O Mistério da Foto de Aniversário

Inglaterra, Londres.

Na casa da família Smooth:

Era comum ver a criança brincando sozinho num canto da sala, enquanto a mãe estava na labuta do lar, ou vendo um pouco de tv.

Adell, tinha seis anos, estudava num único turno, numa creche próximo de sua casa; raramente era visitado por um amiguinho da vizinhança. Os seus pais eram muito protetores, temiam o conflito natural que existiam entre as crianças - ganhava muitos presentes. Caixas e mais caixas com brinquedos: carrinhos, bonequinhos, pistolinhas de luzes,um forte inteiro com soldadinhos de chumbo. Certa feita, Adell brilhou nos olhos, sorriu, com a chegada de um casal, amigos dos seus pais, trazendo a tiracolo três filhos de idades similares ao garoto Adell. Uma visita que, enfim, lhe roubou da solidão que vivia.

Entusiasmado, o pequenino, sendo simpático pediu a sua mãe todas as caixas - ficaram diante de um mar de brinquedos de todos os tipos e cores, formatos. Enquanto, os pais papeavam em outra cômodo, junto à lareira. Tomavam vinho com queijo.

Maggi escolheu os bonequinhos, pois, estes lhes lembrava as suas bonecas, brinquedo de menina. Will, um dos seus irmãos ficou com os carrinhos, Whitt ficava com um brinquedocolorido, ou outro - o divertido mesmo era correr pra ca e pra la com Adell - podia se ouvir o riso dos dois, os gritos de intensa afinidade. Quando ocorria uma queda, o outro se espantava, e com solidariedade o ajudava a se levantar - e , logo começavam novas correrias. Os pais de Adell passaram a tarde toda tendando conter a euforia do filho, o casal de amigos, também, não conseguia - estava instalado ali, um improvável parque infantil.

- Minha nossa, como brincam essas crianças, la em casa são quietos , e tímidos - gostaram do seu filho. Como ele se chama, mesmo?

-Adell, uma homenagem ao seu avô ja falecido. Ele é tão solitário, coitado. Mudamos, agora para ca, e não sabemos de vizinhos, por aqui que tenha filhos na idade deles.

- Por isso tem tantos brinquedos?

- É, mais ou menos, tenho pena do coitadinho. A única oportunidade de relacionamento social, com gente de sua idade é na creche, estuda pela manhã.

Na hora da despedida era visível a tristeza dos três em se despedir de Adell. Este segurava nas mãos dos amiguinhos, como se quisesse impedir que se fossem, deixando-o sozinho.

- Mama, fica com eles..fica, mama, não deixe ele irem...

- Não posso, filho. Eles vão ter que ir com os seus pais, outro dia eles voltam.

O coração da amiga apertou, em sentir tão apego, pareciam irmãos, ou que ja se conheciam a muito tempo, não aconteceu o ciúmes dos brinquedos, e os conflitos que no geral, acontecem entre crianças, muitas vezes resultando em agressões físicas - um tapa no rosto, um empurrão. Adell soube compartilhar os brinquedos, com graça.

Maggi, Will, Witth, três irmãos,oito, seis e sete anos. Adell tinha seis anos, era esperto e inteligente, sem amigos. Caso se pudesse sentir o aperto no coração de Adell na despedida, o sofrimento era de dimensão desmedida para o coraçãozinho de uma criança solitária.

O choro foi inevitável - abriu o berreiro quando os amiguinhos estavam saindo de sua casa, acompanhados pelos pais - que eram de amizade recente da família, colegas de trabalho do pai de Adell - um advogado introspectivo, adido de longas leituras-adorava livros de romances - tinha todos os clássicos possíveis que pudesse adquirir, e colocar na vasta estante, após devorá-lo em leituras cansativas e duradouras. O ensaio “Metamorfoses — Poema de Gertrud Kolmar, que dizia,em verso: “Quero envolver a noite em mim feito manto quente”,era uma leitura obrigatória. No fundo, a mãe de Adell era, também, uma solitária.Tinha os livros Memórias Póstumas de Bras Cubas- do ano de 1881-de Machado de Assis,O Ateneu,de 1888,de Raul Pompéia,Vidas Secas,de 1938,de Graciliano Ramos,Fogo Morto,de 1943 de José Lins do Rego,mais Grandes Sertão Veredas,de 1956,de Guimarães Rosa. Havia saído do trabalho para cuidar melhor do filho, acompanhar a sua infância.E ler estes livros-nunca teve o devido tempo.

