A LENDA DO JUDEU ERRANTE
Pelas ruas íngremes de um burgo imundo
Um condenado passa carregando a cruz.
Nas lanhadas costas leva a dor do mundo
Mas nos olhos claros brilha virtuosa Luz.
No entanto a força falta ao exausto corpo,
E seus joelhos dobram a cada passo dado,
É um pobre homem que está quase morto,
Mas a cada queda é ainda mais castigado.
Saiu um sapateiro, na porta da sua oficina,
Zombando dele disse com prazerosa ironia:
“Levanta-te profeta, cumpre logo tua sina”.
Jesus respondeu:“Eu vos digo, em verdade,
Que o meu sofrimento terminará neste dia,
O teu, Assuero, será por toda a eternidade.”
A Lenda
A Lenda do Judeu Errante é uma das mais significativas e curiosas metáforas já criadas pelo engenho humano para justificar uma ideologia. Ela conta que quando Jesus foi condenado e estava arrastando sua cruz pelos estreitos e imundos becos de Jerusalém, em direção ao Gólgota, o sinistro monte que parecia uma caveira, onde os condenados eram crucificados, uma verdadeira multidão de mofadores e carpideiras acompanhou o macabro cortejo pelas íngremes vielas da cidade. Isso era praxe. Naquele tempo, como hoje, as pessoas adoravam uma desgraça. Ver pessoas penduradas numa cruz, estrebuchando, era um espetáculo interessante, que todo mundo gostava de ver.
Assim, as donas de casa saiam á janela para ver os cortejos dos condenados e os comerciantes se postavam á porta de seus estabelecimentos para ver os pobres coitados, com seus dilacerados corpos, arrastando suas cruzes, caindo e lanhando os joelhos a cada queda sobre as pontudas pedras do calçamento.
Próximo á porta Genath, também conhecida como Porta Oriental, por onde se saia da cidade em direção ao Gólgota, havia uma oficina de sapateiro pertencente a um sujeito chamado Assuero(ou Asheverus, na tradição latina). Diz a lenda que ao passar em frente á oficina dele, Jesus sofreu uma de suas muitas quedas em direção ao patíbulo. Assuero, ao olhar para Jesus e ver que ele já estava quase sem forças para levar a pesada cruz, zombou dele com ironia, mandando que se levantasse e saisse logo da frente da sua oficina. Jesus, olhando para ele teria dito, naquela forma tão peculiar que ele usava para profetizar: “Em verdade, eu vos digo, Assuero, que meu sofrimento terminará hoje, mas o teu há de durar até que eu volte.”
Assim, o sarcástico sapateiro judeu se tornou o judeu errante, indivíduo condenado a viver para sempre, enquanto durasse o mundo, até a volta de Jesus, no fim dos tempos.
Essa lenda já foi objeto de várias versões e tem rendido muita literatura e cinema. Dizem que ela é muito antiga, tendo se originado a partir de um relato de um Bispo, que ao prestar testemunho da sua fé no Concílio de Nicéia, em 325 e.C. ( quando o cristianismo foi entronado como religião oficial do Império Romano) afirmou conhecer uma testemunha viva do martírio de Jesus. Essa testemunha, que seria um sapateiro, ou tanoeiro(curtidor de couro), que vivia em Jerusalém na época, teria visto a passagem do cortejo em frente á sua oficina e por algum motivo não confesso, Jesus teria profetizado que “ele iria ficar no mundo até a volta dele”. Esse dito de Jesus é que seria, inclusive, usado mais tarde pelo cronista evangélico para cunhar a famosa lenda do apóstolo imortal, que supostamente seria João.
A lenda correu mundo e inspirou muitos contos e tradições, sendo encontrada em todos os lugares algumas versões do Judeu Errante. No Brasil ela foi trazida pelos portugueses colonizadores, onde algumas histórias populares afirmam que o tal judeu imortal viveu em Pernambuco, no tempo do domínio holandês. Houve quem dissesse que ele foi visto na época da mineração do ouro, chorando sangue diante de uma igreja num dia de Sexta-Feira da Paixão. De vez em quando ele reaparece em algum lugar do mundo profetizando desgraças e um final apocalíptico para a humanidade.
A História
Na verdade, a lenda do judeu errante é uma ficção literária, criada provavelmente por ativistas anti-semitas alemães, com claras intenções ideológicas.Historicamente ela aparece a primeira vez em um panfleto apócrifo com o título Kurtze Beschreibung und Erzählung von einem Juden mit Namen Ahasverus (que pode ser traduzido como “Um Breve relato de um judeu de nome Ahasverus), o qual foi impresso em Leiden em 1602 por um tal de Christoff Crutzer, que nunca foi identificado.Provavelmente trata-se de um pseudônimo de um ativista anti-semita, coisa muito comum nos estados alemães da época, onde o preconceito contra os judeus já era bastante acentuado.
