En búsqueda de Borges

O cego caminhou pelas ruas, sem ver aquilo que Borges não via.

Não viu o movimento nos cafés, nem a mais larga avenida do mundo, nem os edifícios antigos, nem o obelisco, nem a estátua de San Martin; não viu o Aleph, os dançarinos de tango, os peleadores de faca, nem os heróis de outrora; não viu as bandeirolas azuis e brancas, nem os passeadores de cães, nem a Florida inchada de gentes; não viu labirintos, espelhos, o Mesmo ou o Outro, similitudes ou tigres.

Buscou Borges nas esquinas, nas mesas das cafeterias, nas bibliotecas, nas linhas e nas entrelinhas, porém, não o encontrou.

A semelhança que ele sempre cantou era mentira; só havia diferença e passar dos anos. O cego não o encontrou, pois aquele se escondeu atrás do esquecimento do tempo.

Buenos Aires era alheia a ele.

De resto, somente um nome e uma reputação.