A LOURA DO BONFIM
Belo Horizonte foi atormentada na década de 60, pelas aparições fantasmagóricas de uma mulher. Perambulava pelo centro da cidade e assediava os homens até conseguir que a levassem à rua Arceburgo, no bairro Bonfim, em direção ao cemitério de mesmo nome. Ali o destino da vítima estava lançado. Era encontrado morto ou por um milagre, conseguia fugir apavorado.
Como isto começou não há explicação, mas tornou-se uma comoção a ponto de se firmar como lenda. Investigações sobre o caso e os óbitos acontecidos na época, encorparam hipóteses para sua definição.
Uma das versões mais divulgadas, conta ter sido esta moça de compridos cabelos louros, assassinada por seu noivo, intentando casar-se com outra mulher. Enterrada, sua alma não teve paz e voltou para procurá-lo vingando-se de qualquer um em sua fúria. Para possibilitar-lhe o descanso eterno, alguém de coragem deveria aproximar-se o suficiente e tirar-lhe a aliança do dedo.
Eu era pequena ainda na época, mas vi o início destes acontecimentos e senti na pele o medo que se alastrou. Voltando para casa em um táxi com minha mãe, o motorista perguntou-nos sobre as tais aparições. Ela tentou desviar a conversa, mas com ânsia ele continuou...
Disse que uma moça deu-lhe sinal e ao entrar pediu que se dirigisse ao bairro Bonfim. Conservou-se calada a partir daí, com a cabeça baixa. Pelo retrovisor via que estava muito pálida e o que mais estranhou, descalça. Perguntou-lhe por várias vezes se estava tudo bem, mas não obteve resposta. Passando em frente ao cemitério, com voz gelada ela gritou que parasse e “atravessou” a porta do carro e o muro da necrópole.
Sua narrativa não era tranquila como de alguém que conta uma história, estava perplexo, havia agonia em sua voz como quem quer avisar a quantos puder ... "acreditem, é verdade, aconteceu comigo!"
Até hoje porém questiono como este homem simplesmente desconsiderou que ali havia uma criança. As palavras vindas da boca de um adulto, falsas ou não, eram tomadas como verdades. Fiquei dias perturbada com o relato, vendo ilusoriamente a aparição se concretizar à porta de casa.
Com o passar do tempo, os boatos foram diminuindo até cessar. Aos descrentes ficou a certeza de que tudo foi fruto do imaginário popular, aos outros a possibilidade de que a loura conseguiu sua vingança ou alguém muito corajoso tirou-lhe a aliança.
Mortuário entregue aos cuidados da lenda.