Na verdade, esse preconceito já vinha de longa data, desde os tempos em que o Império Romano se esfacelou e a cultura grego-romana foi substituida pelo cristianismo. A aversão contra os judeus, como “matadores de Cristo” era uma tradição cultivada pelos
povos cristãos, e mais se acentuou durante a Idade Média quando os
judeus praticamente dominaram o comércio, a indústria e as atividades
econômicas na Europa, em face da própria idiosincracia do clero católico, que taxava essas atividades como pecaminosas. Assim, todo o dinheiro foi parar nas mãos dos judeus, que eram considerados como usurários, egoístas, agiotas etc.
No século XVII cerca de oito edições desse panfleto foram editadas, transformando o Judeu Errante numa das mais conhecidas lendas do século. Logo ela se espalharia por todos os países da Europa, sendo editada em praticamente todas as linguas européias. Juntamente com as lendas do Graal e as aventuras de Pedro MalasArtes, ela se tornou um verdadeiro cult pelos literatos da época.
A questão ideológica
Da mesma forma que os famosos Protocolos de Sião, falso documento forjado por grupos anti- semitas para justificar as perseguições que estavam sendo feita aos judeus em fins do século XIX e começo do século XX, a Lenda do Judeu Errante é claramente uma metáfora que visa inculpar o povo de Israel pelo sofrimento e morte de Jesus, criando contra esse povo uma animosidade que dura séculos e até hoje ainda não se resolveu. Pois judeu errante é o próprio povo de Israel. Essa lenda quer dizer que a profecia de Jesus se cumpriu, pois o povo de Israel, cerca de três décadas depois da morte de Jesus foi expulso da Judéia pelos romanos e se tornou um povo errante pelo mundo. Só em 1948 o estado de Israel foi reconstituído, mas hoje os judeus são tantos pelo mundo, que o território de Israel não comporta uma população tão grande. Boa parte dos conflitos que ocorrem no Oriente Médio tem como origem esse fato. Dessa forma, a maldição de Jesus contra os judeus continua sendo cumprida e só será levantada no dia em que ele voltar e for reconhecido pelos judeus, finalmente como o Messias das profecias.Essa é mais uma prova de que a loucura humana não tem limites e quando quer cria as mais imaginosas fantasias .
Pelas ruas íngremes de um burgo imundo
Um condenado passa carregando a cruz.
Nas lanhadas costas leva a dor do mundo
Mas nos olhos claros brilha virtuosa Luz.
No entanto a força falta ao exausto corpo,
E seus joelhos dobram a cada passo dado,
É um pobre homem que está quase morto,
Mas a cada queda é ainda mais castigado.
Saiu um sapateiro, na porta da sua oficina,
Zombando dele disse com prazerosa ironia:
“Levanta-te profeta, cumpre logo tua sina”.
Jesus respondeu:“Eu vos digo, em verdade,
Que o meu sofrimento terminará neste dia,
O teu, Assuero, será por toda a eternidade.”
A Lenda
A Lenda do Judeu Errante é uma das mais significativas e curiosas metáforas já criadas pelo engenho humano para justificar uma ideologia. Ela conta que quando Jesus foi condenado e estava arrastando sua cruz pelos estreitos e imundos becos de Jerusalém, em direção ao Gólgota, o sinistro monte que parecia uma caveira, onde os condenados eram crucificados, uma verdadeira multidão de mofadores e carpideiras acompanhou o macabro cortejo pelas íngremes vielas da cidade. Isso era praxe. Naquele tempo, como hoje, as pessoas adoravam uma desgraça. Ver pessoas penduradas numa cruz, estrebuchando, era um espetáculo interessante, que todo mundo gostava de ver.
Assim, as donas de casa saiam á janela para ver os cortejos dos condenados e os comerciantes se postavam á porta de seus estabelecimentos para ver os pobres coitados, com seus dilacerados corpos, arrastando suas cruzes, caindo e lanhando os joelhos a cada queda sobre as pontudas pedras do calçamento.
Próximo á porta Genath, também conhecida como Porta Oriental, por onde se saia da cidade em direção ao Gólgota, havia uma oficina de sapateiro pertencente a um sujeito chamado Assuero(ou Asheverus, na tradição latina). Diz a lenda que ao passar em frente á oficina dele, Jesus sofreu uma de suas muitas quedas em direção ao patíbulo. Assuero, ao olhar para Jesus e ver que ele já estava quase sem forças para levar a pesada cruz, zombou dele com ironia, mandando que se levantasse e saisse logo da frente da sua oficina. Jesus, olhando para ele teria dito, naquela forma tão peculiar que ele usava para profetizar: “Em verdade, eu vos digo, Assuero, que meu sofrimento terminará hoje, mas o teu há de durar até que eu volte.”
