela testa da menina, num gesto mecânico, minha mãe limpava-a com uma fralda sem encará-la, sem interromper a sua reza. Ninguém ouvia a oração, envolvido pelo choro. Meu pai ficava andando pela casa sem saber o que fazer. Ele que, como farmacêutico havia salvado muitas vidas, e naquele momento, não conseguia salvar a da filha. Sentia-se frustrado.
O Padre chegou, colocou no pescoço a estola; rezou por alguns minutos. Depois passou a mão pelos seus cabelos, esfregando um óleo na sua testa e com o dedo polegar fez o sinal da cruz como sempre fazia com os doentes. Diziam que os doentes sempre morriam depois que ele ia embora. Por isso, a partir daquele instante, todos esperaram o fim da menina, principalmente depois que o médico disse que já não havia mais nada a fazer.
Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo. Mas recordo-me claramente que quando um tio veio visitá-la e falou a minha mãe de um remédio chamado homeopático, ela ficou muito interessada. Muitas curas foram atribuídas a esses remédios, disse ele. informou-lhe que havia chegado na cidade um senhor de nome Euclides, que entendia de remédios homeopáticos, devia chamá-lo. Não custava nada tentar. O homem tinha também a fama de ser grande conhecedor de ervas medicinal; por isso era muito procurado.
Meu pai foi contra, não acreditava em homeopatia. Disse que era tudo uma bobagem. Minha mãe não desanimou, não deu ouvido a ele. E quando meu pai foi trabalhar na farmácia que ficava na casa do meu avô, ela foi procurar meu tio para levá-la ao homem que tratava com homeopatia. Meu tio a levou até a casa do homem. Conversaram por algum tempo. Depois ela voltou para casa com meu tio e Seu Euclides que trazia uma maleta cheia de medicamentos.
Ele a examinou e falou que sabia qual era a doença da minha irmã. Não disse qual, mas tirou um pequeno frasco da maleta. Com cuidado abriu a boca da menina e pingou algumas gotas. Embora, ela tivesse dificuldade para engolir, o remédio acabou descendo. Ele recomendou a minha mãe dar dez gotas de hora em hora.
Ela seguiu a risca a recomendação daquele senhor. Não sei quanto tempo se passou. Mas em poucas horas a menina voltou a dar sinais de vida. Foi bom vê-la respirando, um alívio para todos. E quando ela abriu os olhos e falou que estava com fome, todos riram, gritaram e agradeceram a Deus e a homeopatia.