Sanidade crua
 
 
Tantas falas nas salas do meu corpo, na pele esfarrapada, no eu dilacerado de aparência intacta que não demonstra os fogos ardentes que me atingem, perante a dificuldade extrema de respirar algum ar que não seja manchado, restando-me somente o desejo de desprezar a lógica e correr pra bem longe da camada absurda... O sangue tingido pelos sintomas dos mecanismos está vivo e presente, cobrando dividas que não fiz e nem mesmo sei como pagá-las, por isso o oco se abre cada vez mais esparramando a sanidade no chão de espinhos em meio aos gritos de incompreensão, e as gotas da chuva não conseguem acalmar a pulsação feroz que corrói as veias racionais na penetração ferrenha sob terríveis choques psicóticos onde tremo, tremo quase inconsciente na fervente racionalização... É melhor ser este rio que rir de si deixando a dor escorrer e sair correndo junto à enxurrada que empurra os garranchos das inexplicáveis flechas que entram sem permissão e se fincam nas raízes do miolo que em seguida evaporam por todos os rumos e imediatamente atingem outras ramificações também danificadas... Ativada a razão plena nada de tentar fugir das turbulências, pois talvez a fuga só ocorra quando da inércia insubstituível onde somente os vermes sobrevivem na famigerada secura de saborear os restos humanos. Porém, do além aqui ainda não se tem os conjuntos teóricos contundentes no terreno da prática possível de ser comprovada como fuga tranquilizante, sim, existe diversas especulações, todas pautadas no campo da cegueira proposital ou necessária para que não se decline de vez mediante a falta de concretude nas rochas que são incapazes de responder e sustentar o edifício, afinal, como sustentar o equilíbrio de um edifício desequilibrado? Não há o pleno e a sede insiste que se deve inventar o não inventado não para dar ao outro, mas para suprir a própria fome que dilacera as tripas famintas... E tanta ânsia flutuante pesa e o peso atira a matéria em constantes esmos atrás de antídotos com milagrosos poderes. Desse modo, mobília-se a casa com utensílios e amores perfeitos e toda a natureza se combina num casamento como descrito somente na ilusão da perfeição, só que inevitavelmente chegará o instante de se recolocar no cenário fatigante e real, e outra vez será preciso ficar de frente pra si, então os cacos do espelho ardem na pele dilacerada que mancha com marcas de sangue os tapetes importados do piso da sala estranha, e o estranho não sabe o que está fazendo, ou o porquê faz o que não quer fazer. E cansado do circo conclui que é urgente o fim da mentira esfarrapada, é chagada a hora de olhar a maquinaria evidente e aceitar o fracasso sem essa de esconder embaixo da pele as sujeiras reais, nada de tirar fotos sorrindo pra não mostrar a verdadeira face feia que fala palavrões, nem vestir máscaras para não se expor aos riscos graves almejando se adequar às convenções, é necessário esquecer de vez as ilusões e não acreditar na inocência, pois a jogatina não para nunca; nunca mesmo, ela vive e se alimenta nos sorrisos sarcásticos dizendo que seu vírus já estar demais alastrado e não há mais como conter, e com audácia, a bactéria afirma que a única e mais saudável saída é comprar as ações e pensar em lucrar sendo um acionista maior, ao invés de querer inventar substâncias capazes de curar os malefícios. Sem saída possível, eu ardo nas chamas da verdade que arde em meus miolos que se recusam entender ser nada mais que um inútil desgraçado sem o direito de encontrar a porta do labirinto. E olho para as feições desse medíocre contaminado que pensa ser o dono do mundo quando não é mais que um doente desequilibrado que cambaleia dia e noite sem o domínio de si, e ainda é capaz de se achar o rei do sistema, desconhecendo a própria e verdadeira identidade forjada que veste. Tudo bem! Tudo bem! Esse ignorante tem os olhos presos apenas ao chão que pisa e por isso não pode enxergar além dos limites de sua pequenez, e como um palhaço grita palavras incoerentes, e mediante a plateia não ser perspicaz, aplaude o espetáculo vazio e continua vazia, e as pessoas vão para as suas residências com sorrisos nos rostos se sentindo dignas de serem o que realmente são compreendendo serem o melhor que se pode ser mesmo pisando no outro perante o egoísmo que evapora longe de ser singelo e transparente. Agora chega, chega de colaborar com o tráfico doentio, chega de fazer de conta que está tudo bem ao não querer perceber a evidência dos fatos, deixa que eles sigam matando suas fomes com alimentos podres, porque eu vou andar na desordem sem temer os símbolos e os códigos artificiais, pois cada minuto que se passa sou menos eu no meio de todas essas tralhas e desses olhares astutos que são nada mais que os reflexos da nociva calamidade dos milênios... Sei que este despertar é um perigo, pois poderei ser exterminado pelas armas de plantão que matam, matam impiedosamente em nome do ético e precário funcionamento da constante ineficiência dos mecanismos, no entanto, para mim basta; basta de ser este mero fantoche deste arquitetado espetáculo delirante...
Valdon Nez
Enviado por Valdon Nez em 27/11/2012
Reeditado em 10/05/2013
Código do texto: T4008017
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