Assim, o sarcástico sapateiro judeu se tornou o judeu errante, indivíduo condenado a viver para sempre, enquanto durasse o mundo, até a volta de Jesus, no fim dos tempos.
Essa lenda já foi objeto de várias versões e tem rendido muita literatura e cinema. Dizem que ela é muito antiga, tendo se originado a partir de um relato de um Bispo, que ao prestar testemunho da sua fé no Concílio de Nicéia, em 325 e.C. ( quando o cristianismo foi entronado como religião oficial do Império Romano) afirmou conhecer uma testemunha viva do martírio de Jesus. Essa testemunha, que seria um sapateiro, ou tanoeiro(curtidor de couro), que vivia em Jerusalém na época, teria visto a passagem do cortejo em frente á sua oficina e por algum motivo não confesso, Jesus teria profetizado que “ele iria ficar no mundo até a volta dele”. Esse dito de Jesus é que seria, inclusive, usado mais tarde pelo cronista evangélico para cunhar a famosa lenda do apóstolo imortal, que supostamente seria João.
A lenda correu mundo e inspirou muitos contos e tradições, sendo encontrada em todos os lugares algumas versões do Judeu Errante. No Brasil ela foi trazida pelos portugueses colonizadores, onde algumas histórias populares afirmam que o tal judeu imortal viveu em Pernambuco, no tempo do domínio holandês. Houve quem dissesse que ele foi visto na época da mineração do ouro, chorando sangue diante de uma igreja num dia de Sexta-Feira da Paixão. De vez em quando ele reaparece em algum lugar do mundo profetizando desgraças e um final apocalíptico para a humanidade.
A História
Na verdade, a lenda do judeu errante é uma ficção literária, criada provavelmente por ativistas anti-semitas alemães, com claras intenções ideológicas.Historicamente ela aparece a primeira vez em um panfleto apócrifo com o título Kurtze Beschreibung und Erzählung von einem Juden mit Namen Ahasverus (que pode ser traduzido como “Um Breve relato de um judeu de nome Ahasverus), o qual foi impresso em Leiden em 1602 por um tal de Christoff Crutzer, que nunca foi identificado.Provavelmente trata-se de um pseudônimo de um ativista anti-semita, coisa muito comum nos estados alemães da época, onde o preconceito contra os judeus já era bastante acentuado.
Na verdade, esse preconceito já vinha de longa data, desde os tempos em que o Império Romano se esfacelou e a cultura grego-romana foi substituida pelo cristianismo. A aversão contra os judeus, como “matadores de Cristo” era uma tradição cultivada pelos
povos cristãos, e mais se acentuou durante a Idade Média quando os
judeus praticamente dominaram o comércio, a indústria e as atividades
econômicas na Europa, em face da própria idiosincracia do clero católico, que taxava essas atividades como pecaminosas. Assim, todo o dinheiro foi parar nas mãos dos judeus, que eram considerados como usurários, egoístas, agiotas etc.
No século XVII cerca de oito edições desse panfleto foram editadas, transformando o Judeu Errante numa das mais conhecidas lendas do século. Logo ela se espalharia por todos os países da Europa, sendo editada em praticamente todas as linguas européias. Juntamente com as lendas do Graal e as aventuras de Pedro MalasArtes, ela se tornou um verdadeiro cult pelos literatos da época.
A questão ideológica
Da mesma forma que os famosos Protocolos de Sião, falso documento forjado por grupos anti- semitas para justificar as perseguições que estavam sendo feita aos judeus em fins do século XIX e começo do século XX, a Lenda do Judeu Errante é claramente uma metáfora que visa inculpar o povo de Israel pelo sofrimento e morte de Jesus, criando contra esse povo uma animosidade que dura séculos e até hoje ainda não se resolveu. Pois judeu errante é o próprio povo de Israel. Essa lenda quer dizer que a profecia de Jesus se cumpriu, pois o povo de Israel, cerca de três décadas depois da morte de Jesus foi expulso da Judéia pelos romanos e se tornou um povo errante pelo mundo. Só em 1948 o estado de Israel foi reconstituído, mas hoje os judeus são tantos pelo mundo, que o território de Israel não comporta uma população tão grande. Boa parte dos conflitos que ocorrem no Oriente Médio tem como origem esse fato. Dessa forma, a maldição de Jesus contra os judeus continua sendo cumprida e só será levantada no dia em que ele voltar e for reconhecido pelos judeus, finalmente como o Messias das profecias.Essa é mais uma prova de que a loucura humana não tem limites e quando quer cria as mais imaginosas fantasias .