Memórias de um sonho antigo
Foi uma sensação estranha. Repentinamente percebi que me encontrava em um ambiente que mais parecia uma sala, mas não uma sala comum e sim bem diferente de qualquer lugar que já estive. Uma espécie de sala sem paredes. Melhor dizendo, parecia não ter paredes, pois eu tinha a clara noção de que o ambiente era limitado, mesmo que não fosse pelas sólidas paredes que qualquer ambiente comum apresenta. Era algo meio fluorescente, sem superfície, não era redondo nem quadrado, oval ou triangular. Não possuia forma e, sendo assim, poderia ser uma sala ou não ser nada. Mas nada não era pois eu estava ali, limitado e condicionado àquele ambiente sem portas nem janelas juntamente com os estranhos elementos que logo descreverei. Se nada houvesse no interior daquela sala - sim, insisto em dizer sala pois é a coisa mais próxima da realidade que eu posso comparar - teria a sensação de estar no meio do nada ainda que limitado por algo, pois não poderia ir a qualquer lugar. Não estava flutuando, eu podia caminhar normalmente como se eu estivesse sobre uma superfície plana.
No que parecia ser o centro da sala vi um busto sobre uma mesa coberto por um tecido. A mesa parecia ser oval e só podia ver suas pernas já que também estava coberta por um tecido. Não me recordo bem a cor dos tecidos, mas sei que eram de cor neutra e idênticas em ambos os tecidos. Era capaz de ver a base do busto, que escapava ao tecido que o cobria. Mas a sua face estava muito bem oculta e eu senti uma vontade enorme de desvendá-lo. Além de estar oculto aos meus olhos, o busto estava sendo protegido por um indiozinho, um pequenino curumin, que, com o seu rosto inteiramente vendado por um pano vermelho que cobria desde a sua testa até o seu queixo, circulava sem parar ao redor da mesa num ritmo constante.
A cena vista era a mesma de outras vezes, mas desta vez não me contive e ignorando a presença daquele pequeno curumim avancei em direção ao busto e num movimento só puxei o tecido que o cobria. Ao ver aquela face desnuda que se revelava aos meus olhos, senti um choque na alma impossível de descrever. Era o busto de um homem careca e com semblante severo e, não obstante ser uma imagem artificial, seu olhar era tão real, intenso e austero que ao fitar-me diretamente nos olhos, deixando-nos face a face, senti um choque tão intenso e, sofrendo o impacto de uma espécie de raio arrebatador lançado diretamente sobre mim, cai de costas no chão. As minhas pernas juntas uma das outras, impulsionadas pelo tombo se projetaram para o alto completamente esticadas enquanto eu via algo ainda mais inusitado. Minha mãe juntamente com minha irmã surgindo naquele ambiente poucos metros atrás do busto apelando para que o mesmo me deixasse em paz e não me fizesse mal algum. O indiozinho sumiu. De repente não vejo mais nada, meus olhos cerraram-se. Abro os olhos, sinto que acordei. Vejo minhas pernas ao alto, esticadas, eretas e cobertas por um lençol. Percebi rapidamente e intuitivamente que naquele momento encontrava-me deitado sobre uma cama num quarto de hotel que me era tão familiar. Minhas pernas precipitaram-se sobre a cama, ainda estou em choque. Meus olhos cerraram-se juntamente com minha consciência.
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