Poder de Destruição

Uma criança  porta uma arma carregada. Ela não sabe o perigo daquilo que tem nas mãos, e não imagina o dano e a tristeza que pode causar ao apertar o gatilho. Tem uma arma de fogo entre as pequenas mãos, e não conhece sequer o alvo, pois para ela, tudo não passa de uma brincadeira. 

Mas é uma brincadeira mortal. Aqueles a quem ela atinge com sua arma, podem virar vítimas fatais, ou podem ficar muito feridos.

Assim aconteceu com a mulher que morava na casa em frente a minha. Dizem que ela tinha uma arma carregada , e que a mantinha escondida sob o travesseiro, esperando poder usá-la um dia contra aqueles que ela considerava seus devedores. Enquanto estava sendo vigiada, ela foi capaz de mantê-la durante anos às escondidas, para que ninguém percebesse; mas um simples descuido, uma mudança de situação, e de repente, ela se viu com a arma nas mãos e uma enorme vontade de atirar para todos os lados. 

Subiu ao último andar do prédio, e começou a descarregar a arma, irresponsavelmente. Pensava que tudo seria como nos filmes, que a realidade fosse apenas tão impermeável quanto a tela da TV que assistia, e que as balas, na verdade, não pudessem causar tantos danos assim.

Muitos foram atingidos por suas balas perdidas, e alguns pereceram. A energia descontrolada, que permanecera represada durante todos aqueles anos em que teve que carregar aquela arma consigo sem poder atirar, finalmente teve vazão. Morte e destruição foram o resultado de sua infantilidade.

Alguém me disse, após o massacre, que o invejoso é como uma criança mimada, e que ele  é sempre insaciável; mesmo que o invejado o presenteie com aquilo que ele mais deseja, ele não conseguirá ficar satisfeito, e sentir-se-há humilhado pela dádiva que lhe foi feita; continuará infeliz, desejando ainda mais, ou seja, querendo absolutamente TUDO o que o outro tem, e mesmo que o consiga, sua sede jamais diminuirá. Porque falta-lhe ele mesmo; o invejoso, o ressentido, tem um vazio dentro de si que nada nem ninguém poderá preencher.

Após o masacre, o final da história será sempre o mesmo: muita dor, destruição e ranger de dentes. Mas a pior parte, será aquela em que o invejoso será obrigado a limpar a sujeira que ele mesmo causou, exatamente como a criança que precisa arrumar o quarto após a birra. Porque ele terá que recolher o resultado da   sua destruição. Terá que absorver em si o sangue que derramou. Sofrerá, e mesmo assim, talvez nem sequer compreenda que toda a destruição que o rodeia, foi causada por suas próprias atitudes. Tentará encontrar um culpado. Tentará fazer alguma coisa que diminua sua culpa.

Será tarde demais. Sempre é tarde demais.


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 25/12/2012
Reeditado em 31/07/2015
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