O fato que passo a relatar causou-me muitos arrepios pavorosos, até porque nunca fui uma pessoa de coragem, embora tenha morado na fazenda até os 09 anos de idade e escutados estórias de assombração, almas penadas, etc. Que é intrigante isso é sem dúvida, aqui nas Minas Gerais, na região onde fui criado, fazenda Riacho da Raiz,  presenciei um fato também muito inusitado; estava eu, meu irmão mais velho Vicente Carlos (Tatau), os primos Celimar Simões e José Lucimar e o amigo Ronan, onde estávamos passando final de semana, na casa de uma boa senhora que era conhecida por todos por "Dona" e seu filho Simeão.
   Como não havia energia elétrica, a luz era somente de lamparinas a querosene, bem à moda da roça mesmo, assim conversávamos até altas horas da noite antes de lavar os pés para dormir (costume dos sertanejos).

     Pois bem, era uma noite bem quente de verão, ficamos sentados conversando sobre todos os assuntos, cada um lembrava uma história e partilhava com riqueza de detalhes, todos bastante falantes e de repente vimos um clarão no alto, de frente a casa, até parecia que estava chegando um carro na fazenda, mas tudo bem silencioso. A luz foi se aproximando da casa e o nosso medo e curiosidade eram tanto, pois alguns dizem que é um pote cheio de ouro que alguém havia enterrado, ou alma penada, ou curupira, etc.
     O certo é que saímos de encontro àquele "clarão" que parecia dia em plena noite escura, todos nós cada um com uma arma para se defender, um facão na cintura e outro em punho, uma faca virgem, alguns dentes de alho, caso fosse preciso exorcisar algum espírito mal, e com bastante medo, mas determinados,  íamos aproximando do ponto que a cada vez se distanciava da gente, num dado momento, desapareceu por completo e ficamos perplexos, mas quando olhamos para trás, lá estava a enorme LUZ, parecia que estava encima de um "pau-terra" arvorezinha típica do cerrado, na beira do caminho, onde teríamos que passar quando fôssemos retornar para casa.
     Aí meu amigo, confesso que o medo multiplicou, foi tanto que a solução encontrada por nós, para não dar de cara com a tal "luz" estranha e inexplicável foi dormir junto aos bezerros, que estavam apartados num curralzinho na frente da sede principal da fazenda, que segundo os ancestrais o gado expulsa todos os tipos de falsos espíritos, ao contrário dos porcos que os atraem.

    Ficamos por lá até amanhecer o dia, e a luz foi se enfraquecendo com os primeiros raios da aurora e o mistério nunca foi desvendado. Quando o sol saiu por completo, fizemos um arrastão nas áreas onde a tal luz estava e nada de diferente descobrimos.
     Recentemente, a história se repetiu, hoje já com outros proprietários, a casinha velha foi destruída e construída mais à frente no alto, pois essa antiga era bem no barranco do córrego Riacho da Raiz, que quando chovia e suas enchentes transbordavam suas águas, lavava todo o quintal que era rico de árvores frutíferas, de um canavial e um bananal.
     Que é estranho isso ninguém pode negar, explicar de fato o que é, ninguém ainda foi capaz, o certo é que eu não estava sozinho e todos testemunharam o fato, não era como nos causos que o contador pode ir se adaptando de acordo com a atençao dos ouvintes. Isso aconteceu COMIGO, ou melhor, CONOSCO.


Dedico in memorian de:

Dona "Dona" e seu filho Simeão Pacheco, Ronan Mariz, Sr. Nino (contador de estórias e benzedor) e dona Nina sua espôsa, que eram vizinhos e ao Sr. Libório e dona Anália (proprietários anteriores do sítio). Esse fato verídico ocorreu nos idos do ano de 1989.



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POETA NUNES DE SOUZA
Enviado por POETA NUNES DE SOUZA em 09/11/2012
Reeditado em 22/10/2018
Código do texto: T3977015
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