O casal se despediram, fariam uma viagem longa, por toda a noite. Lilith e o seu esposo restavam indo visitar a mãe dele.

Acalentado pelo sua carinhosa mãe, Adell entendeu a separação dos amiguinhos. Foi levado para o banho, e logo depois estava junto com os pais fazendo a refeição noturna. Depois viu uma sessão de desenhos . Acompanhava os personagens do desenho animado, soltava gritinhos, batia palmas - sua mãe ficou tranquila, observando que ja não sofria pela despedida.

Uma semana depois.

Era comum ver Adell falando com os brinquedos. Certo dia, a sua mãe o observou sair correndo pela cozinha, foi até outra dependência assim, como se estivesse brincando com outra crianças. Falava, ria e corria. Dizia: " agora eu, você não me pega.." - e saia correndo.

Era preocupante para sua mãe, vê-lo conversando sozinho num dos cantos da casa. Estendia o braço oferecendo determinado brinquedo a um amiguinho invisível. Por dias, semanas, Adell se comportava desta maneira, deixando a sua mãe muito preocupada. Tomou uma séria decisão: o pediatra.

- Fique tranquila, não ha nada demais nisso - é muito comum, crianças solitárias, e até mesmo, as que possuem vida social intensa terem um amiguinho invisível.

- Mas, dr. é muito intenso, os diálogos, as brincadeiras, é como se ele estivesse brincando com muitas crianças.

- Fique tranquila, ele está bem de saúde. Mas, não pode ter uma infância solitária, é preciso que o leve para uma praça pública, um parque para que possa o menino ter uma vida social, conhecer outras crianças - conquistar amizades.

O pai de Adell não era uma pessoa sociável, preferia os livros aos vizinhos - crianças em sua casa, nem pensar. Queria ter o silêncio para suas leituras. Era advogado, mas sempre teve a pretensão de ser um escritor, escrever romances para jovens leitores -assim, sendo não largava dos livros.

Enfim, uma data comemorativa, festiva. Era a semana do aniversário de Adell. Ganharia mais brinquedos, e talvez tivesse uma festa feliz. A sua mãe, resolveu lhe dar uma festa bem movimentada. Foi na creche, convidou a escola em peso, os coleguinhas de sala e de outras . A festa seria numa área vasta da casa. A decoração seria impecável.

Foi o dia mais feliz de Adell, o garoto solitário. Com pesar, a sua mãe lhe respondeu quando perguntou :

- Mama a festa foi muito boa, te amo, que festa linda. A Maggi tava com um vestido lindo, o Will vestido de branco e o Witth tava com uma flor na mão e me pediu pra te dar, será que eles vão voltar?

O coração de sua mãe sentiu um aperto." Estaria o seu filho desenvolvendo problemas psiquiátricos?" - indagava-se.

O casal havia falecido num acidente de carro na estrada, ninguém havia escapado. Os seus amiguinhos estavam mortos: a garotinha Maggi, os seus irmãos Will e o Witth. O acidente foi na noite da visita - o seu marido lhe dera a notícia com frieza, era assim a sua personalidade. Um gelo de pessoa.

A sua esposa estava ansiosa, esperava receber algo, então a campainha da casa tocou. Era o fotógrafo.

- Querido, querido, venha aqui, por favor. O fotógrafo trouxe as fotos da festa de aniversário do nosso filho. venha ver, venha ver uma coisa.

Berrava a mãe do menino, assustada.

O pai ficou pasmo, pensou tratar-se de uma brincadeira de mau-gosto, talvez. Ficaram por alguns momentos, estáticos, assustados com aquele mistério.

- Mas, quem brincaria com tal coisa, querido, e outra, as roupas dos garotos falecidos-são festivas - Têm a gravatinha borboleta que foi distribuída para todos os convidados.

A surpresa foi grande, um grande mistério, inexplicável, até, quando as fotos revelaram os amiguinhos falecidos sorrindo junto do menino participando da festa, ao lado de Adell numa felicidade que so as crianças possuem. Onde Adell estivera na festa, ali estavam os amiguinhos invisíveis ao seu lado, rindo, brincando e participando com alvidez no seu aniversário.

Depois daquele dia, os pais se tornaram pessoas mais sociáveis. Adell era levado para praças, parques, circos e teatros. Pique-niques, onde sempre conhecia muitos amiguinhos e amiguinhas, tinha até uma namoradinha - a filha do casal Maltlgomery, de seis anos, quase sempre o visitava, ficavam juntos na piscina de plástico brincando na água. Adell adorava a água, adorava estar entre muitas outras crianças, e ja pedia aos pais um irmãozinho para lhe fazer companhia, para sua surpresa, sua mãe estava com suspeita de mais uma gravidez.

Naquela noite, Adell, após um dia tão feliz foi acordado por um amiguinho, so que este era diferente, bem diferente. Sentiu os dedos longos e pesados tocando no seu rosto. Instintivamente, olhou para a janela do seu quarto, estava aberta, pensou: " minha nossa, um ladrão."

O garoto, assustado, tentou gritar: -mãeeee....

Mas, silenciou, logo em seguida. Quando ouviu os cumprimentos:

- Boa-noite...

- Oi...amiguinho.

- Boa-Noite

Ali, estavam, também, Maggi, Will e Witth - não foi surpresa sua avistar mais dois convidados : os seus pais, também, falecidos no acidente.

Adell estava atônito, e feliz, confuso - não sabia se chorava ou se ficava feliz. Pensou em gritar pelos pais, mas a paz ali reinante era tamanha, que o seu ser se acalmou, como se estivesse entre os vivos.

Os três amiguinhos, após um aceno de consentimento do senhor de barba, de túnica branca.

- A gente ta bem, amiguinhos, la onde gente ta é bonito, tem muitas flores, um jardim lindo e outras crianças pra gente brincar.

Disse Maggi, com entusiasmo.

- A gente queria te levar com a gente...

Falou Will.

- Mas, ele não deixa, diz que você ainda vai ter muito tempo por aqui.

E, assim, permaneceram por longos minutos. Até que o senhor de barba longa, vestido com uma roupa de alvura louvável, se manifestou:

- Os seus amiguinhos não vão mais poder te visitar. Eles vão seguir o caminho deles. Saudades e lembranças Adell. Aproveite a vida conquistando muitas amizades, lembre-se que uma boa amizade vale mais do que qualquer brinquedo. quando crescer, lembre-se de que amigos valem mais do que dinheiro. Seja bom com seus pais, seja obediente e compreensivo, nem sempre os adultos entendem as crianças. Não fale para os seus pais de nada que viu, aqui.

Após, longos abraços, inclusive dos pais dos seus amiguinhos, Adell retornou para a sua cama. O senhor de longa barba branca tocou na sua testa, logo após este toque o menino adormeceu. Os cinco sairam pela janela flutuando. O casal de falecidos deixou uma flor na cabeceira da cama dos pais de Adell. O rosto da amiga foi beijado, antes de irem embora.

- Querido, obrigado pela flor.

Disse a sua esposa, ao encontrar a rosa branca.

- Que rosa?

- Nossa, será que foi o Adell, esse menino, não sei, não...Quem tinha o hábito de me dar rosas brancas era o meu pai.

- O seu pai, o avô do nosso filho?

-Sim.

FIM

Nota do autor:

Este conto é baseada numa história real, acontecida com uma família inglesa. A história da foto é real. E muitas são as histórias reias de fantasmas que visitam amigos e parentes, e se deixam filmar e fotografar.

Segundo a Doutrina Espírita, a criança ao desencarnar, logo é socorrida, sendo conduzida para colônias, onde, sem sentirem o choque do desencarne, vivenciam á infância, até atingirem uma idade hábil para ser informada do seu desencarne prematuro. Tanto, podem visitar os pais, como os pais são tirados dos seus corpos e levados para visitá-los, manifestando-se esta vivência espiritual, como sonhos- muitas dessas visitas não são lembradas, quando retornam para o corpo de matéria densa, porém, o conteúdo da visita permanece no subconsciente dos pais, dando conforto e paz de espírito. espíritos podem fazer o teletransporte de objetos-muito comum em cirúrgias espirituais- e de plantas, flores. Os espíritos envolvem os objetos, ou plantas em substância espiritual que permitem tal ação, tornando-as invisíveis, depois visíveis.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 07/10/2012
Reeditado em 09/12/2017
Código do texto: T3921074
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.